terça-feira, 23 de setembro de 2008

60 anos de Caio F.

Não publiquei nada dia 12 de setembro, como também estou pendente com outras obrigações não cumpridas, mas para não deixar de registrar os 60 anos de Caio F. republico texto produzido ano passado na mesma época do ano:

Na madrugada do dia em que Caio Fernando Abreu faria 59 anos (*)terminei de ler as suas cartas escritas entre 1980 e 1996. Triste fui dormir pensando que em 1995 ele estivera na minha cidade, há poucos quilômetros (talvez, quem sabe, metros) de mim. Quando eu tinha 12 e ele 47. Anos de "The wonder Yeras", Animais do Bosque dos vinténs na Tv Cultura e também de Oscar para Tom Hanks (que ele adorava... Caio não viveu pra ver a decadência do bi-campeão – Intérprete de Andrew Becket e Forest Gamp); Ano da Adaptação de "Entrevista com o vampiro" para o Cinema. Lembremos: traduzido por Carice no em 1976 (um ano antes de seu irremediável abraço com Ela – "maiúscula e respeitosa" - como diria Senhor F.). Plano Real. Naquele tempo eu ainda estudava à tarde! Fazia a 6ª série. E só agora me lembro: Não. Não.Não. 1995: o Oscar seria de Coração Valente, Razão e Sentimento, Apolo 13...
Enfim. Na madrugada dos 59 anos de Caio F. sem sono e com a companhia de seus escritos-à-beira-do-encontro-fatal. Quis fazer uma oração-laica (ou seria LAIKA?) para o monge-jardineiro. Então lembrei de São Cazuza e de tantos outros que se foram e que "não cabiam nos dedos das mãos". Lembrei de São Renato Russo, numa gravação de 1995 cantando Cazuza para São Betinho e a "ação da cidadania contra a pobreza". Então cantei assim, bem baixinho:


Tem gente que recebe Deus quando canta
Tem gente que canta procurando Deus
Eu sou assim com a minha voz desafinada
Peço a Deus que me perdoe no camarim
Eu sou assim
Canto pra me mostrar
De besta
Ah, de besta
Quando eu estiver cantando
Não se aproxime
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio
Quando eu estiver cantando
Não cante comigo
Porque eu só canto só
E o meu canto é a minha solidão
É a minha salvação
Porque o meu canto redime o meu lado mau
Porque o meu canto é pra quem me ama
Me ama, me ama
Quando eu estiver cantando
Não se aproxime
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio
Quando eu estiver cantando
Não cante comigo
Quando eu estiver cantando
Fique em silêncio
Porque o meu canto é a minha solidão
É a minha salvação
Porque o meu canto é o que me mantém vivo
E o que me mantém vivo

(Quando eu estiver cantando Cazuza / João Rebouças)
© Warner Chappell

(*) Caio Fernando Abreu nasceu em 12 de setembro de 1948 em Santiago do Boqueirão, Rio grande do Sul.

Nazarian ensebado...


Santiago Nazarian já pode se considerar um escritor ensebado . Explico: semana passada, com um tempinho livre no final da tarde fui fazer um Tour pelos corredores do sebo da Livro Técnico. Meio fraquim. Se foi lá que encontrei quase todos os meus Nolls, me iniciei na senhora Sontag e achei um Marcelo Secron Bessa super em conta... nesta última visita os achados faltaram.

Não fosse Nazarian para me salvar seria viagem perdida. Estou falando de “parati para mim” livro editado pela Planeta com a presença, além do escritor fissurado em répteis, dos também juveníssimos (odeio esta palavra) CHICO MATTOSO e JOAO PAULO CUENCA.

Acabei de ler o Mattoso e o conto dele lembra em alguns aspectos o cinema do David Lynch. Dei uma olhada nos outros dois mas ainda é cedo para pareceres-vulgares.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

“Não leio no computador”

“Não leio no computador”. Esta seria minha afirmação sobre o hábito da leitura há uns dois anos. Não é mais. Leio no PC, baixo textos improváveis, raros (às vezes nem tanto). Acho que me acostumei. Isso não impede, por exemplo, que eu compre aqueles livros que AMO e quero levar comigo para a cama, para a praia e mais que isso, quero folhear, sentir o cheiro de livro novo, olhar sua lombada repousada na minha frente segundos antes de apagar a luz para ir dormir. Essas coisas.

Tudo isso para dizer que estou lendo meu primeiro Daniel Galera (versão digital disponibilizada pelo jovem autor). Simples e competente. Sem falar das recorrências, porque como dizia Caio F.: tudo sempre lembra e lembrará alguma coisa. Entretanto, insisto e posto um trecho tradutor de dias recém passados...


(Trecho do conto "subconsciente" do livro "Dentes Guardados )

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

As metáforas de Saramago.


Sábado último fiz uma coisa que não faço com muita freqüência: Fui ver o filme sem ter lido o livro: Ensaios sobre a Cegueira. Como já relatei antes, protagonizado pela minha querida Julianne Moore.

Do pré-início: Fila quilométrica em pela Tasso City (leia-se Shopping Iguatemi. Que se há de fazer?). Enfim... adentrada a sala E-NOR-ME conseguimos um local bem bacana, bem de frente ao centro da tela (ao contrário de “Sex and the city – o filme” ONDE FICAMOS NA ESQUINA, DA ESQUINA, DA ESQUINA).

Dos traillers: 20 minutes de bobagens hollywoodianas com direito a Meryl Streep (12 vezes indicada ao oscar) se prestando ao papel de cantora-ex-hippie cantando “Mama mia here I go again” by: ABBA. Inclusive o título do filme é homônimo ao da música do grupo sueco.

Da forma do filme: a primeira sensação é o incômodo. Trilha estridente, cortante, chegando ao desagradável. A “LEITOSIDADE” da película também ajuda nessa sensação de desconforto, muitas vezes susto mesmo.

Da atuação: Mrs. Moore está linda, humaníssima. A lente de Meireles revela, o que eu não chamaria de imperfeições, mas humanidade, carne de gente, sardas, zooms, marcas. Como todos devem saber, Julliane interpreta a única personagem do filme que não perde a visão. E, por conseguinte, vê todas estas cicatrizes expostas. As suas e dos outros. Quase como uma voyeur do mundo ela olha para si e para fora. E numa situação de limite entre barbárie e “civilização” (sempre aspada) ouve-se, já depois da metade da exibição, um berro seu ao defender a posse de comida. Aquilo me assustou. Que verve, que atriz, que mulher. A interpretação de Julliane Moore sempre me traz à mente aquele trecho de Clarice, acho que em “perto do coração selvagem”:

“De cada luta ou repouso me levantarei forte como um cavalo jovem”
Uma cavalo jovem, selvagem, indomado, pulsante esta é Julliane Moore (pelo menos a minha Julliane).


Das metáforas de Saramago/ Meirelles: Como lúcido comunista (espécie, infelizmente, em extinção) Saramago promove incursões pela filosofia política clássica tais quais discussões entre o estado de natureza x estado de sociedade, a origem da propriedade privada, etc. Notam-se tinturas de Rousseau quando o personagem de Garcia Bernal resolve deliberadamente deter o monopólio sobre a comida distribuída no “campo de concentração”... corta pro Rousseau: “quando o primeiro homem construiu a primeira cerca e disse isso é meu, os demais deveriam ter se juntado e dito não, isso não é seu”... Poizé o tal nascimento da propriedade privada, que se dá, e isso é bem explícito no filme, mediante o uso da FORÇA, da subordinação e (o caso do filme) na utilização do sexo como moeda de troca. Instaura-se o Estado de Guerra. Lampejos de Hobbes, Locke e similares são derramados na tela em meio à cegueira, excrementos, nudez e fome.
Outra filósofa que me veio à cabeça durante o filme (mas com esta eu acho mais difícil o Saramago estabelecer uma interlocução) é Hannah Arendt. Quando ela fala que não há nada mais eficaz na destruição do poder que o cano de uma arma. É isso o que acontece com a precária tentativa do Olftamologista-cego em estabelecer, via diálogo, certas “regras de convivência” no “campo de concentração” o que acaba por ser tratoradas por Gael e seu revolver.

Da locação: Apesar de ser um filme desterritorializado e se passar em uma cidade onde se fala inglês mas sem ser claramente anglo-saxão, com casal oriental e vilão de sotaque mexicano, etc, etc., para nós é possível perceber de cara que se trata de São Paulo. E detalhe, quando a cidade já está devastada não é preciso nem maquiar o Tietê. Ele por se já é um desastre.

Das conclusões: fica difícil fazer alguma síntese com o desfecho da obra. Quando o oriental começa a recuperar a visão, Julliane acha que está ficando cega, mas isto não chega a acontecer. Todos passam a ver o mundo de outra forma, perceber que era antes da tal “cegueira –branca” que estavam cegos. Para o mundo, para a vida. Diante desta certa, digamos, “facilidade de desfecho”, a primeira frase que me veio à cabeça foi aquela bem batida, ultra-desgastada, meio de caminhão que diz assim:

“Somente quando for derrubada a última árvore e a última vaca morrer, só então o homem perceberá que dinheiro não se come”.

Somente na cegueira os homens foram capazes de ver. E eu fico me perguntando se era só isso mesmo o que eles (autor e cineasta) quiseram dizer, ou sou eu que estou cego para as idéias de Saramago.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Carta ao amigo-candidato


Com muita alegria recebo o anúncio da tua candidatura.
Te escrevo por que, como meu amado Caio Fernando Abreu, organizo melhor o pensamento no papel (aqui especialmente no computador) que na oralidade. Escrevo também por que nutro este anacrônico hábito oitocentista de redigir missivas. Em geral por dois motivos: para me comunicar mais elaboradamente com aqueles que me são caros (por exemplo, o Ailson ou a Robertinha, que você conhece) e/ou quando algum assunto profundamente me instiga. Então te prepara que eu acho que o email é longo.
Teu scrap no Orkut me despertou por que nessa realidade de finalização da dissertação (e me dedicando quase exclusivamente ao jornalismo alternativo como políticas culturais) ainda não tinha detido o pensamento mais profundamente nas eleições deste ano.

O que mais me motiva em apoiar desde já as candidaturas para vereador/a do P-SOL é o fato do partido ser, nesta conjuntura, uma (entretanto, nunca “a”) alternativa a esse clima meio facistóide e de paralisia da crítica que ronda a política partidária brasileira (em especial no Ceará). Neste sentido a notícia das candidaturas que você anuncia me parece ser algo não só importante mas imprescindível, para que a próxima gestão da câmara não vire aquela palhaçada “confetesca” e “baba ovo” que virou a Assembléia Legislativa, de ponta a ponta com aquele discurso piegas e perigoso, que muito mal faz à minha gastrite, de que em prol de um suposto e superior BEM do “Ceará” se dissolve o conflito, ultra-tecnifica a política. O eclipse da democracia: a ausência de oposição. Ou como dizia Marcuse a tentativa de fechamento do universo político ou para Arendt a ausência de arenas efetivamente públicas que dão visibilidade à pluralidade humana. Mas não quero intelectualizar demais. Me pergunto: Em prol de qual Ceará isso acontece?

É diante disto tudo que incontestavelmente meu voto para vereador é do P-SOL e mais especificamente do João Alfredo. Assim com tem sido desde meu 1º voto em 2002 (João ainda no PT) e em 2006 (já no P-SOL + você, Renato e Heloísa). Sem dúvida ele vai dar Aula (assim mesmo, maiúscula) naquela câmara. Será (guardadas as devidas proporções e me colocando declaradamente como tiete) semelhante à presença de Florestan Fernandes outrora no Senado. Quem viver verá! E você (cruzo os dedos nesta hora) estará lá. Ambos levando ventos, práticas e reflexões de autonomia e projeto-político pra um poder legislativo que historicamente, tem sido braço do executivo.
Contudo, para mim (e creio que não só para mim), o “meio de campo embaça” nas eleições para prefeito/a. Estou “acompanhando” apenas de longe as trapalhadas e incoerências (para não dizer outros nomes) da Luiziane. Sinceramente ainda não estou com meu voto definido. Creio que diferentemente das eleições municipais de 2002, na qual desde o 1º turno fiz campanha e votei em Luiziane (com toda aquela expectativa que você deve se lembrar muito bem) desta vez sou mais um eleitor comum a ser convencido (em termos de prefeitura) pelo menos neste momento, nesta conjuntura inicial. Para mim ainda é precipitado dizer que voto no Renato. Apesar de conscientemente achar uma excelente candidatura. (Flash-back: ele lindo e qualificado no debate falando para o Cid sobre “uma outra política” na TV Verdes Mares. Naquele momento Roseno, que já tinha meu voto para governador, ganhava meu respeito).

(...)

Então é assim que me encontro: cheio de perplexidades e aberto. Quando puder me ponho à disposição para as discussões. Farei o máximo para estar presente, apesar da correria com a dissertação. Posso também repassar emails, socializar eventos, informações e estou SINCERAMENTE também aberto ao debate. Sem falar que minha casa sempre vira Stand nesta época. Santinhos, cartazes, adesivos, etc. Se este tipo de apoio servir estou à disposição.
Outro motivo que me conquista no P-SOL é a presença, em seus quadros, dentre outras pessoas, de uma de minhas mais instigantes interlocutoras (horas e horas de conversações) e por quem eu sou declarada e derramadamente apaixonado (em termos políticos, profissionais e existenciais): a Robertinha.
No mais desejo muita força nesse desgastante processo e agradeço a lembrança. É isso aí, como dizia Gramsci: Pessimismo no diagnóstico e otimismo na vontade!

Te abraço afetuosamente

Alexandre S.