
Sábado passado fui ao passeio do CCBNB para Barbalha com um mói de crianças. Isso me fez lembrar de como eu fui uma criança privilegiada. A memória inundou o presente. Fui acometido por um fluxo de consciência instantâneo.
Lembrei que...

Aos 8 anos minha mãe me presenteou com uma adaptação super-ilustrada da obra de JONATHAN SWIFT. Mal sabia eu que aquele era um dos maiores escritores ingleses de todos os tempos.

Com 11 anos o primeiro livro que eu peguei numa biblioteca foi um fantástico EDGAR ALLAN POE. Eu nunca lia e odiava os paradidáticos da escola – sempre me pareceram primários.

Com 12 minha irmã mais velha me levou pra ver a última exposição em vida de ZENON BARRETO no salão de Abril.

Aos 13 já havia assistido alguns clássicos do Cinema como “Singin in the rain”; Vertigo; “Cinema paradiso”; “Gone with the Wind”; Bem Hur; Romeu e Julieta de Fanco Zeffireli, etc.

Com 14 também caíram nas minhas mãos, por acaso (?) JOHN FANTE E CAIO FERNANDO ABREU [mas, como disse em outro momento, ainda não estava preparado para eles]. Nesta época eu colecionava trechos de VINÍCIUS DE MORAES e lia a sua excelente biografia feita por RUI CASTRO.
Do meu Pai herdei a paixão pela música popular brasileira. Em especial o tropicalismo.
Da minha mãe a paixão pelo cinema, em especial os musicais da Metro que assistíamos no corujão e na sessão de gala [eu estudava à tarde].

Da minha irmã mais velha a literatura e a companhia ao ouvir as coleções de histórias nos disquinhos coloridos [até hoje um dos meus maiores prazeres é uma boa leitura dramática. Em especial em particular].
Lembro que foi por essa época, quando uma base estética já se esboçava que o CCBNB de Fortaleza foi inaugurado. E foi lá que [re]descobri a obra de nomes (alguns impronunciáveis) que eu lia desenhados na minha colcha de cama antes de dormir quando criança: MOZART, BEETHOVEN, TCHAIKOVSKY, CHOPIN, BACH, ETC.
Tudo isto eu lembrei no caminho para Barbalha ao ver aquele mói de crianças que tem a oportunidade de ter acesso a diversos patrimônios da cultura dita universal e local sem a coleira da escola. Espontaneamente. Mas claro, tal acesso precisa ser orientado em um primeiro momento. Contudo, a abertura ao acaso parece ser o que marca e permanece. Como quando você é encontrado por um livro. Felicidade clandestina.