terça-feira, 15 de junho de 2010

Pela mão de Tim Burton

Eu juro que, como todo mundo detonou Alice, fui pronto para ADORAR a produção de TIM Burton. Isso não aconteceu. Mas também não é algo a ser recusado em bloco. Não farei coro com os detratores do diretor de “Os-fantasmas-se-divertem-besouro-suco”.


O que me desagradou e preocupou de início foi certa obviedade em termos de referências. Primeiro me senti meio constrangido com aquela sutura que ficou no meio do caminho entre “My fair Lady” e a história "infantil". Depois tem cenas paupérrimas como a de Alice querendo ser “livre” e olhar didaticamente para uma revoada de pássaros (neste momento me contorci na poltrona). Algumas “rasidades” nas discussões de Machiavel “Ser temido ou ser amado”; Citações a Wilde e a noção de normalidade. Tudo isso me fez sentir mais diante da Rose/Kate Winslet de Titanic do que da menina de Lewis Carroll.

Alice ou Rose no estilo eu_quero_ir_minha_gente_eu_não_sou_daqui

Mas gostei de algumas coisas: as referências à “história sem fim” [filme que sempre imprimiu em mim um medo pânico. Já imaginou uma coisa que não tem fim fim nem começo? Como disse Clarice em "água viva"].

Destaque para a rainha de copas, marcação muito boa. Caricatura na medida. Os contrapontos dark à uma história supostamente infantil [o batom negro da rainha banca, as cores meio encardidas. Os vermelhos-meio terra. E aquela mesma rainha branca meio drogada por algo como lexotan, diazepan ou canabis mesmo.
Outro aspecto é que sou particularmente seduzido por histórias com oráculos/destinos [até porque estudo um: oI Ching. Isto me instiga muito.]

De mais a mais a única coisa que achei irritante e ultra clichê, posso dizer que foi a única coisa que odiei, foi a TRILHA SONORA. HOR-RO-RO-SA. Me senti num filme de temperatura máxima. Mais obviedade impossível. E fiquei lembrando da excelente coletânea de ensaios chamada “Criando Kane” da crítica Pauline Kael, quando ela desmascara a interferência dos produtores de Hollywood na criação dos diretores. Fico pensando até que ponto Burton teve que fazer concessões para esta Alice. E talvez o título deste post não devesse nem ser "pela mão de Alice", nem "pela mão de Burton", mas "PELA MÃO de Disney".