Também não vou chamar Bergman de genial. Nós, sim, é que não somos geniais. Nós que não soubemos nos apossar da única coisa completa que nos é dada ao nascimento: o gênio da vida." - Clarice Lispector
Vi ontem pela primeira vez “gritos e sussurros” do Bergman no Cine Café do BNB. Eu quase perdia. Enfeitiçado por uma crônica da Clarice sobre o filme “Persona” do diretor sueco. Fiquei vendo e revendo a narrativa magistral feita por Araci Balabanian em um vídeo disponível no youtube. [Clique aqui]. Quando dei por mim faltavam 20 minutos para a projeção começar e eu ainda estava em pleno Carto. [!] Voei.
Mas eu queria mesmo era começar este post assim: vi ontem pela primeira vez “gritos e sussurros” do Bergman no Cine Café do BNB. Ao final saí quase correndo da SALA. E lembrei do Caio dizendo: “como o medonho pode ser belo e como o belo pode ser medonho.” Tal situação de fuga só tinha ocorrido no Cariri uma vez, que eu lembre, quando vi “Avental todo sujo de ovo”ainda neste ano.
Quer saber se algo me mobiliza avassaladoramente? Meça meu silêncio. Saí do BNB ventando, derramado diante de tanta “compreensão sangrada de tudo”. Recolhendo meus frangalhos me dirigi a casa pra um banho, leite quente e cama [!] em pleno sábado. Fui pro meu quarto como diz Reinaldo Arenas : "Sempre fui para a cama como quem se prepara para uma longa viagem: livros, comprimidos, copos de água, relógios, lapis, cadernos". Todo dolorido por dentro por conta de Bergman e por fora por conta da noite agitada anteriormente, desliguei o celular e vasculhei memórias, escrevi textos, retomei a leitura de “Verdade Tropical” do Caetano Veloso e esbocei um texto que provavelmente nunca tornarei público. O esqueleto dele é assim:
Algumas chaves para interpretação de Bergman:
Literárias:
A morte de Ivan Ilitch- Leon Tolstoi
Alan Poe [o barril do amontilhado?]
Ensaísticos:
Diante da dor dos outros – Susan Sontag
A solidão dos moribundos. – Elias.
O legado Cinematográficas:
O iluminado - Kubrick
A fraternidade é vermelha - Kieslowisk
Epígrafe: “É segunda feira e eu estou sofrendo”
No inicio de um texto meu sobre cinema e Ruy Casto eu disse:
“No dia em que Ingmar Bergman morreu o mundo ficou um pouco mais sombrio. Naquela mesma noite Arnaldo Jabor, Tem sua crônica do jornal da Globo, diria uma verdade contundente: Bergman era de um tempo em que filmes modificavam vidas, definiam rumos políticos, desencadeavam revoluções. Ver filme era essencial. E transformava. Seguindo a mesma linha, Bernardo Bertolucci disse certa vez que as discussões sobre cinema feitas pela geração de 68 apenas se igualaria hoje, em intensidade, ao que ocorre com o futebol.”
Comentários:
Cuidados paliativos
A vida escorrendo infeliz como em Tolstoi.
Dor essência de sentido.
Padre com palavras que parecem nem convencer a si mesmo.
Sem explicação para a dor.
A valorização das coisas triviais como na cena final.
A morte é uma suspensão do cotidiano. Uma epifania mórbida. Mas após o seu fenômeno as repetições maquinais retornam. “Tenho que dar atenção ao meu marido” A porta é aberta. A mulher austera cede. Mas ao final percebemos que a doçura da outra irmã [que se mostra bem acessível] é performance também,“Não me lembro do que disse naquele dia. Falei muitas coisas”