terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Postagem nº 70

... não sei se volto mais este ano por aqui. Então Feliz 2009 para todos/as.

Como revi, acho que 10 anos depois, ontem "central do Brasil (em choro convulsivo e arquejante)...

Não desejo para todos uma entrevista com DAVID LETTERMAN, mas o ápice de seus objetivos... como Ferandinha.

Feliz 2009... merecemos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Praia priatizada...


(Por do Sol na Praia do Futuro... último sábado).

Depois...

(Lucy in the sky...)
Frequência Beatles. ConchAAcústica da UFC LO-TA-DA....



(All we need is love...)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz natal para todos/as

“Quando dou esmola aos pobres dizem que sou santo. Quando denuncio as causas da pobreza me chamam de comunista!” — Dom Hélder Câmara



Onde andarão homens como este?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

REISADO SOB ÁRIDA LUZ:

Matin-Barbero ao analisar o pensamento de Walter Benjamim em seu livro clássico “Dos meios às mediações”, afirma que o escritor alemão possibilitou que desfrutássemos do cinema como uma arte que permite ver não tanto coisas novas, mas outras maneiras de ver velhas coisas e até a mais sólida cotidianidade.

É desta cotidianidade encarnada em nosso imaginário que fala o espetáculo: “Folguedo” encenado pelo coral da Universidade Estadual do Ceará. Embora não seja cinema e nem restritamente teatro, mas dialogando com essas duas linguagens, o grupo põe em tela alguns dos “nossos” folk tales como: o cantar anasalado das carpideiras; o boi; a tal molecagem dita “cearense”; o ritmo peculiar de “nosso” maracatu, etc.
Como meu ouvido é muito pouco apurado, deixo a crítica das interpretações para os experts. Contudo, apenas como expectador/pesquisador muitos elementos da montagem me chamaram a atenção:


Primeiramente é interessante perceber como, talvez inconscientemente, o grupo canta naquele espetáculo as complicadas relações de gênero que perduram em nosso estado. Vale ressaltar: o Ceará é a unidade da federação onde mais se matam mulheres. Não, não há nenhuma violação à lei Maria da Penha na apresentação. Contudo percebi ali a representação de relações de poder vivenciadas em nosso cotidiano de forma mais tênue, sub-reptícia, tão naturalizadas que quase imperceptíveis. No espetáculo, talvez propositalmente, as mulheres não possuem a fala. Estão alheias ao ato de nomeação, expressão, ou individualidade, são vozes dispersas e coletivas: são o coro. Todas as características “solo” estão prioritariamente ligadas às intervenções masculinas. Ao gênero feminino resta, a multidão, a ausência de especificidade e de certa forma a invisibilidade. Isso não quer dizer que elas estão “mudas”, ou resignadas no espaço privado, afinal elas estão bebendo cachaça e presentes em quase todos os momentos. Mas nunca como indivíduos, sempre como multidão. Até os personagens inanimados possuem mais destaque que elas: o boi, o burrinho, etc. Não estou dizendo aqui que esta seja uma falha do espetáculo, muito e pelo contrário, é uma interessante tradução e “captação” de nosso dia-a-dia, especialmente no Cariri, mas não somente lá. Tanto é verdade que a única mulher com certas características de individualidade é a mulher do “pai Tomás”. Et Voilá! Veja só, nem nome ela tem, sua identidade social é estabelecida não a partir de seu ser social, mas a partir de sua filiação matrimonial a um elemento do sexo masculino: antes de tudo ela é “a” esposa Nada mais brasileiro que isto, para aprofundamentos vide Roberto da Matta e seu hoje clássico ensaio “A casa e a rua”. E o espetáculo põe em pauta brilhantemente estas relações.

Algo que senti falta, se fosse este o objetivo, seria a percepção de como essas mulheres ocupam espaços de resistências mesmo dentro desta relação velada de dominação de gênero: como se dão suas lutas e influências difusas, mesmos no espaço privado, da “casa”. Mais uma vez reafirmo, isto não é um “erro” do espetáculo, afinal este fala de um Folguedo, que se dá prioritariamente no espaço público, “da rua”. Contudo instiga não ver as franjas do poder, as margens ali presentes embora não especificamente tematizadas.

Sobre a interlocução com as tradições, não conheço a fundo “o” sertão. A narrativa do espetáculo me pareceu moderníssima no sentido de tentar conduzir distanciadamente estes elementos que habitam nosso imaginário. Explico: durante a apresentação fiquei tentando “captar” qual era a intenção da obra. E percebi que esta se pretende ser uma espécie de “tipo-ideal” webberiano, no sentido de apreensão e tradução de características gerais daquele fenômeno: o folguedo. Tento explicar de outra forma: uma tradição não está solta e estática no ar. Ela se reinventa com elementos da contemporaneidade. Nunca esqueci por exemplo, de uma foto de uma romaria de Juazeiro onde uma velhinha enrugada carregando uma pedra na cabeça é conduzida por um rapaz vestindo uma camisa Adidas. O espetáculo Folguedo não se propõe realizar este diálogo com a contemporaneidade, o que acho pertinente e da ordem de escolhas metodológica, embora, haja sempre, inevitavelmente, a fissura e transbordamento do atual na linguagem. Ele seria aquele “tipo-ideal” que se atém às características que se pretendem gerais e relativamente estáveis. Entretanto durante o espetáculo me veio a preocupação da necessidade de se firmar aquelas celebrações como “um olhar” sobre “as” culturas cearenses e não “a” cultura cearense. Escrevi sobre isto em um post mais abaixo.

(o boi)
Aspectos outros: como relatei no post abaixo, é muito gratificante ver uma obra de arte caprichada e com produção responsável. Diante das agonias de se tentar fazer qualquer coisa nova, fora da ordem, dentro da UECE, vemos surgir resistências como esta. Ninguém nem nada mata a criação. Nem os quatro anos que se passaram de gestão desastrosa que enterrou na lama aquela Universidade, a minha Universidade.
Mas viremos a página e falemos de coisas boas: os figurinos caprichados, os adereços muito simpático com destaque para as almas: talvez um dos elementos ousados e pós-moderno da narrativa. No sentido de se fazer uma interpolação entre o pesado tema da morte e as cômicas cabeças de isopor das almas flutuando. Ponto para o espetáculo. Foram desses elementos que eu senti falta, e esta é uma interpretação muito pessoal (pois, mais uma vez fica claro que não era este o objetivo), elementos nas narrativas que mostrassem os “andaimes”. Mas mais uma vez estou falando aqui da recriação e apropriação que o espectador faz da obra. A arte é o momento da ousadia, um dos poucos espaços, nesses tempos de Capitalismo mundialmente generalizado, onde (ainda) é possível criar. O espetáculo cria.

Dos anseios: supérfluo dizer que a luz é fundamental num espetáculo. Lembro-me de Ricardo Guilherme improvisando uma leitura dramática no auditório central da UECE (Ah, a UECE) em meio a dois retroprojetores. A luz é a alma. “Folguedos” me lembrou aquela luz. Crua, como diz Cabral de Melo Neto: “mais que seca, calcinada”. Apenas com alguns respiros, como no momento da morte do Boi. Vermelho. Fora isso a Luz é o sertão, a aridez invariável sem aleluias, como nesses dias quentíssimos de final de ano. Talvez as limitações orçamentárias não permitam um trabalho mais consistente desses aspectos, o que também não chega a ser um erro crasso, mas deixa aquele gosto de que a apresentação poderia voar mais alto, mais alto, mais...

Destaques: A interpretação do bêbado. Nada caricatural. Eu só retiraria uma fala: “C* de bêbado não tem dono”. É redundante, supérflua e como tal, já está subtendida. Ademais eu também retiraria improvisação (?) sobre o aspecto fálico da bengala pois parece deslocado, pelo menos para mim.
No mais o show está por aí. Existe vida na UECE e janeiro vem vindo: Folguedos.

Há sempre uma coisa ausente que me “Artaud-menta”

Fui ontem conferir Camille Claudel no “Pausa Dramática” do Dragão do mar.

Em tempos de orelhas e orelhas, como “discuto” no post anterior, é muito prazeroso ver um trabalho que ao transbordar intuição não deixa de lado o rigoroso processo de imersão no Ethus do personagem trabalhado. Abandonando cronologias, o tempo da peça é o tempo da criadora-intérprete. E diluída no meio das falas esculturalmente trabalhadas vi surgir aquela velha conhecida sentença: “há sempre uma coisa ausente que me atormenta”.

Obviamente o texto fala de “loucura”; intolerância; criação; talento e sobretudo “solidão medonha”. Entretanto, nada óbvia é a abordagem de atriz. Em diversos momentos do espetáculo (apesar de ter sido apenas uma leitura dramática) a atriz recria cenas de esculturas de Camille. Interessante também saber que muito do que é dito é criação da autora mas com um tom de escrita todo próprio da pupila de Rodin. Et Voíla! sem parecer caricatural. Excelência somente atingida pela dedicação de nove árduos anos de labuta em cima da artista plástica mantida durante trinta anos (e morta) pela “igualitária”, “fraternal” e “libertária” sociedade francesa.
Transcrevo a seguir trechos de uma crônica do Caio F. sobre aquela sombria frase:

EXISTE SEMPRE ALGUMA COISA AUSENTE
Paris [...] Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. [...] Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis,[...] — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”,feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da le dela Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.
Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.
Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , [...]. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.
Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.
O Estado de S. Paulo, 3/4/1994

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Sinal dos tempos:


*Fórmula 1 anuncia corte de 30% nos gastos.

*Presidente do PCdoB diz “A população Brasileira exige o terceiro mandato de Lula”. (Mamar, mamar, mamar nos cargos públicos de confiança... esse vício brasileiro).

*Atenas, antigamente considerada a capital mais segura do mundo, completa 1 semana de “distúrbios”.(a crise entra pelas adjacências)

*Madonna chega ao Brasil. 14 anos depois. (...)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os aleluias e as agonias da pesquisa no Brasil.

Tenho sido chamado para avaliar trabalhos submetidos em alguns congressos, bem como participado de outros tantos apresentando as minhas próprias pesquisas. Uma das coisas que pode ser concluída dessa experiência toda é que cada profissão/ campo da ciência produz um habitus todo próprio (Oh, novidade!) com seus aleluias e suas agonias. Persiste uma diferenciação muito peculiar que pude constatar na comparação entre as ciências sociais (antropologia, sociologia e ciência política) e as “ciências” sociais aplicadas (comunicação, serviço social, etc.): mesmo com todos os avanços, ainda é possível constatar a hipertrofia da reflexão “teórica” de um lado e do outro a confusão entre projeto de pesquisa e projeto de intervenção.

(as dificuldades de ser pesquisador no BR: e ainda nem falei de financiamento)

Nos congressos de ciências sociais tenho presenciado uma hegemonia das “etnografias”. Entretanto, a maioria daquelas pesquisas são expostas com muita descrição e pouca interpretação ou crítica. Ou seja, as descrições não eram, nos termos de Geertz, densas, mas sistemáticas. E, por conseguinte, pouco interpretativas.

Os problemas das “ciências sociais aplicadas” são de outra ordem: nos eventos do Serviço Social o grande impasse da produção científica parece ser a apropriação (imatura) do marxismo como esquema explicativo fechado e pouco criativo (note-se que estou falando da “apropriação” que é feita e não das reflexões de Marx), o que denotam caminhos e projeções seguras e livres de contradições, desdizendo o próprio marxismo. Outra vertente diz respeito aos relatos de experiências profissionais, o que, não raras vezes, transformou as sessões de apresentações em socialização de angústias técnicas e não de reflexões minimamente distanciadas.

Não estou defendendo aqui a “volta” de uma suposta “ciência positiva”, objetiva e neutra (que na verdade nunca existiu). Contudo é interessante perceber que nas chamadas “ciências sociais aplicadas” persiste essa dificuldade de certo distanciamento, ou como dizia Bourdieu, “controle das bias” em relação ao que se está estudando. Esta tese, para mim, se confirmou quando participei ainda este ano do XXXI Congresso Brasileiro de Comunicação e percebia a dificuldade dos pesquisadores em delimitarem estes campos: o da investigação e o da intervenção. Mais uma vez afirmo que não estou dizendo que esta linha esteja bem traçada e que seja possível uma disjunção entre ambas. Mas o que se apresenta complicado é exatamente o fato desta questão não ser devidamente problematizada nesses eventos, revelando que as “bias” (embora nunca totalmente controláveis) não estão sendo nem mesmo percebidas.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Agora organizar a vida e a publicação...


"caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar."
- Vallejo

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Eu deveria cantar...

"A complete life may be one ending in so full identification with the non-self that there is no self to die." Bernard Berenson

domingo, 7 de dezembro de 2008

É amanhã...

Epígrafe da dissertação:

"Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito e nada dói nem cintila ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade. Seu paraíso é o conflito, nunca a harmonia." (Caio F.)

Políticas culturais e juventude: tensões e mediações construindo o jornalismo estudantil.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Brasil, Brasis II

Presença da imprensa, edição caprichada, autores de todas as regiões do país. O lançamento do primeiro volume da Coleção “Meios e Mediações” na última quinta à noite pode ser considerado um marco de socialização das produções contemporâneas nas áreas de cultura e comunicação.
(Alexandre, o Barbalho - de branco - autografando livros)
O local escolhido não poderia ser mais sugestivo: no espaço cultural da ONG Alpendre (um dos pontos de cultura do Ceará que trabalham com arte-mídia). Regado por um bom vinho e (surpreendentemente, porque geralmente lançamentos são um saco) um público bacana, muitos-alguns conhecidos, ouvimos as palavras do organizador do livro, coordenador da coleção, (meu orientador e xará): Alexandre, o Barbalho. Depois veio Márcia Vidal (coordenadora do PPG em Comunicação da UFC) e leu um texto muito semelhante àquele que pode ser encontrado nas orelhas da obra recém lançada. Transcrevo umas partes:

A propostada coleção ‘meios e mediações’ resulta desse estado da arte dos estudos da comunicação no Brasil, com sua proposta editorial de publicar livros coletivos que reúna, pesquisadores de todo o país que estejam refletindo sobre os processos comunicacionais em suas interfaces com outros campos sociais[...] O que comprova seu volume inicial ‘Brasil, Brasis: identidades, cultura e mídia’ ao abordar um tema tão central na contemporaneidade: as expressões culturais brasileiras em suas relações com a mídia. E a partir de múltiplos e privilegiados olhares, de norte a sul, do centro-oeste ao nordeste. Agora é apreciar a leitura e esperar pelos próximos volumes”
A suposta construção da “cearensidade” via Iracema, o cinema produzido na Amazônia, a urbanidade do Rio-megalópole e os centros tradicionais de Cultura Gaúcha são temáticas ali trabalhadas.

No mais, estarei no segundo livro da coleção que se chamará “mídia e cidadania”. Volto ao assunto. Por enquanto fica assim:

Livro: ‘Brasil, Brasis: identidades cultura e mídia’ (Vol. I da coleção “meios e mediações”).
Organizador: Alexandre Barbalho
Editora: Edições Demócrito Rocha
Valor médio: R$ 30,00

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Drops Lispector - Neruda

Clarice Lispector: Diga alguma coisa que me surpreenda.
Pablo Neruda: 748.
(E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números).
[...]
C.L.: Que acha da literatura engajada?
P.N: Toda literatura é engajada.

C.L.: Qual de seus livros você mais gosta?
P.N: O próximo.

Em busca de Dulce Veiga: uma via sacra profano-virtual – Parte I

Relatos da minha peregrinação cibernética, via-crúcis virtual, o meu caminho em busca de Dulce Veiga. (1ª à 10ª estação)

1ª estação: Em orelhas.
Foi assim que Dulce Veiga apareceu para mim: Em orelhas. De livros, obviamente, Nelas estavam impressas a irremediável pergunta: onde andaria aquela mulher? E mais que isso: quem era aquela mulher? Pelo Blog do traças S/A eu teria acesso ao primeiro capítulo. Mas o início do romance de Caio Fernando Abreu não dava nenhum indício de resposta. Estamos em 2006 e o livro está fora de edição.
2ª estação: Ansioso,
vou consumindo outros escritos de Caio. Quando no meio de “Pela noite”, encontro a cantora originária de Passo da Guanxuma dentre diversas artistas:
“Remexeu nos discos sem vontade, Caetano, Gal,[...] Marina, acariciou a capa de um Erik Satie, Silvia Telles, continuou mexendo, João Gilberto, Ray Charles, Dinah Washington, Elis, várias Elis, Dulce Veiga, Nina Simone, Ângela Rô-Rô,”
3ª estação: A vida segue,
conformada e sem Dulce, porque seria praticamente impossível achá-la nos sebos daqui.
Mas numa desprenteciosa tarde de julho de 2007, entre os corredores de uma livraria, a reedição me encontraria. Leio na contracapa azulada que a obra “foi [foi? no passado?] levado às telas, sob a direção de Guilherme de Almeida Prado”. Como assim? Quando?
4ª estação: festival de cinema em Fortaleza.
Tarde de terça-feira, com o meu “Dulce Veiga” debaixo do braço sigo para Fundação de Cultura da minha cidade – FUNCET. Motivo: uma palestra com Guilherme de Almeida Prado e Richard Paker. O diretor se mostra acessível e a discussão gira – fora do previsto- em torno da vida de Caio F. Guilherme avisa ainda que o filme só teria estréia nacional próximo ano. Através dele fico sabendo também que o personagem Pedro fora suprimido da trama porque, com ele, o filme ficava “datado” demais. Na saída do auditório o cineasta me revela que o melhor romance de Caio é a coletânea de cartas e que
“Geralmente ele me detonava nelas” – Disse Guilherme.
Aproveito a deixa e peço para ele autografar a carta dele anexada ao final do romance. Veja:
Saiu eufórico. Um dia relato toda aquela tarde. Mas agora interlúdio:
(Os meses passam e “como um Godot que não chega nunca”- palavras do Caio- espero Dulce Veiga.)
5ª estação: Solidariedade e movimento-sem-Dulce-Veiga
Pela internet encontra-se um expectante grupo de leitores de Caio F. à espera da “estrela que sobe”. São Vladimirs e Estragons desamparado. Migalhas são lançadas às margens da estrada: soltam um trailler na internet, uma exibição perdida em uma mostra de cinema em São Paulo, raras entrevistas na tv. Cobro de Rafael Franco (produção de lançamento). Ele diz que há um problema com a distribuidora e me recomenda ler um livro do Caio enquanto não estréia. Aceito resignado o conselho e leio “limite Branco” na virada do ano 2007-2008. Nem sinal de Dulce.
6ª estação: A premonição
Via e-mail um colega sessentão-comunista-ex-guerrilheiro-do-araguaia brinca dizendo que Dulce Veiga foi pra Amazônia, abriu uma ONG e está envolvida na questão da reserva ambiental: raposa serra do sol (é este o nome?). Fico chocado. Como ele sabia que Dulce estava na Amazônia?
7ª estação: Chega de novo o Festival de Cinema de Fortaleza
Um ano se passa. Estamos em Setembro de 2008 e “Onde andará Dulce Veiga?” abrirá o II For Rainbow. Novamente com Guilherme de Almeida Prado que fará as honras e apresentará o filme. Expectativa? Ansiedade? Êxtase?
Não.
Naquela sexta-feira, justo naquela sexta-feira, eu estava em Natal- RN, no Congresso Brasileiro de Comunicação, apresentando um trabalho. Impossível descrever a frustração. Nem a Belíssima visão da Praia de Ponta Negra da janela do meu quarto me consola. Mas havia sempre um conto de Sônia Coutinho por perto para consolar e estimular e dar idéias. Natal, mesmo sem Dulce Veiga, foi Pérsio e Santiago.
8ª estação: A estréia nacional. Nacional?
Dulce Veiga tem estréia nacional em outubro. Críticas pipocam nos sites dos grandes jornais. Mas a película não chega por aqui. A essa altura o meu exemplar autografado já está rodadíssimo.
9ª estação: Boas novas
A estréia é anunciada para dia 31 de outubro. Tensão.
10ª estação: Nova boa nova
Muito próximo da data a estréia é adiada para a metade de novembro. Os horários das sessões são impraticáveis. Decido ir para a do dia 01/12 às 10:45 da manhã.
Atenção: As 11ª e 12ª estações serão relatadas mais à frente. Elas são mais elaboradas e se chamam respectivamente “Engano” e “Encontrando Dulce Veiga”.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Finalmente Dulce Veiga...

Finalmente assisti na última segunda-feira o, há 17 meses por mim esperado, "Onde andará Dulce Veiga?".

Volto para comentar como é difícil avaliar um filme onde vc, de certa forma, esteve tão ansioso e na expectativa. Posso adiantar que o único erro grave, para mim, foi ter fundido Filemón com Patrícia. Nada a ver. No mais destaques para as interpretações-canastronas [maravilhosas] de Nuno Leal Maia (Rafic), Cristiane Torloni (Lyla Van) e, em menor grau Oscar Magrinei (Alberto Veiga .

Sem falar que Carolina Dickerman conseguiu imprimir uma certa simpatia-fragilidade, que eu não tinha vislumbrado no livro, à roqueira Márcia Felácio.

Volto, mas dessa vez eu volto, para comentar. Por enquanto faço minhas as palavras de Giselly Fleury:

Onde andarão histórias como essa?

Primeiro você começa achando pretensioso, não se conta uma história em sete capítulos, não se encontra alguém em uma semana, não se faz mais literatura como antigamente. Então você percebe que a pretensão, na verdade, chama-se genialidade, que uma semana é tempo mais do que suficiente para encontrar a si
mesmo e que a literatura, realmente, não é mais como antigamente.

[...]
Onde andará Dulce Veiga? é a maior prova de que o nada existe, de que podemos ser felizes, de que todo mundo pode um dia se achar e de que a boa e genial literatura brasileira só não é lida porque não é conhecida. E se alguma destas frases acima te tocou de alguma forma, corre e leia este livro. Você terá sete dias para mudar sua vida.

Original do site: http://www.cornflakepromises.hpg.com.br/dulceveiga.htm