O talento de Barbra Streisand subverte qualquer ordem cronológica em termos de datas comemorativas.Manhã ouvindo "A Christmas Album" e "Funny lady"...
A inspiração: ao ler "notas sobre Camp" de Susan Sontag no meio do meu camp café-da-manhã.






“Ela passou a vida inteira tentando aceitar a morte dos pais. Tentando se provar para eles. Há uma cena num dos romances dela, chamado “Mrs. Dalloway”, na qual a Mrs. Dalloway adulta se imagina carregando a própria vida nos braços, como um bebê. Ela caminha em direção aos pais. Ambos já falecidos no romance. E ao soltar esse “pacote” na frente deles e diz: ‘Esta é minha vida. Isto foi o que eu fiz dela’. Sempre achei que fosse biográfico, era isto o que Virginia estava sempre fazendo quando escrevia. Ela estava provando alguma coisa a seus pais já mortos.”
A Urca, o Cariri, o Ceará perderam um grande profissional. E quando isso acontece não há nada o que ser feito a não ser sentar no meio fio e chorar. Rios em prantos arquejados. O diretor de Teatro e quase-ex-professor da sofrida Universidade Estadual do Cariri (URCA), Duílio Cunha alçará em breve vôos federais e paraibanos deixando um vácuo em nossas mentes e sensibilidades. Sem falar do vácuo na própria arte caririence. Supérfluo falar de seu talento, supérfluo falar de seu teatro [que só tive oportunidade de ver o "alto de natal"; "Charivari" e a assessoria teatral de "Burra"], quero falar da pessoa.
"[..]BERTHA YOUNG ainda tinha desses momentos em que queria correr em vez de caminhar, ensaiar passos de dança subindo e descendo da calçada, sair rolando um aro pela rua, jogar qualquer coisa para o alto e agarrar outra vez em pleno ar, ou apenas ficar quieta e simplesmente rir - rir - à-toa.
[Imagem do blog: http://matandocarpinejar.blogspot.com/] 
Teoria queer não é fácil. Não porque seja pedante ou tenha pouca tradução para o português mas porque tem um projeto Herculano de problematização/desestabilização da forma como fomos socialmente construídos. Como corpos válidos, socialmente aceitos à partir da heteronormatividade.
Um bom livro para iniciação nesta polêmica é exatamente a curtinha, mas esclarecedora obra que acabo de ler “O que é transexualidade?” de Berenice Bento. Integrante da coleção primeiro passos, ela afirma coisas como: “Por heteronormatividade entende-se a capacidade da heterossexualidade de apresentar-se como norma, a lei que determina a impossibilidade da vida fora destes marcos [...] para o corpo ter coerência e sentido deve[ria] haver um sexo estável mediante o gênero estável (masculino expressa homem, feminino expressa mulher)” (p. 40).
-O lindo Filme Dummy - um amor diferente que vi por esses dias
Enquando isso... Leio "A maçã no escuro" da Clarice. Clarice não é exatamente uma leitura agradável. Talvez esta seja a obra que mais tenha influenciado os livros de João Gilberto Noll. Vejo nele [no livro de Clarice] embrionários "hotel atlântico"; "Rastros de verão"; Sem falar dos mais recentes como "Lord" e "Berkeley em Belagio".
"«É preciso reagir», dizia Lucie. A ideia vai-a roendo, tenho a certeza, mas com lentidão, com paciência: ela reage, mas não é capaz de se consolar, nem de se abandonar ao seu mal. Pensa no caso um bocadinho, um bocadinho pequenino, tira partido dele. Sobretudo quando está acompanhada, porque os outros a consolam, e também porque faz bem falar no assunto com um tom presumido, com ar de quem dá conselhos. Quando anda sozinha pêlos quartos, ouço-a cantarolar, para afugentar os pensamentos. Mas passa todo o dia cabisbaixa, cansa-se de-pressa e amua: «É aqui», diz ela tocando na garganta, «trago aqui um nó.» Há avareza na sua maneira de sofrer. Nos seus prazeres deve haver também. Admira-me que esta mulher não tenha vontade, às vez'es, de se 'libertar daquela dor monótona, daquele resmonear que volta a moer, assim que ela deixa de cantar; que não deseje sofrer por uma vez, afogar-se no desespero. Mas, mesmo que quisesse, não poderia: aquele nó veda-lhe a saída ao sofrimento."