domingo, 25 de julho de 2010

OLHARES EM TRÂNSITO

Vai o link do novo texto meu [9º]publicado no overmundo:
http://www.overmundo.com.br/banco/olhares-em-transito-na-obra-de-caio-fernando-abreu

O título original seria: "Olhares em trânsito: um possível fio condutor para vida e obra de Caio Fernando Abreu". Mas ficou muito grande. Como grande também ficou o texto. Então transcrevo aqui apenas o começo: Denominado por Lygia Fagundes Telles como um “encantador de serpentes” e um “biógrafo das emoções contemporâneas” Caio Fernando Abreu tem sido redescoberto por uma geração que não o conheceu, mas que avidamente consome seus textos. Nos anos 2000 sua obra foi completamente reeditada, seus textos montados no teatro como nunca em vida e sua morte, como disse Maria Adelaide Amaral, pranteada por milhares de apreciadores. Basta consulta o site de relacionamentos Orkut, com uma comunidade virtual dedicada ao autor que possui mais de vinte e cinco mil participantes, para confirmar este fato.

Tal fenômeno não acontece por acaso, pois além de fornecer um retrato do país e da geração do final do século XX, da perplexidade diante da falência do projeto político da contracultura e do refluxo nas sexualidades com o advento da AIDS, Caio Fernando Abreu é o escritor brasileiro que, juntamente com a poeta Ana Cristina Cesar, antecipou o estilo da novíssima literatura brasileira de início de século XX. Estes autores já apresentavam em seus textos de 1970 uma linguagem confessional, “ligeira”, sem pedantismos ou academicismos. Características marcantes das linguagens presentes hoje nos blogs e hipertextos elaborados em especial pela juventude no ciberespaço. Não é à toa o imenso sucesso destes autores nos espaços virtuais. Seus textos antecipam uma forma de expressão numa época em que não existia nem mesmo email e que computador pessoal era artigo de luxo.

A interlocução da obra de Caio Fernando Abreu com o fenômeno virtual nos mostra a ampliação do conceito de deslocamento que passa, com o advento da Internet, a ser não mais apenas geográfico, mas também virtual através da possibilidade (desigual e conflituosa) de interação entre as diversas culturas. No âmbito dos Estudos Culturais, autores como Stuart Hall, Homi Bhabha e Nestor Garcia Canclini têm refletido sobre estas questões de fronteiras, diásporas e hibridações culturais. Tal fenômeno do não-pertencimento, do estranhamento, tão presentes na obra estrangeira de Caio Fernando Abreu, parece ser um profícuo fio condutor de análise da obra do autor e de nossos tempos.[...]
Caio viveu em trânsito tendo plena consciência de que, como disse sua amiga e interlocutora Ana Cristina Cesar, “é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço”. Seja ele virtual ou não.