Tenho sido chamado para avaliar trabalhos submetidos em alguns congressos, bem como participado de outros tantos apresentando as minhas próprias pesquisas. Uma das coisas que pode ser concluída dessa experiência toda é que cada profissão/ campo da ciência produz um habitus todo próprio (Oh, novidade!) com seus aleluias e suas agonias. Persiste uma diferenciação muito peculiar que pude constatar na comparação entre as ciências sociais (antropologia, sociologia e ciência política) e as “ciências” sociais aplicadas (comunicação, serviço social, etc.): mesmo com todos os avanços, ainda é possível constatar a hipertrofia da reflexão “teórica” de um lado e do outro a confusão entre projeto de pesquisa e projeto de intervenção.
(as dificuldades de ser pesquisador no BR: e ainda nem falei de financiamento)
Nos congressos de ciências sociais tenho presenciado uma hegemonia das “etnografias”. Entretanto, a maioria daquelas pesquisas são expostas com muita descrição e pouca interpretação ou crítica. Ou seja, as descrições não eram, nos termos de Geertz, densas, mas sistemáticas. E, por conseguinte, pouco interpretativas.
Os problemas das “ciências sociais aplicadas” são de outra ordem: nos eventos do Serviço Social o grande impasse da produção científica parece ser a apropriação (imatura) do marxismo como esquema explicativo fechado e pouco criativo (note-se que estou falando da “apropriação” que é feita e não das reflexões de Marx), o que denotam caminhos e projeções seguras e livres de contradições, desdizendo o próprio marxismo. Outra vertente diz respeito aos relatos de experiências profissionais, o que, não raras vezes, transformou as sessões de apresentações em socialização de angústias técnicas e não de reflexões minimamente distanciadas.
Não estou defendendo aqui a “volta” de uma suposta “ciência positiva”, objetiva e neutra (que na verdade nunca existiu). Contudo é interessante perceber que nas chamadas “ciências sociais aplicadas” persiste essa dificuldade de certo distanciamento, ou como dizia Bourdieu, “controle das bias” em relação ao que se está estudando. Esta tese, para mim, se confirmou quando participei ainda este ano do XXXI Congresso Brasileiro de Comunicação e percebia a dificuldade dos pesquisadores em delimitarem estes campos: o da investigação e o da intervenção. Mais uma vez afirmo que não estou dizendo que esta linha esteja bem traçada e que seja possível uma disjunção entre ambas. Mas o que se apresenta complicado é exatamente o fato desta questão não ser devidamente problematizada nesses eventos, revelando que as “bias” (embora nunca totalmente controláveis) não estão sendo nem mesmo percebidas.