O talento de Barbra Streisand subverte qualquer ordem cronológica em termos de datas comemorativas.
Manhã ouvindo "A Christmas Album" e "Funny lady"...
A inspiração: ao ler "notas sobre Camp" de Susan Sontag no meio do meu camp café-da-manhã.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
sábado, 28 de agosto de 2010
Minha idéia de arte III
E pra não dizerem que minhas referências fedem a mofo, vai aqui um rapazinho contemporâneo que toca fundo, nos recôngitos mais escondidos. No prazer da sua ensolarada criação. [Já falei dele aqui no blog em 2008, foi minha companhia nas "madugadas digitadas" da reta final da produção da minha dissertação de mestrado. ] PAIXÃO À PRIMEIRA VISTA.
Thiago Pethit já estreou pronto. E está de volta em seu segundo trabalho.
O moço acaba de lançar O clip da LINDA/TOCANTE/ COMOVENTE "Mapa-mundi" Clique aqui [forte candidata à musica do ano ao lado de "Fim de tarde" interpretada por Bruna Caram]
Pra acompanhá-lo clique aqui
Ao lado de "Feriado Pessoal" de Bruna Caram, o Álbum "Berlin, Texas" de Pethit já figura também como candidato à minha trilha sonora pessoal do Ano.
Thiago Pethit já estreou pronto. E está de volta em seu segundo trabalho.
O moço acaba de lançar O clip da LINDA/TOCANTE/ COMOVENTE "Mapa-mundi" Clique aqui [forte candidata à musica do ano ao lado de "Fim de tarde" interpretada por Bruna Caram]
Pra acompanhá-lo clique aqui
Ao lado de "Feriado Pessoal" de Bruna Caram, o Álbum "Berlin, Texas" de Pethit já figura também como candidato à minha trilha sonora pessoal do Ano.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
VERDADE
Carlos Drummond de Andrade
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Vagos exercícios ficcionais
Exercício I
Havia certa solenidade atípica no ar. O fluxo tópico de sensações não impedia que abrisse portas, adentrasse varandas e sem arroubos emocionais contemplasse as duas chaminés de uma fábrica das quais saiam tufos de fumaça que enegreciam os azulejos brancos das paredes expostas. Exaustas. Caminha devagar sobre os azulejos limpos apenas semana passada. Sente o mesmo pó negro debaixo das solas de seus pés amarelados. Pigmentos, aprendera na aula de biologia.
Exercício II
A verdade é que se conheciam vagamente. Talvez por não serem daquelas pessoas que deixam rastros memoráveis, registráveis. Não estavam exatamente à mercê dos holofotes. Encontros após o trabalho ou a faculdade no final do dia, filmes alternativos no cine-clube sábado à tarde. Telefonemas com constrangidos e apressados “eu te amo” nos primeiros meses. A vida, tal qual a de Ivan Ilitch, seguia leve e despretensiosa não fosse a angústia da finitude sábado à noite em casa ou (oh deus) também fora ela. Um deles seria sartreano não se fosse tão ligado às questões – o outro lembrava – chamadas de sociais. O outro seria marxista se não divagasse tanto por becos do que neste tipo de visão de mundo se convencionou chamar de atitude pequeno-burguesa. Também não caiam no fetiche da terceira via. Eram jovens. Talvez um pouco velhos para suas idades. Talvez um pouco ultrapassados se valendo de termos pré-queda do muro...
Alguns encontros em tempos de descompromisso selaram. (se é que a palavras é esta) Mas selaram o quê? Tempo daquela miopia que somente quem não possui a verdadeira imagem como deveria ser: aquela coisa meio engaçada por não ver o outro. Aliás, este também era assunto explícito de suas conversas, apesar de estarem sempre presentes. A vida correndo. O aquecimento global. A vida. De qualquer forma, a vida.
Havia certa solenidade atípica no ar. O fluxo tópico de sensações não impedia que abrisse portas, adentrasse varandas e sem arroubos emocionais contemplasse as duas chaminés de uma fábrica das quais saiam tufos de fumaça que enegreciam os azulejos brancos das paredes expostas. Exaustas. Caminha devagar sobre os azulejos limpos apenas semana passada. Sente o mesmo pó negro debaixo das solas de seus pés amarelados. Pigmentos, aprendera na aula de biologia.
Exercício II
A verdade é que se conheciam vagamente. Talvez por não serem daquelas pessoas que deixam rastros memoráveis, registráveis. Não estavam exatamente à mercê dos holofotes. Encontros após o trabalho ou a faculdade no final do dia, filmes alternativos no cine-clube sábado à tarde. Telefonemas com constrangidos e apressados “eu te amo” nos primeiros meses. A vida, tal qual a de Ivan Ilitch, seguia leve e despretensiosa não fosse a angústia da finitude sábado à noite em casa ou (oh deus) também fora ela. Um deles seria sartreano não se fosse tão ligado às questões – o outro lembrava – chamadas de sociais. O outro seria marxista se não divagasse tanto por becos do que neste tipo de visão de mundo se convencionou chamar de atitude pequeno-burguesa. Também não caiam no fetiche da terceira via. Eram jovens. Talvez um pouco velhos para suas idades. Talvez um pouco ultrapassados se valendo de termos pré-queda do muro...
Alguns encontros em tempos de descompromisso selaram. (se é que a palavras é esta) Mas selaram o quê? Tempo daquela miopia que somente quem não possui a verdadeira imagem como deveria ser: aquela coisa meio engaçada por não ver o outro. Aliás, este também era assunto explícito de suas conversas, apesar de estarem sempre presentes. A vida correndo. O aquecimento global. A vida. De qualquer forma, a vida.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Horas extras
Quando comecei a ler as cartas de Caio Fernando Abreu, acho que em 2006, surgiu também a figura capturante de Hilda Hilst. Eu costumava imaginá-la em seu sitio ainda hoje, aterrorizada pela possibilidade de ETs e pela incompletude sem sentido da vida. Um dia a surpresa. Hilda já havia morrido desde 2002.
[a irreverência de Hildinha]
Lembrei disto agora porque Quentin Bell morreu muito mais cedo do que eu pensava na obra de Bivar em 1996 [ainda na página 118]. O mesmo susto. Eu tinha a esperança de que aquele senhor presente no documentário dos extras do filme “As horas” fosse ele. Mas na verdade acho agora que aquele senhor ali presente é um dos filhos de Vita. Quem sabe aquele que apresentou o castelo a Bivar.
Ainda sobre Virginia, uma pesquisadora [prometo que colho o nome dela nos extras do filme "As horas"] disse:
“Ela passou a vida inteira tentando aceitar a morte dos pais. Tentando se provar para eles. Há uma cena num dos romances dela, chamado “Mrs. Dalloway”, na qual a Mrs. Dalloway adulta se imagina carregando a própria vida nos braços, como um bebê. Ela caminha em direção aos pais. Ambos já falecidos no romance. E ao soltar esse “pacote” na frente deles e diz: ‘Esta é minha vida. Isto foi o que eu fiz dela’. Sempre achei que fosse biográfico, era isto o que Virginia estava sempre fazendo quando escrevia. Ela estava provando alguma coisa a seus pais já mortos.”
[a irreverência de Hildinha]
Lembrei disto agora porque Quentin Bell morreu muito mais cedo do que eu pensava na obra de Bivar em 1996 [ainda na página 118]. O mesmo susto. Eu tinha a esperança de que aquele senhor presente no documentário dos extras do filme “As horas” fosse ele. Mas na verdade acho agora que aquele senhor ali presente é um dos filhos de Vita. Quem sabe aquele que apresentou o castelo a Bivar.
Ainda sobre Virginia, uma pesquisadora [prometo que colho o nome dela nos extras do filme "As horas"] disse:
“Ela passou a vida inteira tentando aceitar a morte dos pais. Tentando se provar para eles. Há uma cena num dos romances dela, chamado “Mrs. Dalloway”, na qual a Mrs. Dalloway adulta se imagina carregando a própria vida nos braços, como um bebê. Ela caminha em direção aos pais. Ambos já falecidos no romance. E ao soltar esse “pacote” na frente deles e diz: ‘Esta é minha vida. Isto foi o que eu fiz dela’. Sempre achei que fosse biográfico, era isto o que Virginia estava sempre fazendo quando escrevia. Ela estava provando alguma coisa a seus pais já mortos.”
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Voos paraibanos de Duílio Cunha
A Urca, o Cariri, o Ceará perderam um grande profissional. E quando isso acontece não há nada o que ser feito a não ser sentar no meio fio e chorar. Rios em prantos arquejados. O diretor de Teatro e quase-ex-professor da sofrida Universidade Estadual do Cariri (URCA), Duílio Cunha alçará em breve vôos federais e paraibanos deixando um vácuo em nossas mentes e sensibilidades. Sem falar do vácuo na própria arte caririence. Supérfluo falar de seu talento, supérfluo falar de seu teatro [que só tive oportunidade de ver o "alto de natal"; "Charivari" e a assessoria teatral de "Burra"], quero falar da pessoa.
Sábado último no hall do teatro para ver “BURRA” ele socializou a notícia [a convocação do concurso]. Uma pontada no coração [gastrite?] e na mente o comentário final de Clarice Lispector quando a escritora entrevistou Pablo Neruda. Ela disse assim:
“Espontaneamente, deu-me um livro, Cem sonetos de amor. E depois de meu nome, na dedicatória, assinou: 'De seu amigo Pablo'. Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: "Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor como uma vocação do homem e a poesia como sua tarefa". [grifos meus]
Duílio possui o que em inglês se chama de “it”. Como falei no início deste post, “IT” ou você tem ou não tem e se não tem pode sentar também na calçada e chorar. Tentando defini-lo Ruy Castro disse que "it" seria uma espécie de atração involuntária, talvez sensual que uma pessoa exerce, sem muita consciência, sobre outras pessoas, independentemente do sexo.
São aquelas pessoas que gostamos de estar com. E que lamentamos quando vão para longe. Como agora Duílio indo para longe do Cariri. Fazendo do Teatro paraibano sua nova vocação, sua poesia e sua tarefa de cada dia.
Já deixando saudades com nossos votos de sucesso!
Sábado último no hall do teatro para ver “BURRA” ele socializou a notícia [a convocação do concurso]. Uma pontada no coração [gastrite?] e na mente o comentário final de Clarice Lispector quando a escritora entrevistou Pablo Neruda. Ela disse assim:
“Espontaneamente, deu-me um livro, Cem sonetos de amor. E depois de meu nome, na dedicatória, assinou: 'De seu amigo Pablo'. Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: "Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor como uma vocação do homem e a poesia como sua tarefa". [grifos meus]
Duílio possui o que em inglês se chama de “it”. Como falei no início deste post, “IT” ou você tem ou não tem e se não tem pode sentar também na calçada e chorar. Tentando defini-lo Ruy Castro disse que "it" seria uma espécie de atração involuntária, talvez sensual que uma pessoa exerce, sem muita consciência, sobre outras pessoas, independentemente do sexo.
São aquelas pessoas que gostamos de estar com. E que lamentamos quando vão para longe. Como agora Duílio indo para longe do Cariri. Fazendo do Teatro paraibano sua nova vocação, sua poesia e sua tarefa de cada dia.
Já deixando saudades com nossos votos de sucesso!
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Novo trabalho, novas preocupações.
domingo, 22 de agosto de 2010
Dançando e cantando: BLISS
Apesar da minha resistência com dança contemporânea fui ver ontem "Burra - não é nada disso que vc está pensando".Todo sensibilizado [porque o espetáculo é bom] lembrei do primeiro musical que assisti [apesar de "Burra" não ser um musical mas, porque esse blog é uma trementa ego trip mesmo] "Cantando na chuva" quando eu fazia ainda a primeira série do ensino fundamental.
Eu tinha sete anos e me lembro que fiquei tão impressionado com a obra que que fiz uma cena inteirinha de "Make then Laugh" pros meu coleguinhas de sala.
Até hoje cantando na chuva é meu musical favorito. Uma aula de cinema, de técnica, de direção de fotografia, etc. Etc. Desde aquela época [vinte anos atrás] até hoje meu sonho era fazer a sequência do Genne Kelly cantando na chuva. [rsrsrsrsrs]
BLISS é isso
[link da cena no youtube: Cantando na Chuva ]
E também porque nada é por acaso, não é a toda que hoje consigo perceber que a cena é uma refência direta ao conto da citado no post mais abaixo "Bliss" de Katerine Mansfield.
Se é verdade que não existe tradução exata do termo"BLISS" em português, dá pra ter certeza do que ele [o termo] representa nos rosto e corpo de Genny Kelly. Sem falar de trechos explícitos onde o conto diz: BERTHA YOUNG ainda tinha desses momentos em que queria correr em vez de caminhar, ensaiar passos de dança subindo e descendo da calçada"
Volto pra comentar "BURRA". Enquanto isso danço cheio de BLISS. Dentro de mim habita essa cena.
Eu tinha sete anos e me lembro que fiquei tão impressionado com a obra que que fiz uma cena inteirinha de "Make then Laugh" pros meu coleguinhas de sala.
Até hoje cantando na chuva é meu musical favorito. Uma aula de cinema, de técnica, de direção de fotografia, etc. Etc. Desde aquela época [vinte anos atrás] até hoje meu sonho era fazer a sequência do Genne Kelly cantando na chuva. [rsrsrsrsrs]
BLISS é isso
[link da cena no youtube: Cantando na Chuva ]
E também porque nada é por acaso, não é a toda que hoje consigo perceber que a cena é uma refência direta ao conto da citado no post mais abaixo "Bliss" de Katerine Mansfield.
Se é verdade que não existe tradução exata do termo"BLISS" em português, dá pra ter certeza do que ele [o termo] representa nos rosto e corpo de Genny Kelly. Sem falar de trechos explícitos onde o conto diz: BERTHA YOUNG ainda tinha desses momentos em que queria correr em vez de caminhar, ensaiar passos de dança subindo e descendo da calçada"
Volto pra comentar "BURRA". Enquanto isso danço cheio de BLISS. Dentro de mim habita essa cena.
sábado, 21 de agosto de 2010
Michael Cunningham: minha lenda viva.
Michael Cunningham é [de longe, muito longe] meu escritor vivo favorito.
Dele li “Laços de Sangue” [a melhor obra]; depois “As horas”[o megasucesso que virou filme]; Depois “Uma casa no fim do mundo” [que li na tradução chatíssima do português de Portugal e agora “re”leio no original em Inglês.]
Cunningham está para Virginia Woolf assim como Caio está para Clarice. Aliás, eles formam, para mim, o quarteto sa[n]grado da literatura. Além do mais considero Michel Cunningham o Caio F. norte-americano. [Ele]Então aqui vai um pequeno drops do que estou falando. Um trecho de “Laços de Sangue”.
Às vezes Will acreditava que estava apaixonado.
Às vezes dizia a si mesmo, eu quero mais do que isso. Há tempos Will esperava um homem-menino de cabelo escuro [...] Will nunca imaginara um homem magro, de ar decente, que não gostasse de dançar nem das horas tardias da noite. Nunca imaginara um gosto duvidoso para roupas, quartos repletos de desordem, pernas magras e uma bunda chata [...]
À noite, deitado na cama ele [Will] disse “às vezes me preocupo pelo fato de não poder realmente me apaixonar. Não com o sentido que ‘se apaixonar’ tem para os outros."
“E qual o sentido que tem para os outros?” Perguntou Harry.
“Não sei. De uma perda do eu, me parece. O que eu quero dizer é que me preocupa o fato de que o amor pede uma espécie de generosidade fundamental que me falta. Me preocupa o fato de eu não ser generoso, talvez seja isso. Sou muito vaidoso”
“Eu sei que você é muito vaidoso”, disse Harry. “Não é o pior defeito”.
“Isso é parte do problema. Não chega nem a ser um grande pecado. É um pecado rasteiro, um dos menores pecados. O melhor é ser real e verdadeiramente mau”
“Acha que está na hora de me dizer que me ama? Acha que estou esperando que você faça isso?”
“Não. Não sei. Você está?”
“Acho que não. Talvez esteja. Mas não preciso que você me diga”
“Já faz seis meses”, disse Will
“Quase sete. Por favor, não transforme isso numa situação na qual não se possa errar”
“Mas pode-se errar. No amor. Pode-se recuar, Pode-se chegar até um certo ponto, e dizer não.”
“Me parece que sim. Você acha que é isso o que está fazendo?”
“Não sei ao certo. Talvez”
“Falam do amor num blábláblá dos piores. Quem não ficaria com medo depois de todos esses filmes?”
“Acha que me ama?”
“Você só quer que eu seja o primeiro a dizer”, disse Harry.
“Acha?”
“Acho.”
“Tudo bem.”
“Tudo bem mesmo?”
“Tudo bem.”
“Não vou morrer se você não tiver muita certeza. Não sou tão nervoso assim”
“Você realmente não é, é?”, Will perguntou.
“Não. Realmente não.”
Eles se beijaram, e fizeram amor de novo
Continua...
Dele li “Laços de Sangue” [a melhor obra]; depois “As horas”[o megasucesso que virou filme]; Depois “Uma casa no fim do mundo” [que li na tradução chatíssima do português de Portugal e agora “re”leio no original em Inglês.]
Cunningham está para Virginia Woolf assim como Caio está para Clarice. Aliás, eles formam, para mim, o quarteto sa[n]grado da literatura. Além do mais considero Michel Cunningham o Caio F. norte-americano. [Ele]Então aqui vai um pequeno drops do que estou falando. Um trecho de “Laços de Sangue”.
Às vezes Will acreditava que estava apaixonado.
Às vezes dizia a si mesmo, eu quero mais do que isso. Há tempos Will esperava um homem-menino de cabelo escuro [...] Will nunca imaginara um homem magro, de ar decente, que não gostasse de dançar nem das horas tardias da noite. Nunca imaginara um gosto duvidoso para roupas, quartos repletos de desordem, pernas magras e uma bunda chata [...]
À noite, deitado na cama ele [Will] disse “às vezes me preocupo pelo fato de não poder realmente me apaixonar. Não com o sentido que ‘se apaixonar’ tem para os outros."
“E qual o sentido que tem para os outros?” Perguntou Harry.
“Não sei. De uma perda do eu, me parece. O que eu quero dizer é que me preocupa o fato de que o amor pede uma espécie de generosidade fundamental que me falta. Me preocupa o fato de eu não ser generoso, talvez seja isso. Sou muito vaidoso”
“Eu sei que você é muito vaidoso”, disse Harry. “Não é o pior defeito”.
“Isso é parte do problema. Não chega nem a ser um grande pecado. É um pecado rasteiro, um dos menores pecados. O melhor é ser real e verdadeiramente mau”
“Acha que está na hora de me dizer que me ama? Acha que estou esperando que você faça isso?”
“Não. Não sei. Você está?”
“Acho que não. Talvez esteja. Mas não preciso que você me diga”
“Já faz seis meses”, disse Will
“Quase sete. Por favor, não transforme isso numa situação na qual não se possa errar”
“Mas pode-se errar. No amor. Pode-se recuar, Pode-se chegar até um certo ponto, e dizer não.”
“Me parece que sim. Você acha que é isso o que está fazendo?”
“Não sei ao certo. Talvez”
“Falam do amor num blábláblá dos piores. Quem não ficaria com medo depois de todos esses filmes?”
“Acha que me ama?”
“Você só quer que eu seja o primeiro a dizer”, disse Harry.
“Acha?”
“Acho.”
“Tudo bem.”
“Tudo bem mesmo?”
“Tudo bem.”
“Não vou morrer se você não tiver muita certeza. Não sou tão nervoso assim”
“Você realmente não é, é?”, Will perguntou.
“Não. Realmente não.”
Eles se beijaram, e fizeram amor de novo
Continua...
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Engolindo o sol do fim da tarde... BLISS
"[..]BERTHA YOUNG ainda tinha desses momentos em que queria correr em vez de caminhar, ensaiar passos de dança subindo e descendo da calçada, sair rolando um aro pela rua, jogar qualquer coisa para o alto e agarrar outra vez em pleno ar, ou apenas ficar quieta e simplesmente rir - rir - à-toa.
O que fazer se aos trinta anos, de repente, ao dobrar uma esquina, você é invadida por uma sensação de êxtase - absoluto êxtase! - como se você tivesse de repente engolido o sol de fim de tarde e ele queimasse dentro do seu peito, irradiando centelhas para cada partícula, para cada extremidade do seu corpo?
Não há como explicar isso sem soar “bêbado e desordeiro”? Que idiota que é a civilização! Para que então ter um corpo se é preciso mantê-lo trancado num estojo, como um violino muito raro?" - (Bliss de Katherine Mansfield tradução Ana C.)
O que fazer se aos trinta anos, de repente, ao dobrar uma esquina, você é invadida por uma sensação de êxtase - absoluto êxtase! - como se você tivesse de repente engolido o sol de fim de tarde e ele queimasse dentro do seu peito, irradiando centelhas para cada partícula, para cada extremidade do seu corpo?
Não há como explicar isso sem soar “bêbado e desordeiro”? Que idiota que é a civilização! Para que então ter um corpo se é preciso mantê-lo trancado num estojo, como um violino muito raro?" - (Bliss de Katherine Mansfield tradução Ana C.)
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Carpinejar me entende
[Imagem do blog: http://matandocarpinejar.blogspot.com/]
Paola Benevides, querida amiga e uma das escritoras da minha geração que mais admiro, disse certa feita que eu era uma mescla[riceana] entre Caio Fernando e Carpinear. Claro que fiquei todo prosa, apesar de ser supérfluo falar do megalômano exagero.
Pois bem, dos três: Clarice, Caio e Carpnejar [repare os “c” iniciais] o que menos li, de longe, foi Carpinejar. Em relação ao poeta gaúcho, apesar das diametrais e explícitas diferenças, pelo menos numa coisa Paola acertou. Também tenho como horizonte algumas pequenas perdigueiragens na minha vida...
"Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando. (...) Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos."
Paola Benevides, querida amiga e uma das escritoras da minha geração que mais admiro, disse certa feita que eu era uma mescla[riceana] entre Caio Fernando e Carpinear. Claro que fiquei todo prosa, apesar de ser supérfluo falar do megalômano exagero.
Pois bem, dos três: Clarice, Caio e Carpnejar [repare os “c” iniciais] o que menos li, de longe, foi Carpinejar. Em relação ao poeta gaúcho, apesar das diametrais e explícitas diferenças, pelo menos numa coisa Paola acertou. Também tenho como horizonte algumas pequenas perdigueiragens na minha vida...
"Quero uma mulher perdigueira, possessiva, que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu. Que seja escandalosa na briga e me amaldiçoe se abandoná-la. Que faça trabalhos em terreiro para me assustar e me banhe de noite com o sal grosso de sua nudez. Que feche meu corpo quando sair de casa, que descosture meu corpo quando voltar. Que brigue pelo meu excesso de compromissos, que me fale barbaridades sob pressão e ternuras delicadíssimas ao despertar. Que peça desculpa depois do desespero e me beije chorando. (...) Quero uma mulher que esqueça o nome de seu pai e de sua mãe para nascer em meus olhos. Em todo momento. A toda hora. Incansavelmente. E que eu esteja apaixonado para nunca desmerecê-la, que esteja apaixonado para não diminuí-la aos amigos."
Minha idéia de Arte II
“Um dia após o meu aniversário – tenho 38 anos. Sinto-me mais feliz hoje que ontem pois esta tarde pensei num novo formato para um romance. Percebi que a abordagem será totalmente diferente. Quase nenhuma amarração, nenhum tijolo será visto e nenhuma estrutura externa. Mas o coração, a paixão, o humor, tudo vistoso e exposto” – Virginia Woolf
terça-feira, 17 de agosto de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O queer para iniciantes
Teoria queer não é fácil. Não porque seja pedante ou tenha pouca tradução para o português mas porque tem um projeto Herculano de problematização/desestabilização da forma como fomos socialmente construídos. Como corpos válidos, socialmente aceitos à partir da heteronormatividade.
Um bom livro para iniciação nesta polêmica é exatamente a curtinha, mas esclarecedora obra que acabo de ler “O que é transexualidade?” de Berenice Bento. Integrante da coleção primeiro passos, ela afirma coisas como: “Por heteronormatividade entende-se a capacidade da heterossexualidade de apresentar-se como norma, a lei que determina a impossibilidade da vida fora destes marcos [...] para o corpo ter coerência e sentido deve[ria] haver um sexo estável mediante o gênero estável (masculino expressa homem, feminino expressa mulher)” (p. 40).
E apresenta brevemente o que são as políticas queer:
“Para desestabilizar as identidades e estabelecer as disputas, uma das estratégias é transformar e incorporar o insulto homofóbico como elemento identitário. Em entrevista à Nacion Gay (http. www/nacion gay.com – capturado em fevereiro de 2007), Beatriz Preciano afirma preferir ser chamada de Sapatão, pois no cotidiano é assim que a reconhecem e a nomeiam. Lésbica é uma categoria médica. Se alguém diz: ‘Você é sapatão’, uma das respostas queer será: Sou, e daí? O que você vai fazer comigo? Quer me eliminar? Sinto muito. Eu estou aqui. Vim para ficar. E você? O que você é? Hetero o quê? O insulto, um dos dispositivos mais eficazes para a produção de seres abjetos que devem ser postos às margens, se transforma em fundamento para construir uma nova identidade marcada na e pela disputa ” (p. 42).
Recomendo.
Um bom livro para iniciação nesta polêmica é exatamente a curtinha, mas esclarecedora obra que acabo de ler “O que é transexualidade?” de Berenice Bento. Integrante da coleção primeiro passos, ela afirma coisas como: “Por heteronormatividade entende-se a capacidade da heterossexualidade de apresentar-se como norma, a lei que determina a impossibilidade da vida fora destes marcos [...] para o corpo ter coerência e sentido deve[ria] haver um sexo estável mediante o gênero estável (masculino expressa homem, feminino expressa mulher)” (p. 40).
E apresenta brevemente o que são as políticas queer:
“Para desestabilizar as identidades e estabelecer as disputas, uma das estratégias é transformar e incorporar o insulto homofóbico como elemento identitário. Em entrevista à Nacion Gay (http. www/nacion gay.com – capturado em fevereiro de 2007), Beatriz Preciano afirma preferir ser chamada de Sapatão, pois no cotidiano é assim que a reconhecem e a nomeiam. Lésbica é uma categoria médica. Se alguém diz: ‘Você é sapatão’, uma das respostas queer será: Sou, e daí? O que você vai fazer comigo? Quer me eliminar? Sinto muito. Eu estou aqui. Vim para ficar. E você? O que você é? Hetero o quê? O insulto, um dos dispositivos mais eficazes para a produção de seres abjetos que devem ser postos às margens, se transforma em fundamento para construir uma nova identidade marcada na e pela disputa ” (p. 42).
Recomendo.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Mastigando a maçã no escuro
Sempre quando vou ao teatro, cinema ou similares levo um bloquinho e uma caneta. Quando esqueço-os passo o espetáculo todo digitando sms no celular. Pois bem. Tenho tanto racunho para trasncrever. Só alguns:
-O lindo Filme Dummy - um amor diferente que vi por esses dias
- O infantil que vi sábado passado
- O espetáculo teatral "incelença"
- As duas [e distintas] vezes que vi "Engenharia erótica"
- A finalização do artigo sobre a recepção da peça "CABARÉ DA DAMA" nas resenhas dos meus alunos no semestre passado.
- O Matraca de Guimarães
- Um infantil de contação de estórias
- E uma montagem de um texto do Caio
Enquando isso... Leio "A maçã no escuro" da Clarice. Clarice não é exatamente uma leitura agradável. Talvez esta seja a obra que mais tenha influenciado os livros de João Gilberto Noll. Vejo nele [no livro de Clarice] embrionários "hotel atlântico"; "Rastros de verão"; Sem falar dos mais recentes como "Lord" e "Berkeley em Belagio".
Mas, do texto do Noll que mais aprecio, "A fúria do corpo", não vejo NADA. Aqui Noll é mais barroco e menos ressaqueado. E você sabe do que estou falando... Não? Então paro por aqui.
-O lindo Filme Dummy - um amor diferente que vi por esses dias
- O infantil que vi sábado passado
- O espetáculo teatral "incelença"
- As duas [e distintas] vezes que vi "Engenharia erótica"
- A finalização do artigo sobre a recepção da peça "CABARÉ DA DAMA" nas resenhas dos meus alunos no semestre passado.
- O Matraca de Guimarães
- Um infantil de contação de estórias
- E uma montagem de um texto do Caio
Enquando isso... Leio "A maçã no escuro" da Clarice. Clarice não é exatamente uma leitura agradável. Talvez esta seja a obra que mais tenha influenciado os livros de João Gilberto Noll. Vejo nele [no livro de Clarice] embrionários "hotel atlântico"; "Rastros de verão"; Sem falar dos mais recentes como "Lord" e "Berkeley em Belagio".
Mas, do texto do Noll que mais aprecio, "A fúria do corpo", não vejo NADA. Aqui Noll é mais barroco e menos ressaqueado. E você sabe do que estou falando... Não? Então paro por aqui.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
a minha idéia de Arte
“Sou uma figura um pouco atípica na literatura brasileira. Também, porque sou um pouco roqueiro, fui hippie, fui punk. Não faço vida literária, corro por fora. Não conheço o lobby das universidades, não vou a lançamentos de livros, só vou quando sou amigo do escritor. E na minha obra aparecem coisas que não são consideradas material didático. Zé Castello [...] escreveu uma crítica brilhante de Ovelhas Negras, em que ele diz que me utilizo do trash e me compara a Zulmira Ribeiro Tavares. Segundo ele, ela escreve como uma professora, a literatura dela é organizada e limpa; é ‘boa’ literatura. Eu sou o oposto, porque lido com o trash, de onde tiro não só ‘boa’ literatura, mas também vida pulsante. E acho que isso aterroriza, principalmente no meio universitário” Caio Fernando Abreu
terça-feira, 3 de agosto de 2010
O ofício de desmascarar pseudo-conselheiros
Neste ramo Sartre foi mestre. Vide trecho de “A náusea”:
"«É preciso reagir», dizia Lucie. A ideia vai-a roendo, tenho a certeza, mas com lentidão, com paciência: ela reage, mas não é capaz de se consolar, nem de se abandonar ao seu mal. Pensa no caso um bocadinho, um bocadinho pequenino, tira partido dele. Sobretudo quando está acompanhada, porque os outros a consolam, e também porque faz bem falar no assunto com um tom presumido, com ar de quem dá conselhos. Quando anda sozinha pêlos quartos, ouço-a cantarolar, para afugentar os pensamentos. Mas passa todo o dia cabisbaixa, cansa-se de-pressa e amua: «É aqui», diz ela tocando na garganta, «trago aqui um nó.» Há avareza na sua maneira de sofrer. Nos seus prazeres deve haver também. Admira-me que esta mulher não tenha vontade, às vez'es, de se 'libertar daquela dor monótona, daquele resmonear que volta a moer, assim que ela deixa de cantar; que não deseje sofrer por uma vez, afogar-se no desespero. Mas, mesmo que quisesse, não poderia: aquele nó veda-lhe a saída ao sofrimento."
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"«É preciso reagir», dizia Lucie. A ideia vai-a roendo, tenho a certeza, mas com lentidão, com paciência: ela reage, mas não é capaz de se consolar, nem de se abandonar ao seu mal. Pensa no caso um bocadinho, um bocadinho pequenino, tira partido dele. Sobretudo quando está acompanhada, porque os outros a consolam, e também porque faz bem falar no assunto com um tom presumido, com ar de quem dá conselhos. Quando anda sozinha pêlos quartos, ouço-a cantarolar, para afugentar os pensamentos. Mas passa todo o dia cabisbaixa, cansa-se de-pressa e amua: «É aqui», diz ela tocando na garganta, «trago aqui um nó.» Há avareza na sua maneira de sofrer. Nos seus prazeres deve haver também. Admira-me que esta mulher não tenha vontade, às vez'es, de se 'libertar daquela dor monótona, daquele resmonear que volta a moer, assim que ela deixa de cantar; que não deseje sofrer por uma vez, afogar-se no desespero. Mas, mesmo que quisesse, não poderia: aquele nó veda-lhe a saída ao sofrimento."
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