"Vai ter uma festa que eu vou dançar até o sapato pedir pra parar. aí eu paro tiro o sapato e danço o resto da vida." - Chacal
"The thing about parties is, once you start, you just want more." - Andy Warhol
quinta-feira, 29 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Esperando Renato Russo.
OU MINHA RECONCILIAÇÃO COM O POETA
Consumi poucas obras em sua completude como degustei e degluti a de Renato Russo/ Legião Urbana.
Conto nos dedos as que vivenciei com igual intensidade: 1. O seriado norte-americano The Wonder years/anos incríceis. 2. A novela quatro por quatro 3. A obra de Caio Fernando Abreu 4.A obra de João Gilberto Noll [ainda estou no meio do caminho] 4. A mini-série Queridos Amigos.
Mas aquele apego ao líder da LegiãoUrbana veio ainda na adolescência e depois de alguns anos reneguei a poesia de Renato aos lirismos juvenis. Lembro que quando comecei a ouvir Cazuza [já na casa dos vinte] pensei comigo mesmo: este sim é um verdadeiro poeta. De certa forma eu negava a esteira que foi Renato Russo e sua eficácia ao dar voz a todos os sentimentos confusos da adolescência.
Pois bem. Eis que hoje durante o banho procurava uma trilha sonora para acompanhar-me. Comecei com 14 –Bis. “Nossa linda juventude, páginas de um livro bom”. Lindo mas não era isso. E eis que desenterro no meio dos CDs empoeirados do meu quarto na casa dos meus pais “A tempestade ou livro dos dias”[1996]. Que obra. Completa: introdução, desenvolvimento, desfecho e epílogo [a linda, e minha favorita, o livro dos dias]. Este álbum fora erroneamente adjetivado como “deprimido” por Daniel [não consigo decifrar o sobrenome no encarte do cd]na apresentação da antologia “mais do mesmo”[1998]. Discordo.
Na verdade aquela obra é uma longa carta/poema de adeus. Como já anuncia a epígrafe de Oswald Andrade: “O Brasil é uma/ República Federativa/ cheia de árvores e gente dizendo adeus”. Numa época em que ser diagnosticado HIV positivo era sinônimo de sentença de morte.
Contudo, há outro lado. Como disse Caio Fernando Abreu em uma de suas cartas “tenho a oportunidade de vivenciar minha morte com dignidade”. Esta parece ser uma característica comum aos artistas do final do século XX acometidos pela SIDA. É neste sentido que “A tempestade” é uma obra completa. Nela é possível perceber Renato inteiro. Fechando sua arte. E mais que isso, transformando sua morte naquilo que ele melhor sabia fazer: Poesia.
Pinço, não por acaso, a música “Esperando por mim”. Enquanto eu jantava ainda há pouco, pois esta é a faixa 13 e eu já havia terminado o banho, percebi como aquela é uma música serena, autoconsciente. Também inteira. E como Renato Russo estabelece um vínculo [proposital ou não] com a novela “Way we live now”[“assim vivemos agora”] da extraordinária ensaísta e romancista norte-americana Susan Sontag[foto]. Quando ele afirma a resistência da vida: “estamos vivendo/ e o que disseram/ os nossos dias serão para sempre”. Impossível não associar ao livro de Sontag quando quando o narrador afirma: "Eu estava pensando, Úrsula disse a Quentin, que a diferença entre uma história e uma pintura ou uma fotografia é que numa história você pode escrever 'Ele continua vivo'. Mas numapintura ou numa foto não dá para representar esse 'continua'. Você pode apenasmostrá-lo estando vivo. Ele continua vivo, Stephen disse"
Na música a valorização das pequenas verdades encravadas no cotidiano, sem arroubos de romantismo: “Hoje não estava nada bem/ mas a tempestade me distrai/ gosto dos pingos de chuva/ dos relâmpagos e dos trovões” ou ainda quando diz “hoje a tarde foi um dia bom/ sai pra caminhar com meu pai/ Conversamos sobre coisas da vida e tivemos um momento de paz”. Contudo Renato, como já disse, não nos coloca diante de esperanças descabidas ou de transcendências confortadoras e também não nos esconde o pavor diante da morte: “e é de noite que tudo faz sentido/ no silêncio não ouço meus gritos”. Como dizia meu professor de Tanatologia, a morte é o único fenômeno da vida pessoal e intransferível. Ninguém pode vivenciá-la por nós.
Retomo a frase chave de “Esperando por mim”: “estamos vivendo”. Contra todas as previsões o corpo permanece vivo e acolhido por aqueles que o esperam: os pais, os verdadeiros amigos, o filho.
Note-se que este “estamos vivendo” é bem diferente da frase contida na música de abertura, “Natália” cheia de rancor, intenções digamos de visibilidade, quase militante, da morte e cheia de esperanças “nos trevos de quatro folhas/ a escuridão ainda é pior que esta luz cinza/ MAS ESTAMOS VIVOS AINDA”.
Ao contrário dela, Renato encerra “Esperando por mim” voltando para dentro de si, dos fechamentos das gestalts cotidianas dizendo que sim, “estamos vivendo/ E o que disserem/ os nossos dias serão para sempre”.
Consumi poucas obras em sua completude como degustei e degluti a de Renato Russo/ Legião Urbana.
Conto nos dedos as que vivenciei com igual intensidade: 1. O seriado norte-americano The Wonder years/anos incríceis. 2. A novela quatro por quatro 3. A obra de Caio Fernando Abreu 4.A obra de João Gilberto Noll [ainda estou no meio do caminho] 4. A mini-série Queridos Amigos.
Mas aquele apego ao líder da LegiãoUrbana veio ainda na adolescência e depois de alguns anos reneguei a poesia de Renato aos lirismos juvenis. Lembro que quando comecei a ouvir Cazuza [já na casa dos vinte] pensei comigo mesmo: este sim é um verdadeiro poeta. De certa forma eu negava a esteira que foi Renato Russo e sua eficácia ao dar voz a todos os sentimentos confusos da adolescência.
Pois bem. Eis que hoje durante o banho procurava uma trilha sonora para acompanhar-me. Comecei com 14 –Bis. “Nossa linda juventude, páginas de um livro bom”. Lindo mas não era isso. E eis que desenterro no meio dos CDs empoeirados do meu quarto na casa dos meus pais “A tempestade ou livro dos dias”[1996]. Que obra. Completa: introdução, desenvolvimento, desfecho e epílogo [a linda, e minha favorita, o livro dos dias]. Este álbum fora erroneamente adjetivado como “deprimido” por Daniel [não consigo decifrar o sobrenome no encarte do cd]na apresentação da antologia “mais do mesmo”[1998]. Discordo.
Na verdade aquela obra é uma longa carta/poema de adeus. Como já anuncia a epígrafe de Oswald Andrade: “O Brasil é uma/ República Federativa/ cheia de árvores e gente dizendo adeus”. Numa época em que ser diagnosticado HIV positivo era sinônimo de sentença de morte.
Contudo, há outro lado. Como disse Caio Fernando Abreu em uma de suas cartas “tenho a oportunidade de vivenciar minha morte com dignidade”. Esta parece ser uma característica comum aos artistas do final do século XX acometidos pela SIDA. É neste sentido que “A tempestade” é uma obra completa. Nela é possível perceber Renato inteiro. Fechando sua arte. E mais que isso, transformando sua morte naquilo que ele melhor sabia fazer: Poesia.
Pinço, não por acaso, a música “Esperando por mim”. Enquanto eu jantava ainda há pouco, pois esta é a faixa 13 e eu já havia terminado o banho, percebi como aquela é uma música serena, autoconsciente. Também inteira. E como Renato Russo estabelece um vínculo [proposital ou não] com a novela “Way we live now”[“assim vivemos agora”] da extraordinária ensaísta e romancista norte-americana Susan Sontag[foto]. Quando ele afirma a resistência da vida: “estamos vivendo/ e o que disseram/ os nossos dias serão para sempre”. Impossível não associar ao livro de Sontag quando quando o narrador afirma: "Eu estava pensando, Úrsula disse a Quentin, que a diferença entre uma história e uma pintura ou uma fotografia é que numa história você pode escrever 'Ele continua vivo'. Mas numapintura ou numa foto não dá para representar esse 'continua'. Você pode apenasmostrá-lo estando vivo. Ele continua vivo, Stephen disse"
Na música a valorização das pequenas verdades encravadas no cotidiano, sem arroubos de romantismo: “Hoje não estava nada bem/ mas a tempestade me distrai/ gosto dos pingos de chuva/ dos relâmpagos e dos trovões” ou ainda quando diz “hoje a tarde foi um dia bom/ sai pra caminhar com meu pai/ Conversamos sobre coisas da vida e tivemos um momento de paz”. Contudo Renato, como já disse, não nos coloca diante de esperanças descabidas ou de transcendências confortadoras e também não nos esconde o pavor diante da morte: “e é de noite que tudo faz sentido/ no silêncio não ouço meus gritos”. Como dizia meu professor de Tanatologia, a morte é o único fenômeno da vida pessoal e intransferível. Ninguém pode vivenciá-la por nós.
Retomo a frase chave de “Esperando por mim”: “estamos vivendo”. Contra todas as previsões o corpo permanece vivo e acolhido por aqueles que o esperam: os pais, os verdadeiros amigos, o filho.
Note-se que este “estamos vivendo” é bem diferente da frase contida na música de abertura, “Natália” cheia de rancor, intenções digamos de visibilidade, quase militante, da morte e cheia de esperanças “nos trevos de quatro folhas/ a escuridão ainda é pior que esta luz cinza/ MAS ESTAMOS VIVOS AINDA”.
Ao contrário dela, Renato encerra “Esperando por mim” voltando para dentro de si, dos fechamentos das gestalts cotidianas dizendo que sim, “estamos vivendo/ E o que disserem/ os nossos dias serão para sempre”.
Aos 30 anos de “Em algum lugar do passado”
Este ano fazem três décadas desde que foi rodado um dos filmes mais marcantes na minha vida. E isso pode ser muito pessoal. “Em algum lugar do passado” (1980) com Christopher Reever [o eterno superman no esplendor de sua forma e aquele ar encantador de comicidade involuntária].
Assisti o filme ainda criança numa sessão de sábado e confesso que não me lembrava o quanto possuía diálogos bem pieguinhas. Mas quem se importa? Na adolescência [1997] li o romance que deu origem ao filme: “Bid time Retorn”. Reassisti o filme alugado em 2006. Dei-o de presente á minha irmã mais nova em 2008. E agora, nas férias, assisti de novo pela, deixe-me ver, quarta vez.
Desta vez uma das coisas que mais me chamou atenção foi uma frase do personagem Richard quando ele diz: "You have no idea how far I've come to be with you“ [Você não tem noção de quão longe eu vim para estar aqui com você]. A apartação, mais que geográfica, aqui é temporal. O filme, escandalosamente inspirado nos romances românticos, com música também do romantismo, é uma bela ilustração do que fazemos quando estamos apaixonados. Já dizia o dito popular: “Tens um inimigo, deseja-lhe uma paixão”. Como corremos e piegamente movemos céus e terras para ficar ao lado da pessoa amada. Lembro de Pessoa. Todas as cartas de amor não são ridículas? Bem, este post também.
Amor é isto[trecho do roteiro. Tradução minha]:
http://www.youtube.com/watch?v=brv78GxG5LE&feature=related
- When can I see you today? [A que horas posso te ver ainda hoje?]
- I shall be rehearsing all day. [eu vou estar o dia todo ensaiando]
- All day? That's crazy! You can't... [o dia todo! Isso é loucura! Eu não posso…]
- Shh! Don't wake her up. [Sh! Você vai acordá-la]
- Will you walk with me? Can you do that much? [Você vai passear comigo? Pode fazer isso?]
-I can't. [não posso]
- Young woman, if you do not walk with me, I shall go mad! Positively insane, and do crazed things to myself. [Olha se você não vir passear comigo eu vou ficar doido. Insano, e fazer besteira comigo mesmo.]
- Shhhhh [Shhh]
- Walk with me. Please. Say, "Richard" - that's me -"Thank you"."I would love to walk with you, and talk with you, and get to know you, and...not be afraid of you and resolve everything.". Say "Yes". [Vamos comigo. Por favor. É só dizer. “Richard” – que sou eu – “obrigado”. “Eu adoraria passear, conversar e conhecer você... não ter medo de você e esclarecer tudo”. Diga que sim.]
- Yes.One o'clock. Outside the hotel.[Sim. Uma da tarde. Do lado de for a do Hotel]
- She's crazy about me.[Ela é louquinha por mim.]
Assisti o filme ainda criança numa sessão de sábado e confesso que não me lembrava o quanto possuía diálogos bem pieguinhas. Mas quem se importa? Na adolescência [1997] li o romance que deu origem ao filme: “Bid time Retorn”. Reassisti o filme alugado em 2006. Dei-o de presente á minha irmã mais nova em 2008. E agora, nas férias, assisti de novo pela, deixe-me ver, quarta vez.
Desta vez uma das coisas que mais me chamou atenção foi uma frase do personagem Richard quando ele diz: "You have no idea how far I've come to be with you“ [Você não tem noção de quão longe eu vim para estar aqui com você]. A apartação, mais que geográfica, aqui é temporal. O filme, escandalosamente inspirado nos romances românticos, com música também do romantismo, é uma bela ilustração do que fazemos quando estamos apaixonados. Já dizia o dito popular: “Tens um inimigo, deseja-lhe uma paixão”. Como corremos e piegamente movemos céus e terras para ficar ao lado da pessoa amada. Lembro de Pessoa. Todas as cartas de amor não são ridículas? Bem, este post também.
Amor é isto[trecho do roteiro. Tradução minha]:
http://www.youtube.com/watch?v=brv78GxG5LE&feature=related
- When can I see you today? [A que horas posso te ver ainda hoje?]
- I shall be rehearsing all day. [eu vou estar o dia todo ensaiando]
- All day? That's crazy! You can't... [o dia todo! Isso é loucura! Eu não posso…]
- Shh! Don't wake her up. [Sh! Você vai acordá-la]
- Will you walk with me? Can you do that much? [Você vai passear comigo? Pode fazer isso?]
-I can't. [não posso]
- Young woman, if you do not walk with me, I shall go mad! Positively insane, and do crazed things to myself. [Olha se você não vir passear comigo eu vou ficar doido. Insano, e fazer besteira comigo mesmo.]
- Shhhhh [Shhh]
- Walk with me. Please. Say, "Richard" - that's me -"Thank you"."I would love to walk with you, and talk with you, and get to know you, and...not be afraid of you and resolve everything.". Say "Yes". [Vamos comigo. Por favor. É só dizer. “Richard” – que sou eu – “obrigado”. “Eu adoraria passear, conversar e conhecer você... não ter medo de você e esclarecer tudo”. Diga que sim.]
- Yes.One o'clock. Outside the hotel.[Sim. Uma da tarde. Do lado de for a do Hotel]
- She's crazy about me.[Ela é louquinha por mim.]
Feliz! Feliz!
domingo, 25 de julho de 2010
OLHARES EM TRÂNSITO
Vai o link do novo texto meu [9º]publicado no overmundo:
http://www.overmundo.com.br/banco/olhares-em-transito-na-obra-de-caio-fernando-abreu
O título original seria: "Olhares em trânsito: um possível fio condutor para vida e obra de Caio Fernando Abreu". Mas ficou muito grande. Como grande também ficou o texto. Então transcrevo aqui apenas o começo: Denominado por Lygia Fagundes Telles como um “encantador de serpentes” e um “biógrafo das emoções contemporâneas” Caio Fernando Abreu tem sido redescoberto por uma geração que não o conheceu, mas que avidamente consome seus textos. Nos anos 2000 sua obra foi completamente reeditada, seus textos montados no teatro como nunca em vida e sua morte, como disse Maria Adelaide Amaral, pranteada por milhares de apreciadores. Basta consulta o site de relacionamentos Orkut, com uma comunidade virtual dedicada ao autor que possui mais de vinte e cinco mil participantes, para confirmar este fato.
Tal fenômeno não acontece por acaso, pois além de fornecer um retrato do país e da geração do final do século XX, da perplexidade diante da falência do projeto político da contracultura e do refluxo nas sexualidades com o advento da AIDS, Caio Fernando Abreu é o escritor brasileiro que, juntamente com a poeta Ana Cristina Cesar, antecipou o estilo da novíssima literatura brasileira de início de século XX. Estes autores já apresentavam em seus textos de 1970 uma linguagem confessional, “ligeira”, sem pedantismos ou academicismos. Características marcantes das linguagens presentes hoje nos blogs e hipertextos elaborados em especial pela juventude no ciberespaço. Não é à toa o imenso sucesso destes autores nos espaços virtuais. Seus textos antecipam uma forma de expressão numa época em que não existia nem mesmo email e que computador pessoal era artigo de luxo.
A interlocução da obra de Caio Fernando Abreu com o fenômeno virtual nos mostra a ampliação do conceito de deslocamento que passa, com o advento da Internet, a ser não mais apenas geográfico, mas também virtual através da possibilidade (desigual e conflituosa) de interação entre as diversas culturas. No âmbito dos Estudos Culturais, autores como Stuart Hall, Homi Bhabha e Nestor Garcia Canclini têm refletido sobre estas questões de fronteiras, diásporas e hibridações culturais. Tal fenômeno do não-pertencimento, do estranhamento, tão presentes na obra estrangeira de Caio Fernando Abreu, parece ser um profícuo fio condutor de análise da obra do autor e de nossos tempos.[...]
Caio viveu em trânsito tendo plena consciência de que, como disse sua amiga e interlocutora Ana Cristina Cesar, “é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço”. Seja ele virtual ou não.
http://www.overmundo.com.br/banco/olhares-em-transito-na-obra-de-caio-fernando-abreu
O título original seria: "Olhares em trânsito: um possível fio condutor para vida e obra de Caio Fernando Abreu". Mas ficou muito grande. Como grande também ficou o texto. Então transcrevo aqui apenas o começo: Denominado por Lygia Fagundes Telles como um “encantador de serpentes” e um “biógrafo das emoções contemporâneas” Caio Fernando Abreu tem sido redescoberto por uma geração que não o conheceu, mas que avidamente consome seus textos. Nos anos 2000 sua obra foi completamente reeditada, seus textos montados no teatro como nunca em vida e sua morte, como disse Maria Adelaide Amaral, pranteada por milhares de apreciadores. Basta consulta o site de relacionamentos Orkut, com uma comunidade virtual dedicada ao autor que possui mais de vinte e cinco mil participantes, para confirmar este fato.
Tal fenômeno não acontece por acaso, pois além de fornecer um retrato do país e da geração do final do século XX, da perplexidade diante da falência do projeto político da contracultura e do refluxo nas sexualidades com o advento da AIDS, Caio Fernando Abreu é o escritor brasileiro que, juntamente com a poeta Ana Cristina Cesar, antecipou o estilo da novíssima literatura brasileira de início de século XX. Estes autores já apresentavam em seus textos de 1970 uma linguagem confessional, “ligeira”, sem pedantismos ou academicismos. Características marcantes das linguagens presentes hoje nos blogs e hipertextos elaborados em especial pela juventude no ciberespaço. Não é à toa o imenso sucesso destes autores nos espaços virtuais. Seus textos antecipam uma forma de expressão numa época em que não existia nem mesmo email e que computador pessoal era artigo de luxo.
A interlocução da obra de Caio Fernando Abreu com o fenômeno virtual nos mostra a ampliação do conceito de deslocamento que passa, com o advento da Internet, a ser não mais apenas geográfico, mas também virtual através da possibilidade (desigual e conflituosa) de interação entre as diversas culturas. No âmbito dos Estudos Culturais, autores como Stuart Hall, Homi Bhabha e Nestor Garcia Canclini têm refletido sobre estas questões de fronteiras, diásporas e hibridações culturais. Tal fenômeno do não-pertencimento, do estranhamento, tão presentes na obra estrangeira de Caio Fernando Abreu, parece ser um profícuo fio condutor de análise da obra do autor e de nossos tempos.[...]
Caio viveu em trânsito tendo plena consciência de que, como disse sua amiga e interlocutora Ana Cristina Cesar, “é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço”. Seja ele virtual ou não.
sábado, 24 de julho de 2010
A simplicidade dos grandes
Tenho tido o privilégio de ter alguns Lezamas Limas na minha vida. Vai então aqui uma pequena homenagem a estes caros e queridos amigos representados no tributo àquele outro cubanolindo, Lemeza Lima:
“Lezama possuía o estranho privilégio de irradiar uma vitalidade criadora. Por isso mesmo, conversar com ele significava voltar para casa e sentar-se diante da máquina de escrever: era impossível ouvir aquele homem e não ficar inspirado. Nele, a sabedoria associava-se á inocência. Tinha o dom de dar um sentido à vida dos outros.
A primeira paixão de Lezama era a leitura. Além do mais, tinha o dom crioulo da boa risada, da brincadeira; a risada de Lezama era algo inesquecível, contagiante, que não deixava ninguém sentir-se infeliz. Ele passava das conversas mais esotéricas às banalidades circunstanciais; podia interromper seu discurso sobre cultura grega para perguntar se era verdade que José Triana não praticava mais sodomia. Podia também dignificar as cosias mais simples, transformando-as em algo grandioso” (Reinaldo Arenas em suas auto-biografia: “Antes que Anoiteça”)
“Lezama possuía o estranho privilégio de irradiar uma vitalidade criadora. Por isso mesmo, conversar com ele significava voltar para casa e sentar-se diante da máquina de escrever: era impossível ouvir aquele homem e não ficar inspirado. Nele, a sabedoria associava-se á inocência. Tinha o dom de dar um sentido à vida dos outros.
A primeira paixão de Lezama era a leitura. Além do mais, tinha o dom crioulo da boa risada, da brincadeira; a risada de Lezama era algo inesquecível, contagiante, que não deixava ninguém sentir-se infeliz. Ele passava das conversas mais esotéricas às banalidades circunstanciais; podia interromper seu discurso sobre cultura grega para perguntar se era verdade que José Triana não praticava mais sodomia. Podia também dignificar as cosias mais simples, transformando-as em algo grandioso” (Reinaldo Arenas em suas auto-biografia: “Antes que Anoiteça”)
terça-feira, 20 de julho de 2010
Revendo a crise do macho em "Sobre meninos e lobos":
Acabo de assistir novamente Sobre Meninos e Lobos. e Re-confirmo duas questões
1ª Odeio o final do filme [para mim ele acabaria na connversa de Kevin Bacon com a mulher.
2º Continuo achando que o centro da discussão da obra é a crise do Macho.
Se me perguntassem de que se trata o enredo do filme “Sobre meninos e lobos” eu diria: “é um filme que fala sobre homens tentando elaborar a experiência da dor”. Ontem pela primeira vez (re-)assisti a esse filme. E confesso que adiei durante um certo tempo, fingindo não vê-lo na prateleira da locadora. A narrativa conduzida por Eastwood por trás das Câmeras, para além de um roteiro que fala sobre família, amizade, infância perdida trás uma outra questão que se impõe e ultrapassa o mero pano de fundo: A narração estetizada da crise do Masculino. Há neste sentido uma metanarrativa. Ou ainda uma metadireção.
Entretanto trato a “crise” aqui, palavra cara aos nossos tempos, não no sentido apenas trágico e menos ainda no sentido anti-trágico-espetacularizado como o termo vem sendo apropriado na contemporaneidade. Mas a “Crise” aproximada ao sentido atribuído por Walter Benjamim, a saber, o moderno é a crise e não apenas no sentido econômico e político mas também filosófico.
Logo, não se trata aqui de discutir algumas surradas banalidades apropriadas pela mídia como: metrosexualidade, a síndrome de Peter Pan ou Remédios para disfunção erétil. O que parece estar subtendido no cinema produzido por Eastwood é um “sinal” de um Tipo masculino contemporâneo cada vez mais freqüente: o homem “durão” que começa a elaborar “cinematograficamente”(no caso de Eastwood) sentimentos que lhe foram historicamente interditos. Eastwood passeia com segurança por dimensões afetivas do Self made Man explicitando por vezes a ausência de signos e códigos que poderiam mediar as emoções e situações de sofrimentos experimentados por seus personagens masculinos. Simultaneamente a isto o diretor empreende uma estética narrativa extremamente sensível sem cair em “delicaderismos” que poderiam soar artificial. Traduz aí a descentralização falocêntrica da sociedade ou mais especificamente a permissão à vivência da dor. Lembremos da Conversas do Personagem Jimmy e o seu Sogro. Um diálogo incômodo onde os dois se acusam e questionam acerca dos sentimentos vivenciados diante da perda de filhas. É nesta cena específica onde o personagem de Sean Pean coloca de lado a figura do genitor-que-deve-dar-suporte-ao-resto-da-família e se auto-autorizara ao sofrimento diante da perda. Ou poderíamos destacar ainda as cenas de Tim Robins atormentado pelas lembranças das violências sexuais vividas na infância e o Personagem de Kevin Bacon que passa o filme todo recebendo ligações mudas da mulher que o abandonara a seis meses.
Como ficar indiferente diante da dor de Jimmy ao perceber que o corpo no Parque era o de sua filha? Mas o diretor vai além dessas (importantes) evidências. Todo o filme é costurado por uma ausência de signos diante de uma realidade que se transmutou consideravelmente em vinte anos: a do universo masculino como provedor material e emocional do lar. Percebemos isto muito mais nos corpos dos personagens que propriamente na transmutação do cenário da infância em adulto. Neste sentido o distanciamento entre os três amigos de infância traduz a centralidade desta metáfora: São três Homens Chefe de Família e desolados, levando suas existências, tateando. É aqui que a poeticidade da fotografia e da direção lançam mão das “pequenas” evidências desta crise do masculino. Este “novo” homem aparece não mais como o Porto Seguro em posturas austeras, inabaláveis diante do trágico. Ao contrário, as câmeras passeiam registrando os berros, choros, convulsões e silêncios. Com a ajuda dos típicos “closes” holiwoodianos vemos que os personagens não é nem o super homem nietezchiano, nem tão pouco adotam uma transcrição mecânica dos melodramas historicamente rotulados como femininos para o universo masculino. O sucesso de Eastwood parece estar neste ponto. Na tradução do não-gesto, da ausência de mediações, do trucado, da fúria que explode diante do inevitável e do indizível.
Não se trata portanto, também de proclamar o desaparecimento do “macho” mas, volto a dizer, trata-se sobretudo do flagrante promovidos pelas câmeras diante da tentativa de elaboração sentimental. Esta tese se confirma em uma das cenas finais onde o Personagem de Kevin Bacon recebe o último telefonema da esposa e ao invés de pedir explicações acerca de seu paradeiro, lhe pede desculpas e admite o erro. Neste momento ela finalmente fala. Ou seja. Há a tradução lingüística de sentimentos e a comunicação enfim é estabelecida.
1ª Odeio o final do filme [para mim ele acabaria na connversa de Kevin Bacon com a mulher.
2º Continuo achando que o centro da discussão da obra é a crise do Macho.
Se me perguntassem de que se trata o enredo do filme “Sobre meninos e lobos” eu diria: “é um filme que fala sobre homens tentando elaborar a experiência da dor”. Ontem pela primeira vez (re-)assisti a esse filme. E confesso que adiei durante um certo tempo, fingindo não vê-lo na prateleira da locadora. A narrativa conduzida por Eastwood por trás das Câmeras, para além de um roteiro que fala sobre família, amizade, infância perdida trás uma outra questão que se impõe e ultrapassa o mero pano de fundo: A narração estetizada da crise do Masculino. Há neste sentido uma metanarrativa. Ou ainda uma metadireção.
Entretanto trato a “crise” aqui, palavra cara aos nossos tempos, não no sentido apenas trágico e menos ainda no sentido anti-trágico-espetacularizado como o termo vem sendo apropriado na contemporaneidade. Mas a “Crise” aproximada ao sentido atribuído por Walter Benjamim, a saber, o moderno é a crise e não apenas no sentido econômico e político mas também filosófico.
Logo, não se trata aqui de discutir algumas surradas banalidades apropriadas pela mídia como: metrosexualidade, a síndrome de Peter Pan ou Remédios para disfunção erétil. O que parece estar subtendido no cinema produzido por Eastwood é um “sinal” de um Tipo masculino contemporâneo cada vez mais freqüente: o homem “durão” que começa a elaborar “cinematograficamente”(no caso de Eastwood) sentimentos que lhe foram historicamente interditos. Eastwood passeia com segurança por dimensões afetivas do Self made Man explicitando por vezes a ausência de signos e códigos que poderiam mediar as emoções e situações de sofrimentos experimentados por seus personagens masculinos. Simultaneamente a isto o diretor empreende uma estética narrativa extremamente sensível sem cair em “delicaderismos” que poderiam soar artificial. Traduz aí a descentralização falocêntrica da sociedade ou mais especificamente a permissão à vivência da dor. Lembremos da Conversas do Personagem Jimmy e o seu Sogro. Um diálogo incômodo onde os dois se acusam e questionam acerca dos sentimentos vivenciados diante da perda de filhas. É nesta cena específica onde o personagem de Sean Pean coloca de lado a figura do genitor-que-deve-dar-suporte-ao-resto-da-família e se auto-autorizara ao sofrimento diante da perda. Ou poderíamos destacar ainda as cenas de Tim Robins atormentado pelas lembranças das violências sexuais vividas na infância e o Personagem de Kevin Bacon que passa o filme todo recebendo ligações mudas da mulher que o abandonara a seis meses.
Como ficar indiferente diante da dor de Jimmy ao perceber que o corpo no Parque era o de sua filha? Mas o diretor vai além dessas (importantes) evidências. Todo o filme é costurado por uma ausência de signos diante de uma realidade que se transmutou consideravelmente em vinte anos: a do universo masculino como provedor material e emocional do lar. Percebemos isto muito mais nos corpos dos personagens que propriamente na transmutação do cenário da infância em adulto. Neste sentido o distanciamento entre os três amigos de infância traduz a centralidade desta metáfora: São três Homens Chefe de Família e desolados, levando suas existências, tateando. É aqui que a poeticidade da fotografia e da direção lançam mão das “pequenas” evidências desta crise do masculino. Este “novo” homem aparece não mais como o Porto Seguro em posturas austeras, inabaláveis diante do trágico. Ao contrário, as câmeras passeiam registrando os berros, choros, convulsões e silêncios. Com a ajuda dos típicos “closes” holiwoodianos vemos que os personagens não é nem o super homem nietezchiano, nem tão pouco adotam uma transcrição mecânica dos melodramas historicamente rotulados como femininos para o universo masculino. O sucesso de Eastwood parece estar neste ponto. Na tradução do não-gesto, da ausência de mediações, do trucado, da fúria que explode diante do inevitável e do indizível.
Não se trata portanto, também de proclamar o desaparecimento do “macho” mas, volto a dizer, trata-se sobretudo do flagrante promovidos pelas câmeras diante da tentativa de elaboração sentimental. Esta tese se confirma em uma das cenas finais onde o Personagem de Kevin Bacon recebe o último telefonema da esposa e ao invés de pedir explicações acerca de seu paradeiro, lhe pede desculpas e admite o erro. Neste momento ela finalmente fala. Ou seja. Há a tradução lingüística de sentimentos e a comunicação enfim é estabelecida.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Acima do sublime
“Quando Ella [Fitzgerard] canta que o homem dela foi embora, você pensa que Ele foi á esquina comprar cigarros. Mas, quando Lady [Billy Holliday] cantava a mesma frase, vice podia ver o sujeito fazendo as malas, pegando o carro e indo embora para sempre” Tony Scotty citado por Ruy Castro em “Saudades do Século XX”
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Pela chapada do Araripe
Fui com minhas visitas em casa dar uma rodada pelas oculta beleza natural do Cariri. Para quem pensa que o interior do Ceará é seca e chão rachado aqui vão algumas IMAGENS. Recolhidas da net pois esqueci a máquina em casa.
Interessante perceber a divisão de classe à medida que se sobe chapada:
Primeira (quase) parada: Balneário público Nascente
Segunda parada: Oasis
Terceira parada: ... Recanto da serra
Eu no recanto da serra
Quarta parada: Passárgada.
fonte>: site do hotelUm local auto-intitulado para descanso. High Level, Com chalés simpáticos. Mas com um forrozão e pagodão IMSUPORTÀVEL “truando” do início ao fim da nossa passada por lá. Achei o mais chato dos quatro.
No final descemos a chapada e fomos beber e jogar sinuca mesmo no estação-café, bar “alternativo” localizado no pezinho da serra. Lá pelo menos eu pude avançar na leitura do Reinaldo Arenas, errar tacadas e conversas com os amigos.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Sem Ezequiel Neves, blues
Paixão cruel desenfreada/Te trago mil rosas roubadas/ Pra desculpar minhas mentiras/ Minhas mancadas" [Cazuza, Neves, Leoni]
terça-feira, 6 de julho de 2010
Retomando Arenas
No meidomundo, escolhi como companhia destes dias o inacreditável Texto do "Cubano lindo" Reinaldo Arenas. Sua autobiografia intitulada: "Antes que anoiteça" [e transformada em filme sob o título Antes do Anoitecer] é considerada por Caio Fernando Abreu um dos 3 livros mais pungentes que o escritor gaúcho lera. E ninguém melhor do que Caio F. [editei a crônica]para introduzir este Cubano sangrante:
UM UIVO EM MEMÓRIA DE REINALDO ARENAS
Por: Caio Fernando Abreu
Acaba de ser lançado no Brasil [1994] um dos livros mais belos que conheço: Antes que anoiteça (Editora Record), autobiografia do cubano Reinaldo Arenas. “Belo” não seria o adjetivo exato. Pungente talvez, pois comove e rasga. Destemido, dilacerado, desesperado e sobretudo vivo de vida pulsante, sangrenta. Em chagas, tão impudicamente exposto. Mas adjetivos pouco importam. Importa o livro, a vida crua que ele revela. [...] Foi numa noite de tempestade, loucas gaivotas batiam-se contra as vidraças do terraço. Insone fiquei lendo Méditations de Saint -Nazaire, de Arenas, que só vagamente conhecia (Celestino antes dei alba, El mundo alucinante).
Impressionado com o texto, decorei suas últimas palavras: “Aún nossie ete El sitio dondeyo puedavivir. Talvez para um desterrado — como la palabra lo indica — no hayasitio en la Tíerra. Sólo quiera pedirle a ete cielo resplandecientey a este mar, que poruno días aúnpodré contemplar, que acojan mi terror”. Repeti feito oração, e dormi. [...]
Sua autobiografia, este Antes que anoiteça. Consegui o livro em francês e em Paris, num quartinho alugado com Dominique Bach, produtora da cantora cabo-verdiana Cesária Évora, durante um fevereiro gelado, no coração da barra pesada de Château d’Eau, mastiguei suas últimas palavras como se fossem cacos de vidro. Não suportava ler, nem conseguia parar. Jamais sofri tanto com um livro — nem mesmo Fome, de Knut Hamsum, ou A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói.
(ANTES DO ANOITECER, O FILME estrelado por Javier Bardem)
Leiam também vocês se não têm medo da dor e da verdade. Censurado, perseguido e preso em Cuba por homossexualismo, Arenas fugiu para Miami, primeira estação do seu calvário de solidão e exílio, dedicando-se a desmascarar figurões tipo García Márquez, Severo Sarduy, Eduardo Galeano, Julio Cortázar e outros asseclas de Fidel Castro, que odiava. Livra a cara de pouco — Lezama Lima e Virgilio Piuiera, malditos (e grandes) como ele. Transbordava amor: à vida, aos rapazes, à literatura.
Voltando ao Brasil, tentei traduzi-lo. Ninguém quis. Muito deprimente, diziam, pouco comercial. Mas como o Deus das Laikas (e Arenas foi a maior de todas) tarda mas não falha, saiu agora. Leiam. Pelo bravo homem que ele foi, e também para aprender a valorizar o que se tem, mas não se preza. Depois uivem para o infinito em memória desse cubano lindo, desventurado, heróico. Requiem scat in pace, hermoso compafíero
O Estado de S Paulo, 27/11/1994
UM UIVO EM MEMÓRIA DE REINALDO ARENAS
Por: Caio Fernando Abreu
Acaba de ser lançado no Brasil [1994] um dos livros mais belos que conheço: Antes que anoiteça (Editora Record), autobiografia do cubano Reinaldo Arenas. “Belo” não seria o adjetivo exato. Pungente talvez, pois comove e rasga. Destemido, dilacerado, desesperado e sobretudo vivo de vida pulsante, sangrenta. Em chagas, tão impudicamente exposto. Mas adjetivos pouco importam. Importa o livro, a vida crua que ele revela. [...] Foi numa noite de tempestade, loucas gaivotas batiam-se contra as vidraças do terraço. Insone fiquei lendo Méditations de Saint -Nazaire, de Arenas, que só vagamente conhecia (Celestino antes dei alba, El mundo alucinante).
Impressionado com o texto, decorei suas últimas palavras: “Aún nossie ete El sitio dondeyo puedavivir. Talvez para um desterrado — como la palabra lo indica — no hayasitio en la Tíerra. Sólo quiera pedirle a ete cielo resplandecientey a este mar, que poruno días aúnpodré contemplar, que acojan mi terror”. Repeti feito oração, e dormi. [...]
Sua autobiografia, este Antes que anoiteça. Consegui o livro em francês e em Paris, num quartinho alugado com Dominique Bach, produtora da cantora cabo-verdiana Cesária Évora, durante um fevereiro gelado, no coração da barra pesada de Château d’Eau, mastiguei suas últimas palavras como se fossem cacos de vidro. Não suportava ler, nem conseguia parar. Jamais sofri tanto com um livro — nem mesmo Fome, de Knut Hamsum, ou A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói.
(ANTES DO ANOITECER, O FILME estrelado por Javier Bardem)
Leiam também vocês se não têm medo da dor e da verdade. Censurado, perseguido e preso em Cuba por homossexualismo, Arenas fugiu para Miami, primeira estação do seu calvário de solidão e exílio, dedicando-se a desmascarar figurões tipo García Márquez, Severo Sarduy, Eduardo Galeano, Julio Cortázar e outros asseclas de Fidel Castro, que odiava. Livra a cara de pouco — Lezama Lima e Virgilio Piuiera, malditos (e grandes) como ele. Transbordava amor: à vida, aos rapazes, à literatura.
Voltando ao Brasil, tentei traduzi-lo. Ninguém quis. Muito deprimente, diziam, pouco comercial. Mas como o Deus das Laikas (e Arenas foi a maior de todas) tarda mas não falha, saiu agora. Leiam. Pelo bravo homem que ele foi, e também para aprender a valorizar o que se tem, mas não se preza. Depois uivem para o infinito em memória desse cubano lindo, desventurado, heróico. Requiem scat in pace, hermoso compafíero
O Estado de S Paulo, 27/11/1994
sábado, 3 de julho de 2010
E eu nem senti
Desde a copa comprada de 1998 [que eu gravei toda em VHS pro marido da minha Avó. Pois naquela época não havia youtube, tv digital e toda esse munturo eletrônico que existe hoje] eu nunca mais tinha assitido um jogo de copa.
Sem esforço.
Sem birra.
Sem olhadas de relance
Nem perguntas "gol de quem?"
Traumas de Copa do mundo:
Corta pra copa de 1990: eu com seis anos chorando com o braço preso numa cadeira e todo mundo vidrado na performance futelolísitica do. Do? Não lembro.
Pior que papai noel e palhaço do cine trash
Depois teve aquela até legalzinha de 1994, album de figurinhas, eu com 11 anos [não lembro onde vi a final].
Depois 1998, o roubo. A de 2002 sono na madrugada. A de 2006 tédio na tarde.
E agora essa.
Começou com aquela copa de madrugada.
eu nem levantava.
E a copa perdeu qualquer sentido.
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