terça-feira, 22 de junho de 2010
Foucault sob o crivo dos Barbudos
Para rebater a leveza da atual leitura dos diários de Antônio Bivar, leio também a tese de Doutorado de Mavi Rodrigues: “ Foucault sem espelhos: um pensador proto pós-moderno.”
Totalizante, racionalista, uma rocha são características do texto da escritora. Mavi deve no mínimo ter o ascendente em capricórnio. Mudéééérrrrna até a última linha a escritora nos fornece uma leitura extremamente original de Foucault quando passa as teses do escritor francês sobre o crivo do Marxismo ortodoxo
Leio a tese de forma suspeita. Não recomendada: fragmentada. Não agüento esperar pelos capítulos III e IV, vou e volto nas páginas. Um estudo sério, de cachimbo e tensão nas sobrancelhas. Mas nem só de adjetivos e metáforas vive uma tese de doutorado. Então vamos lá às impressões:
A tese central é meio obvia: Foucault foi um autor precussor do que a tradição marxista tem chamado de “irracionalismo pós-modernista.”
Já o recheio não é nada trivial: Mavi constrói a argumentação a partir de uma proposta, como já disse, nada comum em que se tenta atribuir uma unidade ao pensamento de Foucault. Uma verdadeira heresia para os seguidores do autor de “A palavra e as coisas” e também para o próprio Foucault. Mas a argumentação da doutoranda se sustenta perfeitamente dentro da proposta do sistema de pensamento crítico-dialético.
O que agrada: Um trabalho com unidade [quase] impecável. Coisa rara nos dias atuais. Esta parece ser uma das maiores e melhores características dos auto-intitulados jurássicos seguidores de Marx. Uma analise totalizante [e portanto inédita, até onde eu sei, pois refuta rupturas epistemológicas no interior daquele pensamento] das três fases do escritor: a da arqueologia do saber; da genealogia do poder; e da ética da existência [ou da hermenêutica do sujeito].
Crítica ao fórum social mundial
O que desagrada: nas considerações finais não fica devidamente demonstrada o nexo entre o objeto de estudo [o pensamento de Foucault] e as determinações gerais do pensamento pós-moderno hoje nos chamados novos movimentos sociais. Parece um tanto megalômano achar que Foucault determinou os rumos daqueles movimentos. Embora neste momento a análise da autora continue sendo bastante interessante e fundamentada (destaque para a utilização de Mandel para sustentar as argumentações) as considerações finais ficam deslocadas. Parece que estamos diante das conclusões de outro estudo. Até coloquei no “search” do Adobe para ver a última vez que Foucault é citado. O filósofo francês simplesmente desaparece e quando seu nome é abordado eventualmente nas páginas finais é feito de forma deslocada e às vezes até primária. Contradizendo o robosto texto que se apresentara até então.
Enfim, Mavi desestabiliza Foucault da maneira menos provável: estruturando-o. Você pode até não concordar com o que ela diz, mas como aquariano tenho certeza que esta obra não deve ficar apenas nos mofados arquivos cibernéticos da capes. Ela deve ganhar o mundo. E que venham as polêmicas.