quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Em busca de Dulce Veiga: uma via sacra profano-virtual – Parte I

Relatos da minha peregrinação cibernética, via-crúcis virtual, o meu caminho em busca de Dulce Veiga. (1ª à 10ª estação)

1ª estação: Em orelhas.
Foi assim que Dulce Veiga apareceu para mim: Em orelhas. De livros, obviamente, Nelas estavam impressas a irremediável pergunta: onde andaria aquela mulher? E mais que isso: quem era aquela mulher? Pelo Blog do traças S/A eu teria acesso ao primeiro capítulo. Mas o início do romance de Caio Fernando Abreu não dava nenhum indício de resposta. Estamos em 2006 e o livro está fora de edição.
2ª estação: Ansioso,
vou consumindo outros escritos de Caio. Quando no meio de “Pela noite”, encontro a cantora originária de Passo da Guanxuma dentre diversas artistas:
“Remexeu nos discos sem vontade, Caetano, Gal,[...] Marina, acariciou a capa de um Erik Satie, Silvia Telles, continuou mexendo, João Gilberto, Ray Charles, Dinah Washington, Elis, várias Elis, Dulce Veiga, Nina Simone, Ângela Rô-Rô,”
3ª estação: A vida segue,
conformada e sem Dulce, porque seria praticamente impossível achá-la nos sebos daqui.
Mas numa desprenteciosa tarde de julho de 2007, entre os corredores de uma livraria, a reedição me encontraria. Leio na contracapa azulada que a obra “foi [foi? no passado?] levado às telas, sob a direção de Guilherme de Almeida Prado”. Como assim? Quando?
4ª estação: festival de cinema em Fortaleza.
Tarde de terça-feira, com o meu “Dulce Veiga” debaixo do braço sigo para Fundação de Cultura da minha cidade – FUNCET. Motivo: uma palestra com Guilherme de Almeida Prado e Richard Paker. O diretor se mostra acessível e a discussão gira – fora do previsto- em torno da vida de Caio F. Guilherme avisa ainda que o filme só teria estréia nacional próximo ano. Através dele fico sabendo também que o personagem Pedro fora suprimido da trama porque, com ele, o filme ficava “datado” demais. Na saída do auditório o cineasta me revela que o melhor romance de Caio é a coletânea de cartas e que
“Geralmente ele me detonava nelas” – Disse Guilherme.
Aproveito a deixa e peço para ele autografar a carta dele anexada ao final do romance. Veja:
Saiu eufórico. Um dia relato toda aquela tarde. Mas agora interlúdio:
(Os meses passam e “como um Godot que não chega nunca”- palavras do Caio- espero Dulce Veiga.)
5ª estação: Solidariedade e movimento-sem-Dulce-Veiga
Pela internet encontra-se um expectante grupo de leitores de Caio F. à espera da “estrela que sobe”. São Vladimirs e Estragons desamparado. Migalhas são lançadas às margens da estrada: soltam um trailler na internet, uma exibição perdida em uma mostra de cinema em São Paulo, raras entrevistas na tv. Cobro de Rafael Franco (produção de lançamento). Ele diz que há um problema com a distribuidora e me recomenda ler um livro do Caio enquanto não estréia. Aceito resignado o conselho e leio “limite Branco” na virada do ano 2007-2008. Nem sinal de Dulce.
6ª estação: A premonição
Via e-mail um colega sessentão-comunista-ex-guerrilheiro-do-araguaia brinca dizendo que Dulce Veiga foi pra Amazônia, abriu uma ONG e está envolvida na questão da reserva ambiental: raposa serra do sol (é este o nome?). Fico chocado. Como ele sabia que Dulce estava na Amazônia?
7ª estação: Chega de novo o Festival de Cinema de Fortaleza
Um ano se passa. Estamos em Setembro de 2008 e “Onde andará Dulce Veiga?” abrirá o II For Rainbow. Novamente com Guilherme de Almeida Prado que fará as honras e apresentará o filme. Expectativa? Ansiedade? Êxtase?
Não.
Naquela sexta-feira, justo naquela sexta-feira, eu estava em Natal- RN, no Congresso Brasileiro de Comunicação, apresentando um trabalho. Impossível descrever a frustração. Nem a Belíssima visão da Praia de Ponta Negra da janela do meu quarto me consola. Mas havia sempre um conto de Sônia Coutinho por perto para consolar e estimular e dar idéias. Natal, mesmo sem Dulce Veiga, foi Pérsio e Santiago.
8ª estação: A estréia nacional. Nacional?
Dulce Veiga tem estréia nacional em outubro. Críticas pipocam nos sites dos grandes jornais. Mas a película não chega por aqui. A essa altura o meu exemplar autografado já está rodadíssimo.
9ª estação: Boas novas
A estréia é anunciada para dia 31 de outubro. Tensão.
10ª estação: Nova boa nova
Muito próximo da data a estréia é adiada para a metade de novembro. Os horários das sessões são impraticáveis. Decido ir para a do dia 01/12 às 10:45 da manhã.
Atenção: As 11ª e 12ª estações serão relatadas mais à frente. Elas são mais elaboradas e se chamam respectivamente “Engano” e “Encontrando Dulce Veiga”.