terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Postagem nº 70

... não sei se volto mais este ano por aqui. Então Feliz 2009 para todos/as.

Como revi, acho que 10 anos depois, ontem "central do Brasil (em choro convulsivo e arquejante)...

Não desejo para todos uma entrevista com DAVID LETTERMAN, mas o ápice de seus objetivos... como Ferandinha.

Feliz 2009... merecemos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Praia priatizada...


(Por do Sol na Praia do Futuro... último sábado).

Depois...

(Lucy in the sky...)
Frequência Beatles. ConchAAcústica da UFC LO-TA-DA....



(All we need is love...)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz natal para todos/as

“Quando dou esmola aos pobres dizem que sou santo. Quando denuncio as causas da pobreza me chamam de comunista!” — Dom Hélder Câmara



Onde andarão homens como este?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

REISADO SOB ÁRIDA LUZ:

Matin-Barbero ao analisar o pensamento de Walter Benjamim em seu livro clássico “Dos meios às mediações”, afirma que o escritor alemão possibilitou que desfrutássemos do cinema como uma arte que permite ver não tanto coisas novas, mas outras maneiras de ver velhas coisas e até a mais sólida cotidianidade.

É desta cotidianidade encarnada em nosso imaginário que fala o espetáculo: “Folguedo” encenado pelo coral da Universidade Estadual do Ceará. Embora não seja cinema e nem restritamente teatro, mas dialogando com essas duas linguagens, o grupo põe em tela alguns dos “nossos” folk tales como: o cantar anasalado das carpideiras; o boi; a tal molecagem dita “cearense”; o ritmo peculiar de “nosso” maracatu, etc.
Como meu ouvido é muito pouco apurado, deixo a crítica das interpretações para os experts. Contudo, apenas como expectador/pesquisador muitos elementos da montagem me chamaram a atenção:


Primeiramente é interessante perceber como, talvez inconscientemente, o grupo canta naquele espetáculo as complicadas relações de gênero que perduram em nosso estado. Vale ressaltar: o Ceará é a unidade da federação onde mais se matam mulheres. Não, não há nenhuma violação à lei Maria da Penha na apresentação. Contudo percebi ali a representação de relações de poder vivenciadas em nosso cotidiano de forma mais tênue, sub-reptícia, tão naturalizadas que quase imperceptíveis. No espetáculo, talvez propositalmente, as mulheres não possuem a fala. Estão alheias ao ato de nomeação, expressão, ou individualidade, são vozes dispersas e coletivas: são o coro. Todas as características “solo” estão prioritariamente ligadas às intervenções masculinas. Ao gênero feminino resta, a multidão, a ausência de especificidade e de certa forma a invisibilidade. Isso não quer dizer que elas estão “mudas”, ou resignadas no espaço privado, afinal elas estão bebendo cachaça e presentes em quase todos os momentos. Mas nunca como indivíduos, sempre como multidão. Até os personagens inanimados possuem mais destaque que elas: o boi, o burrinho, etc. Não estou dizendo aqui que esta seja uma falha do espetáculo, muito e pelo contrário, é uma interessante tradução e “captação” de nosso dia-a-dia, especialmente no Cariri, mas não somente lá. Tanto é verdade que a única mulher com certas características de individualidade é a mulher do “pai Tomás”. Et Voilá! Veja só, nem nome ela tem, sua identidade social é estabelecida não a partir de seu ser social, mas a partir de sua filiação matrimonial a um elemento do sexo masculino: antes de tudo ela é “a” esposa Nada mais brasileiro que isto, para aprofundamentos vide Roberto da Matta e seu hoje clássico ensaio “A casa e a rua”. E o espetáculo põe em pauta brilhantemente estas relações.

Algo que senti falta, se fosse este o objetivo, seria a percepção de como essas mulheres ocupam espaços de resistências mesmo dentro desta relação velada de dominação de gênero: como se dão suas lutas e influências difusas, mesmos no espaço privado, da “casa”. Mais uma vez reafirmo, isto não é um “erro” do espetáculo, afinal este fala de um Folguedo, que se dá prioritariamente no espaço público, “da rua”. Contudo instiga não ver as franjas do poder, as margens ali presentes embora não especificamente tematizadas.

Sobre a interlocução com as tradições, não conheço a fundo “o” sertão. A narrativa do espetáculo me pareceu moderníssima no sentido de tentar conduzir distanciadamente estes elementos que habitam nosso imaginário. Explico: durante a apresentação fiquei tentando “captar” qual era a intenção da obra. E percebi que esta se pretende ser uma espécie de “tipo-ideal” webberiano, no sentido de apreensão e tradução de características gerais daquele fenômeno: o folguedo. Tento explicar de outra forma: uma tradição não está solta e estática no ar. Ela se reinventa com elementos da contemporaneidade. Nunca esqueci por exemplo, de uma foto de uma romaria de Juazeiro onde uma velhinha enrugada carregando uma pedra na cabeça é conduzida por um rapaz vestindo uma camisa Adidas. O espetáculo Folguedo não se propõe realizar este diálogo com a contemporaneidade, o que acho pertinente e da ordem de escolhas metodológica, embora, haja sempre, inevitavelmente, a fissura e transbordamento do atual na linguagem. Ele seria aquele “tipo-ideal” que se atém às características que se pretendem gerais e relativamente estáveis. Entretanto durante o espetáculo me veio a preocupação da necessidade de se firmar aquelas celebrações como “um olhar” sobre “as” culturas cearenses e não “a” cultura cearense. Escrevi sobre isto em um post mais abaixo.

(o boi)
Aspectos outros: como relatei no post abaixo, é muito gratificante ver uma obra de arte caprichada e com produção responsável. Diante das agonias de se tentar fazer qualquer coisa nova, fora da ordem, dentro da UECE, vemos surgir resistências como esta. Ninguém nem nada mata a criação. Nem os quatro anos que se passaram de gestão desastrosa que enterrou na lama aquela Universidade, a minha Universidade.
Mas viremos a página e falemos de coisas boas: os figurinos caprichados, os adereços muito simpático com destaque para as almas: talvez um dos elementos ousados e pós-moderno da narrativa. No sentido de se fazer uma interpolação entre o pesado tema da morte e as cômicas cabeças de isopor das almas flutuando. Ponto para o espetáculo. Foram desses elementos que eu senti falta, e esta é uma interpretação muito pessoal (pois, mais uma vez fica claro que não era este o objetivo), elementos nas narrativas que mostrassem os “andaimes”. Mas mais uma vez estou falando aqui da recriação e apropriação que o espectador faz da obra. A arte é o momento da ousadia, um dos poucos espaços, nesses tempos de Capitalismo mundialmente generalizado, onde (ainda) é possível criar. O espetáculo cria.

Dos anseios: supérfluo dizer que a luz é fundamental num espetáculo. Lembro-me de Ricardo Guilherme improvisando uma leitura dramática no auditório central da UECE (Ah, a UECE) em meio a dois retroprojetores. A luz é a alma. “Folguedos” me lembrou aquela luz. Crua, como diz Cabral de Melo Neto: “mais que seca, calcinada”. Apenas com alguns respiros, como no momento da morte do Boi. Vermelho. Fora isso a Luz é o sertão, a aridez invariável sem aleluias, como nesses dias quentíssimos de final de ano. Talvez as limitações orçamentárias não permitam um trabalho mais consistente desses aspectos, o que também não chega a ser um erro crasso, mas deixa aquele gosto de que a apresentação poderia voar mais alto, mais alto, mais...

Destaques: A interpretação do bêbado. Nada caricatural. Eu só retiraria uma fala: “C* de bêbado não tem dono”. É redundante, supérflua e como tal, já está subtendida. Ademais eu também retiraria improvisação (?) sobre o aspecto fálico da bengala pois parece deslocado, pelo menos para mim.
No mais o show está por aí. Existe vida na UECE e janeiro vem vindo: Folguedos.

Há sempre uma coisa ausente que me “Artaud-menta”

Fui ontem conferir Camille Claudel no “Pausa Dramática” do Dragão do mar.

Em tempos de orelhas e orelhas, como “discuto” no post anterior, é muito prazeroso ver um trabalho que ao transbordar intuição não deixa de lado o rigoroso processo de imersão no Ethus do personagem trabalhado. Abandonando cronologias, o tempo da peça é o tempo da criadora-intérprete. E diluída no meio das falas esculturalmente trabalhadas vi surgir aquela velha conhecida sentença: “há sempre uma coisa ausente que me atormenta”.

Obviamente o texto fala de “loucura”; intolerância; criação; talento e sobretudo “solidão medonha”. Entretanto, nada óbvia é a abordagem de atriz. Em diversos momentos do espetáculo (apesar de ter sido apenas uma leitura dramática) a atriz recria cenas de esculturas de Camille. Interessante também saber que muito do que é dito é criação da autora mas com um tom de escrita todo próprio da pupila de Rodin. Et Voíla! sem parecer caricatural. Excelência somente atingida pela dedicação de nove árduos anos de labuta em cima da artista plástica mantida durante trinta anos (e morta) pela “igualitária”, “fraternal” e “libertária” sociedade francesa.
Transcrevo a seguir trechos de uma crônica do Caio F. sobre aquela sombria frase:

EXISTE SEMPRE ALGUMA COISA AUSENTE
Paris [...] Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. [...] Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis,[...] — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”,feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da le dela Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.
Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.
Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , [...]. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.
Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.
O Estado de S. Paulo, 3/4/1994

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sinal dos tempos:


*Fórmula 1 anuncia corte de 30% nos gastos.

*Presidente do PCdoB diz “A população Brasileira exige o terceiro mandato de Lula”. (Mamar, mamar, mamar nos cargos públicos de confiança... esse vício brasileiro).

*Atenas, antigamente considerada a capital mais segura do mundo, completa 1 semana de “distúrbios”.(a crise entra pelas adjacências)

*Madonna chega ao Brasil. 14 anos depois. (...)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os aleluias e as agonias da pesquisa no Brasil.

Tenho sido chamado para avaliar trabalhos submetidos em alguns congressos, bem como participado de outros tantos apresentando as minhas próprias pesquisas. Uma das coisas que pode ser concluída dessa experiência toda é que cada profissão/ campo da ciência produz um habitus todo próprio (Oh, novidade!) com seus aleluias e suas agonias. Persiste uma diferenciação muito peculiar que pude constatar na comparação entre as ciências sociais (antropologia, sociologia e ciência política) e as “ciências” sociais aplicadas (comunicação, serviço social, etc.): mesmo com todos os avanços, ainda é possível constatar a hipertrofia da reflexão “teórica” de um lado e do outro a confusão entre projeto de pesquisa e projeto de intervenção.

(as dificuldades de ser pesquisador no BR: e ainda nem falei de financiamento)

Nos congressos de ciências sociais tenho presenciado uma hegemonia das “etnografias”. Entretanto, a maioria daquelas pesquisas são expostas com muita descrição e pouca interpretação ou crítica. Ou seja, as descrições não eram, nos termos de Geertz, densas, mas sistemáticas. E, por conseguinte, pouco interpretativas.

Os problemas das “ciências sociais aplicadas” são de outra ordem: nos eventos do Serviço Social o grande impasse da produção científica parece ser a apropriação (imatura) do marxismo como esquema explicativo fechado e pouco criativo (note-se que estou falando da “apropriação” que é feita e não das reflexões de Marx), o que denotam caminhos e projeções seguras e livres de contradições, desdizendo o próprio marxismo. Outra vertente diz respeito aos relatos de experiências profissionais, o que, não raras vezes, transformou as sessões de apresentações em socialização de angústias técnicas e não de reflexões minimamente distanciadas.

Não estou defendendo aqui a “volta” de uma suposta “ciência positiva”, objetiva e neutra (que na verdade nunca existiu). Contudo é interessante perceber que nas chamadas “ciências sociais aplicadas” persiste essa dificuldade de certo distanciamento, ou como dizia Bourdieu, “controle das bias” em relação ao que se está estudando. Esta tese, para mim, se confirmou quando participei ainda este ano do XXXI Congresso Brasileiro de Comunicação e percebia a dificuldade dos pesquisadores em delimitarem estes campos: o da investigação e o da intervenção. Mais uma vez afirmo que não estou dizendo que esta linha esteja bem traçada e que seja possível uma disjunção entre ambas. Mas o que se apresenta complicado é exatamente o fato desta questão não ser devidamente problematizada nesses eventos, revelando que as “bias” (embora nunca totalmente controláveis) não estão sendo nem mesmo percebidas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Agora organizar a vida e a publicação...


"caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar."
- Vallejo

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Eu deveria cantar...

"A complete life may be one ending in so full identification with the non-self that there is no self to die." Bernard Berenson

domingo, 7 de dezembro de 2008

É amanhã...

Epígrafe da dissertação:

"Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia." (Caio F.)

Políticas culturais e juventude: tensões e mediações construindo o jornalismo estudantil.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Brasil, Brasis II

Presença da imprensa, edição caprichada, autores de todas as regiões do país. O lançamento do primeiro volume da Coleção “Meios e Mediações” na última quinta à noite pode ser considerado um marco de socialização das produções contemporâneas nas áreas de cultura e comunicação.
(Alexandre, o Barbalho - de branco - autografando livros)
O local escolhido não poderia ser mais sugestivo: no espaço cultural da ONG Alpendre (um dos pontos de cultura do Ceará que trabalham com arte-mídia). Regado por um bom vinho e (surpreendentemente, porque geralmente lançamentos são um saco) um público bacana, muitos-alguns conhecidos, ouvimos as palavras do organizador do livro, coordenador da coleção, (meu orientador e xará): Alexandre, o Barbalho. Depois veio Márcia Vidal (coordenadora do PPG em Comunicação da UFC) e leu um texto muito semelhante àquele que pode ser encontrado nas orelhas da obra recém lançada. Transcrevo umas partes:

A propostada coleção ‘meios e mediações’ resulta desse estado da arte dos estudos da comunicação no Brasil, com sua proposta editorial de publicar livros coletivos que reúna, pesquisadores de todo o país que estejam refletindo sobre os processos comunicacionais em suas interfaces com outros campos sociais[...] O que comprova seu volume inicial ‘Brasil, Brasis: identidades, cultura e mídia’ ao abordar um tema tão central na contemporaneidade: as expressões culturais brasileiras em suas relações com a mídia. E a partir de múltiplos e privilegiados olhares, de norte a sul, do centro-oeste ao nordeste. Agora é apreciar a leitura e esperar pelos próximos volumes”
A suposta construção da “cearensidade” via Iracema, o cinema produzido na Amazônia, a urbanidade do Rio-megalópole e os centros tradicionais de Cultura Gaúcha são temáticas ali trabalhadas.

No mais, estarei no segundo livro da coleção que se chamará “mídia e cidadania”. Volto ao assunto. Por enquanto fica assim:

Livro: ‘Brasil, Brasis: identidades cultura e mídia’ (Vol. I da coleção “meios e mediações”).
Organizador: Alexandre Barbalho
Editora: Edições Demócrito Rocha
Valor médio: R$ 30,00

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Drops Lispector - Neruda

Clarice Lispector: Diga alguma coisa que me surpreenda.
Pablo Neruda: 748.
(E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números).
[...]
C.L.: Que acha da literatura engajada?
P.N: Toda literatura é engajada.

C.L.: Qual de seus livros você mais gosta?
P.N: O próximo.

Em busca de Dulce Veiga: uma via sacra profano-virtual – Parte I

Relatos da minha peregrinação cibernética, via-crúcis virtual, o meu caminho em busca de Dulce Veiga. (1ª à 10ª estação)

1ª estação: Em orelhas.
Foi assim que Dulce Veiga apareceu para mim: Em orelhas. De livros, obviamente, Nelas estavam impressas a irremediável pergunta: onde andaria aquela mulher? E mais que isso: quem era aquela mulher? Pelo Blog do traças S/A eu teria acesso ao primeiro capítulo. Mas o início do romance de Caio Fernando Abreu não dava nenhum indício de resposta. Estamos em 2006 e o livro está fora de edição.
2ª estação: Ansioso,
vou consumindo outros escritos de Caio. Quando no meio de “Pela noite”, encontro a cantora originária de Passo da Guanxuma dentre diversas artistas:
“Remexeu nos discos sem vontade, Caetano, Gal,[...] Marina, acariciou a capa de um Erik Satie, Silvia Telles, continuou mexendo, João Gilberto, Ray Charles, Dinah Washington, Elis, várias Elis, Dulce Veiga, Nina Simone, Ângela Rô-Rô,”
3ª estação: A vida segue,
conformada e sem Dulce, porque seria praticamente impossível achá-la nos sebos daqui.
Mas numa desprenteciosa tarde de julho de 2007, entre os corredores de uma livraria, a reedição me encontraria. Leio na contracapa azulada que a obra “foi [foi? no passado?] levado às telas, sob a direção de Guilherme de Almeida Prado”. Como assim? Quando?
4ª estação: festival de cinema em Fortaleza.
Tarde de terça-feira, com o meu “Dulce Veiga” debaixo do braço sigo para Fundação de Cultura da minha cidade – FUNCET. Motivo: uma palestra com Guilherme de Almeida Prado e Richard Paker. O diretor se mostra acessível e a discussão gira – fora do previsto- em torno da vida de Caio F. Guilherme avisa ainda que o filme só teria estréia nacional próximo ano. Através dele fico sabendo também que o personagem Pedro fora suprimido da trama porque, com ele, o filme ficava “datado” demais. Na saída do auditório o cineasta me revela que o melhor romance de Caio é a coletânea de cartas e que
“Geralmente ele me detonava nelas” – Disse Guilherme.
Aproveito a deixa e peço para ele autografar a carta dele anexada ao final do romance. Veja:
Saiu eufórico. Um dia relato toda aquela tarde. Mas agora interlúdio:
(Os meses passam e “como um Godot que não chega nunca”- palavras do Caio- espero Dulce Veiga.)
5ª estação: Solidariedade e movimento-sem-Dulce-Veiga
Pela internet encontra-se um expectante grupo de leitores de Caio F. à espera da “estrela que sobe”. São Vladimirs e Estragons desamparado. Migalhas são lançadas às margens da estrada: soltam um trailler na internet, uma exibição perdida em uma mostra de cinema em São Paulo, raras entrevistas na tv. Cobro de Rafael Franco (produção de lançamento). Ele diz que há um problema com a distribuidora e me recomenda ler um livro do Caio enquanto não estréia. Aceito resignado o conselho e leio “limite Branco” na virada do ano 2007-2008. Nem sinal de Dulce.
6ª estação: A premonição
Via e-mail um colega sessentão-comunista-ex-guerrilheiro-do-araguaia brinca dizendo que Dulce Veiga foi pra Amazônia, abriu uma ONG e está envolvida na questão da reserva ambiental: raposa serra do sol (é este o nome?). Fico chocado. Como ele sabia que Dulce estava na Amazônia?
7ª estação: Chega de novo o Festival de Cinema de Fortaleza
Um ano se passa. Estamos em Setembro de 2008 e “Onde andará Dulce Veiga?” abrirá o II For Rainbow. Novamente com Guilherme de Almeida Prado que fará as honras e apresentará o filme. Expectativa? Ansiedade? Êxtase?
Não.
Naquela sexta-feira, justo naquela sexta-feira, eu estava em Natal- RN, no Congresso Brasileiro de Comunicação, apresentando um trabalho. Impossível descrever a frustração. Nem a Belíssima visão da Praia de Ponta Negra da janela do meu quarto me consola. Mas havia sempre um conto de Sônia Coutinho por perto para consolar e estimular e dar idéias. Natal, mesmo sem Dulce Veiga, foi Pérsio e Santiago.
8ª estação: A estréia nacional. Nacional?
Dulce Veiga tem estréia nacional em outubro. Críticas pipocam nos sites dos grandes jornais. Mas a película não chega por aqui. A essa altura o meu exemplar autografado já está rodadíssimo.
9ª estação: Boas novas
A estréia é anunciada para dia 31 de outubro. Tensão.
10ª estação: Nova boa nova
Muito próximo da data a estréia é adiada para a metade de novembro. Os horários das sessões são impraticáveis. Decido ir para a do dia 01/12 às 10:45 da manhã.
Atenção: As 11ª e 12ª estações serão relatadas mais à frente. Elas são mais elaboradas e se chamam respectivamente “Engano” e “Encontrando Dulce Veiga”.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Finalmente Dulce Veiga...

Finalmente assisti na última segunda-feira o, há 17 meses por mim esperado, "Onde andará Dulce Veiga?".

Volto para comentar como é difícil avaliar um filme onde vc, de certa forma, esteve tão ansioso e na expectativa. Posso adiantar que o único erro grave, para mim, foi ter fundido Filemón com Patrícia. Nada a ver. No mais destaques para as interpretações-canastronas [maravilhosas] de Nuno Leal Maia (Rafic), Cristiane Torloni (Lyla Van) e, em menor grau Oscar Magrinei (Alberto Veiga .

Sem falar que Carolina Dickerman conseguiu imprimir uma certa simpatia-fragilidade, que eu não tinha vislumbrado no livro, à roqueira Márcia Felácio.

Volto, mas dessa vez eu volto, para comentar. Por enquanto faço minhas as palavras de Giselly Fleury:

Onde andarão histórias como essa?

Primeiro você começa achando pretensioso, não se conta uma história em sete capítulos, não se encontra alguém em uma semana, não se faz mais literatura como antigamente. Então você percebe que a pretensão, na verdade, chama-se genialidade, que uma semana é tempo mais do que suficiente para encontrar a si
mesmo e que a literatura, realmente, não é mais como antigamente.

[...]
Onde andará Dulce Veiga? é a maior prova de que o nada existe, de que podemos ser felizes, de que todo mundo pode um dia se achar e de que a boa e genial literatura brasileira só não é lida porque não é conhecida. E se alguma destas frases acima te tocou de alguma forma, corre e leia este livro. Você terá sete dias para mudar sua vida.

Original do site: http://www.cornflakepromises.hpg.com.br/dulceveiga.htm

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Trilha sonora para o fim do ano...

Minha companhia nessas últimas madrugadas digitadas na reta finalíssima do ano...

Sangue novo:



Thiago Pethit... o moço vai ficar disfônico de tanto tocar no PC, quem manda ele fazer um trabalho tão bom e de apenas 6 músicas?


Serviço:

EP: "Em outro lugar"

Para compar:
São Paulo - Capital
Garimpo + Fuxique - Rua Bela Cintra 1677
Teu é o Mundo - Alameda Tietê 43 - loja 12

Outras Cidades e Regiões
Envios por correio, valor do cd (R$ 10,00) + taxa de envio a ser consultada.
Prazo normal de entrega: 10 dias da postagem, que será efetuada após a comprovação do pagamento.
Pedidos e consultas através do email: thiagopethit@gmail.com

PARA ouvir na net: www.myspace.com/lepethitprince

Sangue bom:
re-re-descobrindo Nina Simoni:

my baby just cares for me...

Se Sylvia Plath é sempre um mal estar... Nina nunca, nunca é demais...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Jeanne Caligari comenta minha "anti-resenha"



(Alexandre escreve sobre o perfil de Caio. Faz comparações que eu não tinha me dado conta, como uma semelhança entre o livro e a obra de Michael Cunningham, As Horas. Adoro o livro, adoro o filme, adoro o autor, então acho que é bom, né?)


Só recentemente soube que Jeanne Caligari comentou em seu blog a anti-resenha que escrevi sobre o perfil que a jovem escritora de Uberaba produziu sobre a vida de Caio F.


Então ficam as dicas:

O Blog da autora: http://jeannecallegari.wordpress.com/2008/07/


O meu texto publicado no overmundo: http://www.overmundo.com.br/banco/primeira-biografia-de-caio-fernando-abreu-uma-analise
E o principal, o livro:

CAIO FERNANDO ABREU: INVENTÁRIO DE UM ESCRITOR IRREMEDIÁVEL
Autora: Jeanne Callegari
Editora: Seoman
Quanto: R$ 28 (192 págs.)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fernanda Takai encerrando a bienal do Livro.

(OK o post tá atrasado, mas vai aí)

Final de abril, aeroporto Pinto Martins, Fortaleza, manhã após a minha qualificação do mestrado (terminei! terminei!), eu estava embarcando para apresentar parte da pesquisa em Salvador. Na anti-sala de embarque passa, súbito, por mim um vulto muito branco. Não reconheço de cara, mas sinto um burburinho ao meu redor, as pessoas com aquela cara, assim, meio “normal, vejo esse tipo de gente todo dia... normal”. Outros se encolhendo nas poltronas azuis ao mesmo tempo em que falam para seu interlocutor do outro lado da linha “È a vocalista do Pato fu!”. Sim, o vulto muito branco era Fernanda Takai. Ela e banda haviam feito um show na noite anterior na concha acústica da UFC. Não precisei nem girar o pescoço 45º para ver uma outra figura, um tanto antipática (e naquela hora da manhã quem não estaria?) e de boina enterrada até as ventas: o marido dela, o guitarrista.
(Bienal do Livro do Ceará)
Mas falemos não deste show ocorrido por aqui há sete meses, mas da apresentação mais recente, no encerramento da bienal do livro, no centro de convenções. Confesso que estou cada vez mais satisfeito com a qualidade de produção (em especial da iluminação) dos shows que têm “subido” para Fortaleza. Agradabilíssimo, seria o adjetivo que melhor definiria este setor dos shows tanto Takai como o Acústico dos engenheiros que também passou por aqui este ano. Mas se Humberto Gessinger e cia carecem de certa, digamos, de unidade (ou coesão) temática (seja musical ou de iluminação) em suas apresentações, isso não acontece com as performances da ex-volcalista do Patu Fu e sua trupe.

(CD solo de Feranda Takai)O show é bacana, você sente que tem começo, meio e fim. Fernanda (uma gracinha) encanta todos os gêneros e orientações num estilo desajeitado-gracioso. Seja tocando Duran-Duran, “o divã” de Roberto Carlos ou o carimbó de Pinduca ela transborda doçura sem ser enjoativa ou pegajosa. Nessas releituras fica clara a impressão peculiar de seu timbre-tênue, contudo, infelizmente o mesmo não acontece em outros momentos do show, como em “com açúcar com afeto” (sem muita novidade) ou até mesmo “o barquinho” que apesar da nova roupagem ousada (é cantada em japonês), não trás o mesmo gostinho de “re”descoberta como sonoridade acompanhada pela dancinha tosca no ritmo do Pará.

Lembro que eu adorava Pato Fu, quando eles ainda eram os ilustres desconhecidos (eu tinha uns 12 anos) e ganharam o prêmio de banda revelação no MTV Music Awards Brasil de 1995 (?) com o clipe “sobre o tempo”; depois deste veio a, hoje, clássica “eu bebo pinga” que cantávamos para um professor do ensino fundamental que sempre chegava de ressaca na aula de segunda pela manhã. Depois veio o sucesso blockbuster da mesma “sobre o tempo” quando entrou nos créditos finais de Malhação. Dois anos depois do music awards ganhou as graças do povão. Pentelhou tanto que nem consigo ouvi-la hoje em dia. Aí veio a releitura de “Eu sei” da Legião Urbana e depois a chatinha-pentelha-super-exausitvamente-tocada “canção para você viver mais”. Esta música marcou meu rompimento com Patu Fu. Mas nada disso se ouve no show de Fernanda. Ela mesma avisou que foi consenso dentre os integrantes deste novo projeto que não tocariam músicas da “antiga” banda. Que bom por que não precisei ouvir “faz um tempo eu quis fazer uma canção...”, mas confesso que adoraria ter rememorado ao vivo “Eu Bebo pinga será que isso é bom ou ruim? Uaaaaaaaaaa a. Se eu fosse Pelé...”

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Quem tem medo de Coker Spaniel?

Terminei a leitura de "Flush" de Virgínia Woolf . Comecei a lê-lo muito despretensiosamente em maio deste ano. Não pretendo me prolongar nos paralelos infindáveis (e inúteis) entre Clarice Lispector e Virginia Woolf. Mas Olha só:

Do conto “tentação” de Clarice Lispector comentado por Caio Fernando Abreu:
“um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector — Tentação — na cabeça estonteada de encanto: ‘Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível’. Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos.” (Crônica Pequenas Epifanias do livro homônimo)



Do livro Flush:
“Os dois se surpreenderam (...) Havia algo de comum entre os dois. Enquanto encararam um ao outro, pensaram: aqui estou eu. Então, sentiram: mais que diferente!(...) Ela realmente poderia ser tudo aquilo, mas ele... não. Entre os dois existia o maior abismo que pode separar um ser do outro. Ela falava. Ele era mudo. Ela era uma mulher, ele era um cão. Assim, intimamente separados, um encontrava o outro” (p. 31).

Coincidência? Cleptomania? Atávico? Ou os três ao mesmo tempo? Façam suas apostas. Não entro nessa discussão apenas jogo no ar. Até porque ela não leva a nada. No mais, larguei Flush logo depois destas páginas. Acho que a leitura era tão descontraída que me lembrou das coisas “sérias” que eu tinha que resolver. O tempo passou e numa espécie de regalo pré-qualificação da dissertação me permiti auto-presentear com “As ondas” da mesma autora. Paralisia: a abertura era (e é) sufocantemente esplendorosa. Quem leu sabe: “O sol ainda não nascera”. Tanto é que em julho em meu primeiro dia de estadia em Salvador, caminhando pela orla, em meio a vendedores ambulantes e casais melosos, não saíam da minha cabeça as palavras de Mrs. Woolf:
“Aproximando-se da praia, cada uma dessas ondas erguia-se, acumulava-se, quebrava e varria pela areia um tênue véu de água branca. A onda parava, partia novamente, suspirando como um ser adormecido cuja respiração vai e vem inconscientemente”.(p. 05).
Uma sensação terrível e medonha da “coisa viva” independente de. Sem falar que as ondas eram avistadas a partir de um “passeio ao farol” (nome de outro livro de Virginia), no caso, o Farol da Barra.

(Duplo-virgínia: Passeio ao farol vendo as ondas)
Ainda pensei em levar “As ondas” comigo para aquela Viagem (não é proposital, mas este é outro nome de obra da escritora), mas acabei levando outro livro. Tentei seguir a seqüência de criação. Afinal, primeiro Virginia escreveu “As Ondas” (1933) e só depois, para “desopilar”, dera vida a “Flush”. A obra surgiu a partir da leitura das cartas de amor de Elizabeth a Robert Browninig, nelas Virginia se encantara pelo cachorro da poeta britânica que era descrito nas missivas com graça e até mesmo atributos humanos. A escritora resolvera dar vida aquele cachorro. Imagine as memórias de um cão narradas por Virginia Woolf. Não vou me estender no tema, pois tudo isto está muito bem contado na apresentação de “Flush” (edição da L&pm), na obra e nas notas da autora. No mais parei as “ondas” na página 29. O livro é considerado a obra prima de Mrs. Woolf e deve ser consumido com moderação. Ele contém uma overdose de imagens, texturas, sensações que são acompanhadas com a passagem do tempo de seis personagens (ou vozes) desde a infância até a velhice enquanto as ondas vão e vêm como também todos os demais movimentos da natureza.
Bem, depois do abandono de “As Ondas” (e já deu para perceber como minhas leituras são fragmentadas) retornei a “Flush” em uma tarde na sala de espera do médico. Acabei de terminá-lo.

O livro, concluo, é a expressão de uma artista que caminha com segurança nas searas de sua criação. Impossível não se apaixonar pelo coker spaniel, impossível não se deleitar com a escrita leve e sarcástica crítica social de Virgínia, ao mesmo tempo em que, também, é impossível não admirar a forma como a autora debruça suas principais e revolucionárias técnicas narrativas em uma temática tão fluente e tão comum, ordinária.

(Concluo “Flush” e olho para a lombada de “as ondas” com receio. Talvez ainda não seja a hora de voltar a elas).

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Claptopost: Dreams

Talvez influenciado pela leitura dos recém escritos de Mr. Nazarian por esses dias tive um sonho no mínimo tosco. Sonhei que (só) dirigia a Meryl Streep na cena inicial do que (suponho, mas nunca é confiável) seria a adaptação de "a morte sem nome" para o cinema. Tinha até a trilha sonora, que ficou martelando na minha cabeça. O dia todo. Claro que Meryl estava bem mais jovem.

Só descobri que era a adaptação do tal romance quando falei com Mrs. Streep, algo sobre Letícia e ela me corrigiu: "Lorena".

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Beijando dentes (I)

Episódio I: Dente de leite (a memória)

Tenho todos os meus dentes. Mentira, tive que fazer aquela cirurgia para remover os lá de trás (aqueles que não servem para nada). Estranhamente eles não doíam, mas viviam inflamados. E por conta de medos de infecções, bactérias caídas em correntes sanguíneas e todas essas coisas que a agente ouve falar por aí, resolvi retirá-los.

Caso semelhante (embora não análogo) aconteceu com o “beijando dentes” de Maurício (e só quero chamar de Manuel) de Almeida. (Para não esquecer fico lembrando: o nome do personagem do “limite branco”): Ele não doía, mas desde a pré-leitura inflamava. E como aquela fantasia lancaneana que precisava ser atravessada, segui a intuição e, sem ao menos ler uma sentença do estreante escritor, fui estirpar a dúvida: comprei o livro. O nome do livro me captava.

(traumas de "insônia")
Dentes não estão entre meus assuntos favoráveis. Traumas de infância, dentistas terroristas, a zoadinha do motor, a mãe acordando a gente para confirmar se havia escovar e, a irremediável insônia pós-súbito-despertar. Inclusive insônia é um dos espectros que rondam os contos de Maurício. Mas volto logo a este tema. Lembro de uma dentista me dizendo que se eu não cuidasse dos meus dentes perderia todos eles. Que maldade é possível fazer na subjetividade de uma criança. Desde então, até os dias de hoje, não são raros, e já fazem alguns anos, sonhos com dentes caindo, sumindo, quebrando, encolhendo, sendo engolidos, dentes me perseguindo, eu perseguindo dentes, etc. Sem falar nas tentativas de interpretação supersticiosas: mortes, falências, doença. Tudo isso tem, de certa forma, a ver com o livro do jovem de Campinas, mas nada disso eu pensava ao tentar comprá-lo (o livro). Pelo menos, não conscientemente. “Beijando dentes” não me passava uma idéia de, como tenho lido por aí, uma simples incomunicabilidade. De cara o título me transmitiu a imagem de um casal descuidado, imerso na rotina que ao tentar reviver aquele antigo ato do beijo, por descuido (ou seria desinteresse?) acabava por chocar seus dentes. Esta era a cena inicial.

Muitas coisas se desdobraram desde a leitura, mas volto depois para contar mais. No momento (02:50 da manhã), só me falta ler o último conto “uma pedra à mão”. Vou pra cama com esperança de não-insônia e sonhos, de preferência sem dentes. Estes, eu prefiro na vida desperta, na minha boca e na boa literatura.

Barrados na bienal


(movimento dos sem ingresso)

Quem foi viu. Ou melhor: não viu o "cordel do Fogo encantado".A segurança ainda foi bacana deixando alguns "sem ingresso" entrarem no lugar dos com-ingresso-mas-atrasados.O que,é lógico,gerou a maior,naverdade nem tão grande assim, confusão.

Eu estava lá: (o meio careca deazul)

Na verdade este post tão bestim é só pra registrar a frase da noite:

"Eu quero meu Harry Potter de volta!" hahahahahahahahaa (*)

(*) Tinha-se que trocar (uma semana antes) um livro pelo ingresso.

Casa reformada,,,


(A casa de cara nova)


(a filha do inquilino)

sábado, 15 de novembro de 2008

Bienal beijando dentes:

Após o “momento companheiro” fomos ao café do SESC assistir o lançamento do livro; “Beijando Dentes” do jovem escritor Maurício de Almeida (26 anos). Muito interessante e sem “pose de escritor” ele discorreu sobre a criação do livro e suas referências: Raduan Nassar, principalmente.

O debate girou em torno do processo de criação, a desconstruição do texto, hermetismo contemporâneo, escritores que escrevem para escritores e não para leitores, essas coisas. Achei-o super diplomático (e seguro) nas suas colocações.

Não dá para opinar muito,agora, sobre o livro. Mas de cara gostei dos dois primeiros contos “três caminhos” narrativa conduzida no estilo “Kew Gardens” de Virginia Woolf e “Às quatro e meia da manhã” texto com uma “voz própria”, mas que tem ressonâncias explícitas e implícitas ao conto “pela passagem de uma grande dor” do Caio F. No mais, transcrevo as palavras de Leila Perrone-Moisés estritas na orelha da obra:
“Esta coletânea se constitui de contos fortes, tanto pela temática, geralmente sombria, como pela linguagem. Encontramos aí monólogos e diálogos de personagens exaltados, quase alucinados. Diferentemente da maioria dos autores contemporâneos que, em busca de uma expressão forte, se valem de termos obscenos ou perdem-se em discursos totalmente desestruturados, o narrador desses textos domina com brio a fúria das palavras”.

(momento autógrafo... sempre meio constrangedor)
Ao ser interpelado sobre seus colegas “desestruturadores” e “obscenos”, o autor de “beijando dentes” disse que se deve valer de qualquer linguagem desde que ela não termine sendo supérflua ao texto. E lembrou que muitas das ditas “as inovações” na escrita já acontecem há pelo menos 1 século, e aquilo que pode parecer “a vanguarda”na solidão da criação pode na verdade ser a expressão mais desgastada do “autor-à-procura-de-uma-nova-forma”.

(momento pose-pra-foto: não menos constrangedor).

Serviço:
"Beijando dentes" - Prêmio Sesc de Literatura 2007
Autor: Maurício de Almeida
Editora: Record


Blog do Autor: www.mauriciodealmeida.blogspot.com

Bienal Vermelha.

Ainda emergindo do baque de “morango e chocolate” resolvi passar parte do meu 1º dia de bienal do livro atualizando minha bibliografia vermelha exatamente pra (re)ver o que dizia, no papel, o velho barbado. Quando me dei conta: já li “para a crítica de economia Política”, O primeiro Tomo do “Capital”, “A Ideologia Alemã” (a edição antiga com a 1ª parte) e “A miséria da Filosofia”, Mas nunca tinha lido (nem possuía) O manifesto do partido Comunista!

(Aquisições vermelhas)
Como Bienal é bienal em todo lugar, não me apressei muito em visitar muitos stands. Afinal, os livros estão dos mesmos preços que nas livrarias. Então... qual a vantagem? Me pergunto. Não tenho resposta.
O melhor stand da noite, até antes do lançamento do livro do Maurício de Almeida, foi o da Editora do MST: expressão popular. Lá comprei, finalmente, o manifestim (no sentido de versão pocket) e achei o clássico da filosofia marxista, numa edição super caprichada em parceria com a CLACSO, “Filosofia da Práxis” de Adolfo Sanchez Vazquez. O livro (uma puta aula de filosofia Hegeliana, de Feuerbach e marxista) em editora normal está entre 50 e 60 reais. Na expressão popular sai pela bagatela de apenas 20, eu disse 20 reais. O militante comunista me explicou: eles produzem livros a preço de custo.
Nada melhor do que a lucidez anti-burocrata de Vasquéz e as palavras do próprio fundador do socialismo para desatar alguns nós. Ou não.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

1º dia de Bienal (para mim)

Bienal Vermelha: No stand da "Expressão popular" (editora do MST)incrementando minha "coleção companheira".

Autógrafo nos dentes: No Café do SESC tietando o Maurício de Almeida no lançamento de seu "Beiajando dentes".


Volto pra contar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

KRZYSZTOF KIESLOWISKI, guarda-chuvas e “cinema europeu”

Krzysztof Kieslowiski entrou definitivamente na minha vida quando assisti ainda em 1998 (14 anos) dois de seus filmes (“Não Amarás” e “Não Matarás”) rodados antes da consagração vir com a “trilogia das cores”.
Mas antes disso eu já havia ouvido falar do diretor polonês. Ainda em 1995 soube que o cineasta recém-falecido deixara a sua última obra em vida completa: “A fraternidade é vermelha” (filme que finaliza aquela trilogia e que finalmente assisti ontem, me motivando a escrever este post).


A fraternidade é vermelha faz parte da trilogia das cores que também contém: “A liberdade é Azul” (com a belíssima Juliette Binoche); “A igualdade é branca” (e com a não menos bela Julie Delpy – é sempre bom lembrar, a Celine, o par romântico de Jesse Wallace em “Antes do amanhecer”).

Mas voltemos aos primeiros Kieslowiski. Afinal, o primeiro a gente nunca esquece. Posso dizer que foi Kieslowiski quem me apresentou àquilo que chamam de “cinema europeu”. Definitivamente um termo incompleto e até equivocado. Pois é no mínimo estranho colocar sob o mesmo guarda-chuva cinemas tão díspares quanto os de Danny Boyle, Igmar Bergman, Bertolucchi, etc. Mas, abstraídas as galopantes diferenças, é impossível negar a distinção óbvia do clima “estético” destes cineastas em relação ao “cinemão norte-americano”.

É nesta seara que entram a câmera, o roteiro e a direção de Krzysztof Kieslowiski. À primeira vista, lembro que causou certa estranheza. Estranheza confirmada quando, ainda naquele ano de 1998, aluguei em VHS a primeira parte da trilogia: “A liberdade é azul” para ver com a família. Quem não dormiu durante o filme acabou dizendo: como é que uma pessoa faz um filme sem contar história nenhuma?


Bem, não é de uma afirmação totalmente é falsa, pois quem se apega ao clima de suspense que perpassa o cotidiano da maioria dos personagens acaba se decepcionando: não é um filme de Supercine. Quem se apega à temática amorosa e espera finais felizes fáceis e cinderelescos também se frustrará. Krzysztof Kieslowiski não é nada óbvio. E isto não quer dizer que ele seja pedante, intelectualóide ou “filosófico” demais. Na verdade, o cineasta polonês tenta romper a camada do verniz automático e cotidiano lançando olhares hipnóticos a partir de uma direção de fotografia que, apesar do termo clichê, não consigo adjetivas de outra forma, É PURA POESIA.
Krzysztof Kieslowiski está para o cinema assim com Virgínia Woolf está para a literatura, no sentido dado pelo Crítico de arte José Arantes:


“a força da imaginação transfigurada em linguagem, em geral mais por poetas que por romancistas, mas que em Virgínia é fundamental para comunicar um halo luminoso, um invólucro semitransparente que nos cerca do princípio ao fim da consciência”.

Dez anos me separavam da última vez que tinha visto um Kieslowiski. E posso dizer, após ver “a fraternidade é vermelha” , que a frase acima é a melhor síntese da obra do cineasta. Ele capta, como poucos, este halo luminoso, este invólucro semi-transparente, estas pequenas epifanias que te cercam, que nos cercam.

Cores e contradições: tentando entender Cuba

Em 1994 (eu tinha 11 anos) assisti a primeira cerimônia do Oscar. Dentro, ainda da minha infância, lendo Edgar Allan Poe, por exemplo, não poderia nem imaginar a contradição da festa de auto-celebração de Hollywood. Havia um filme cubano concorrendo ao Oscar de melhor produção estrangeira. Me refiro ao excelente : Morango e Chocolate (título original: fresa e chocolate) que acabo de assistir 14 anos depois.


O filme rodado na ilha de Fidel não ganharia a estatueta naquele ano. Na verdade até me impressiono com a minha boa memória: o ganhador foi “Sol enganador” da Rússia (que também, até hoje, não vi). Ouviria ainda falar sobre o filme numa roda de conversa sobre Reinaldo Arenas e no “Vozes de Nuestra América” quando perguntei ao representante do governo cubano sobre a liberdade de expressão, escrita, Reinaldo Arenas e as questões de diversidade sexual aquele país. (Porque o que chega aqui, geralmente, a nós sobre estas realidades de Cuba é sob as lentes, nada amistosas, do EUA, expliquei.

(do site: http://jornaloformigueiro.blogspot.com/2007_12_09_archive.html)
Sobre os escritores, decepção: o representante desqualificou a monumental obra de Arenas, dizendo que o escritor não era a melhor referência para a literatura cubana. Arenas foi considerado um contra-revolucionário do Regime de Fidel.

Sobre a liberdade de expressão e a diversidade sexual: o rapaz falou que o governo cubano tem avançado muito nestas questões, entretanto, a própria sociedade cubana ainda tem muita resistência ao tema.

Me lembro dos pró dos contras da Ilha de Che. Principalmente daquela frase: “Hoje, milhares de crianças dormirão nas ruas e nenhuma delas é cubana”.
Impossível não lembrar de Arenas ao assistir o “morango e chocolate”. O autor de “antes de anoiteça” era apaixonado por sua terra e pelos cubanos. Contudo, o preço do seu pensamento, foi ter sido censurado, preso, mandado para campo de concentração e trabalhos forçados por contas da palavras “laikas” (como dizia Caio F.) que brotavam de sua pena.

Para mim a cena chave do filme é quando o protagonista resolve escrever uma carta de protesto contra a censura de uma exposição de arte numa embaixada (a manifestação lhe valeria o emprego). Transcrevo um trecho:

“Só aceitam pintores ingênuos ou oficiais ou os que se dizem modernos, porque no fundo não dizem nada de novo. São pura decoração (...) A arte não se transmite, a arte é para sentir e pensar. Que se transmitam coisas na rádio nacional. ”
Então me pergunto: qual seria o preço do “novo homem” pretendido por Che? Naquele mesmo “Vozes de Neustra América” assisti uma palestra sobre a atualidade do pensamento de Guevara. E me surpreendi ao ver o homem por trás do clichê estampado nas camisas. A palestrante falava sobre as novas determinações postas na realidade, que demandam novos olhares e novas discussões sobre pensamento de Che.

Outro ponto importante discutido naqueles dias era a questão das novas gerações cubanas nascidas no pós-URSS. Uma geração sem a antiga bipolaridade. Eles se questionavam: como tornar a revolução socialista uma revolução também nas estruturas de poder hoje constituídas, como dizia Marx, “uma revolução com alma social”.

Então ficam perguntas e mais perguntas: é possível pensar uma política das diferenças dentro de Cuba? A antiga afirmação de Arenas, reproduzida mais abaixo, é importante para nos lembrarmos que o “modelo EUA” não necessariamente, e eu diria que quase nunca, absorve estes “estranhos estrangeiros” a menos que eles adquiram os elementos de distinção de classe e grupo social. E aqui entra a insuperável questão de classe. Mas voltemos à frase de Arenas depois de fugir de Cuba e “comer o papo que o diáboa amassou” em Nova York:

(Foto do cubano exilado Reinaldo Arenas)A diferença entre o socialismo e o capitalismo é que em Cuba você leva um pé na bunda e é obrigado a aplaudir enquanto que nos EUA você leva o mesmo pé na bunda, mas tem a “liberdade” para reclamar.

E eu acrescento... o problema é que se você é estrangeiro, pobre, latino e gay ninguém vai ouvir. E caímos outra vez na questão dos corpos abjetos.

Se a arte é um momento de suspensão do cotidiano, como dizia Agnes Heller, a própria existência deste filme e a sua possibilidade de ter sido rodado em Cuba, demonstra que a questão rompeu os guetos e adentrou o espaço público.
Resta-nos perguntar: qual o futuro de Cuba? Não sei, mas de uma coisa tenho certeza, contra maniqueísmos simplistas também não farei coro com os “Baba-ovo-capacho” como o jornalista Wilham Wack quando no Jornal da Globo, quase solta fogos de artifícios ao anunciar a renúncia de Fidel em 20 de fevereiro deste mesmo ano.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

GARRAFAIS...


T"ÉH"RMINEI A DISSERTAÇÃO!

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Literatura visceral...

... tem nome e atende por João Gilberto Noll

Junte o hedonismo de um Jean Genet, a anti-narrativa ressaqueada e desterritorializada de um Samuel Beckett e o lirismo cadenciado de uma Virginia Woolf ou Clarice Lispector; e você terá alguns elementos para entender porque João Gilberto Noll é o MELHOR ESCRITOR BRASILEIRO VIVO (que está em plena atividade).

Estes comentários derramados vêm após a minha (parcial) leitura do mais novo romance do escritor gaúcho: “Acenos e afagos” (Record, 2008). Estou no primeiro terço do livro, mas não me contenho:

Comentar um livro ainda não lido até o final é perigoso, pois os destinos dados à estória podem decepcionar. Isso aconteceu quando li um outro livro do mesmo autor: “Berkeley em Bellagio”(Francis, 2003), lá, Noll escreve um delicioso 2/3 de romance, que tinha tudo para superar o que considero ser, seu melhor livro: “A fúria do corpo”(Rocco, 1989). Mas o desfecho daquela narrativa não está à altura do clima “estrangeiro” erigido no decorrer da “trama”(?). Bem, falar em trama, quando se trata de Noll é sempre complicado, pois o escritor desponta exatamente no cenário brasileiro dos anos 1980 como o “nosso” Beckett (dramaturgo irlandês que escreveu quase toda sua obra na França e em francês): aquele que desafia os limites e o desgaste da narrativa. Só que, como sempre acontece em arte, Noll mantém esse rítmo anti-“trama” durante quase três décadas. Ritmo este que muitos, desde “água-viva” de Clarice Lispector, comparam com a improvisação do Jazz. Ou seja, no final dos anos 1990, sua “crítica” ao desgaste da narrativa já apresenta sinais de, digamos assim, desgaste.

É quando surgem alguns críticos dizendo que o escritor está se repetindo demais, e começa-se a questionar sobre o futuro da literatura de Noll. Surdo a estas constatações, e não fazendo concessões fáceis em seus textos (lembro que Noll é escritor full time sem ser necessariamente um best-seller) ele parece continuar, nesta nova obra, com a tônica da famosa citação de Beckett:
“a expressão de que não há nada a expressar, nada com que expressar, nada a partir do que expressar, nenhuma possibilidade de expressar, nenhum desejo de expressar, aliado à obrigação de expressar”

Esta talvez fosse a epígrafe para uma coletânea das obras do escritor gaúcho (lembro que já existe uma coletânea tipo, “obra completa” publicada pela cia. das letras).

Bem, então vamos às 70 primeiras páginas de “Acenco e afagos”: à primeira vista me agrada o fato de Noll ter voltado a uma narrativa de maior fôlego (após uma fase longuíssimas de contos e romance cerca de 100 páginas). Num primeiro momento é impossível não recordar de “a fúria do corpo”, como disse mais acima, o que considero ser o melhor livro do escritor (levando-se em consideração que já comprei, mas ainda não tive tempo de ler “Harmada”, eleito pela “Revista Bravo!” como um dos 100 livros essenciais da literatura brasileira de todos os tempo).

Na abertura há em “acenos e afagos” ecos do início de “lavoura arcaica”, de Raduan Nassar. Mas o que mais marca é o clima libidinal, e não necessariamente sexual, que faz lembrar “Querelle” e “Diário de um ladrão” (ambos de Genet). Aliás, Noll joga o tempo todo com esses limites dos corpo pautados em “A fúria...”. Aqui a narrativa é menos barroca, menos eclesiástico-profana e o protagonista até tem uma família. O que é de se estranhar, vindo de Noll. Mas isso não tira um certo aspecto sacramental-maldito, como escreve José Castello escreve na orelha do livro:
“Como em a ‘fúria do corpo’(1981), outra grande obra de João Gilberto Noll, é a libido, radicalmente, que move a escrita[...] sem freios, culpa ou pecado e, por isso, pode-se falar, a respeito de Noll, em santidade, como no caso de Genet visto por Sartre”. É o que podemos ver no trecho em que o narrador diz:

“Quando intrépido abro a camisa do estranho, ato contínuo começo a dar vazão às várias constelações de carícias. A mão nos botões não é um gesto menos nobre do que o da mão na bíblia, para dar início aos trabalhos de realimentar nossa fome infinita. Quando, porém, me encontro em rasgada simpatia ao lado de alguém por quem nutro um afeto sólido, nascido anteriormente, preciso fechar os olhos para sentir as primeiras contrações na base do cacete para o impulso ao jorro” (p. 39).

Dito isto, eis mais um Noll para se desatar e deliciar em meio a acenos e afagos.

João Gilberto Noll nasceu em Porto Alegre, 1946. É autor de 13 livros. Venceu o prêmio Jabuti (maior honraria da literatura brasileira) em 1981, 1994, 1997, 2004 e 2005. Foi publicado na Inglaterra, Itália e Argentina.