terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primeiros passos no ensaismo [5 anos atrás]

[Publico trechos de um texto meu escrito para a disciplina de Tanatologia 5 anos atrás. Embora tenha refinado muito dos meus pensamentos sobre o tema [principalmente depois de ter lido Hannah Arendt]conservo o "ensaio" da forma como foi escrito para não trair o jovem graduando que um dia fui com meus 22 anos.

Título original: As representações da Morte no filme “Entrevista com o Vampiro”

O Teatro dos Vampiros: a busca de um significado na arte.

O teatro dos Vampiros consiste numa associação do século XVIII, a qual é formada por “vampiros que fingem ser humanos que fingem ser vampiros”. Os mesmos buscam atribuir significado às suas “vidas” encenando peças teatrais para humanos, nas quais retratam e deixam a mostra suas concepções de morte e do morrer. Transcrevemos a seguir um trecho de uma destas falas onde uma mortal contracena literalmente com a morte no palco do teatro:
“Mortal: Eu não quero morrer!
Vampiro: O que é o fim? Todos morremos.
Mortal: Mas sou jovem!
Vampiro: A morte não respeita idade. Pode vir em qualquer hora em qualquer lugar. Assim com oessa carne está rosada, vai tornar-se cinza e enrrugada com o tempo.
Mortal: Deixe me viver, não ligo!
Vampiro: Então por que ligaria se morresse agora? E suponha que a morte possa amar e libertar você agora. Para que você daria esse amor? Escolheria uma pessoa da platéia? Uma pessoa para sofrer no seu lugar?”


A esta altura do diálogo uma pessoa da platéia se levanta e diz: “Senhor vampiro, pegue-me, adoro você!”. Percebe-se que esta cena é uma sátira que a autora atribui a todos os níveis de arte e/ou entretenimento que coloca o Se humano em contato direto com a morte, entretanto supostamente livre/ salvo dela. Representando assim, o fascínio pela finitude ou seja: experienciando a morte sem entretanto participar dela.

Apesar de fazerem arte, os vampiros do teatro são decadentes e desprovidos de sentido exatamente por que “a sonata é bela por que tem vida curta, não dura vinte minutos. Se a sonata fosse uma música sem fim é certo que seu lugar seria entre os instrumentos de tortura do diabo, no inferno”. Parece haver uma relação muito íntima entre a arte ininterrupta no teatro com as “vidas” insipientes dos imortais. Este “outro lado da moeda” ou da imortalidade vai se mostrando cada vez mais forte no decorrer dos minutos do filme.

A melancolia da Eternidade:

Armand,o mais antigo vampiro que aparece até então no livro, apresenta ao espectador a contradição existente na ausência da morte:
“Sabe que poucos vampiros têm a energia da imortalidade? Morrem por sua própria vontade. O mundo muda e nós não. Aí mora ironia que finalmente nos mata”

Reside neste fato, o motivo dos seres da noite terem que constantemente estar condenando outros à á imortalidade: para atualizarem-se. Neste momento Armand mostra para Louis a importância de novos vampiros:
“os vampiros do teatro são decadentes e inúteis, não refletem nada, mas você reflete a decepção... os espírito de sua época... sua descrença na graça é a descrença de um século”
Uma dessas descrenças é em relação à possibilidade de uma vida transcendente, a modernidade desencanta o mundo não só dos mortais como dos imortais. A autora deixa ainda transparecer a sua incerteza de uma realidade post-mortem, que reflete na própria incerteza dos personagens:
“Louis: Então não há nada?
Armand: Talvez, mas talvez isso seja o único mal que nos resta
Louis: Então Deus não existe?
Armand: Eu não sei nada sobre Deus, ou sobre o diabo. Nunca tive uma visão ou soube um segredo que condenasse ou salvasse minha alma”
Quando se refere aos vampiros do teatro ele traduz ainda uma “verdade” da ditadura da eternidade (ou da busca enlouquecida por ela): “Eles se esqueceram a primeira lição: que devem ser poderosos, belos e sem arrependimento” Se a cena é ambientada no século XVIII, ainda assim não se pode esquecer que o livro foi escrito na contemporaneidade e que a ssertiva supra citada mais parece um slogan de comercial teen.

Imortalidade: Tormento para imortais, fascínio para mortais
Outra característica da contemporaneidade que parece influenciar a personalidade dos vampiros de Rice é o corportivismo supra-Estado existente, pois: “Só existe um crime entre os vampiros: matar outro vampiro”. Em tempos de crime organizado, Skin Heads, Estado paralelo dentre outros esta não parece uma realidade tão distante.
No enredo, Cláudia é condenada à sua segunda morte, sendo exposta ao sol, por que supostamente teria matado Lestat. Louis, apaixonado pela vampirinha termina seu relato ao Jornalista Daniel dizendo:
Louis: Continuo andando noite após noite, mas toda a minha paixão foi com o dourado de seus cabelos . Sou um espírito em um corpo sobrenatural, desapaixonado, imortal, vazio.
Mesmo diante de toda a malograda biografia(?) de Louis , o jornalista questiona:
Daniel: Vazio, acabou? Você não entendeu, você não é vazio, o que as pessoas não dariam para ser como você, o que eu não daria para ser como você. Ter o seu poder, ser capaz de ver tudo o que você vê!
Aqui, Daniel representa o drama humano e seu desejo pela busca da imortalidade a qualquer custo, mesmo que este seja o preço do desencantamento, do escuro e da solidão. Louis conclui dizendo: “Oh Deus, falhei de novo!”