Teoria queer não é fácil. Não porque seja pedante ou tenha pouca tradução para o português mas porque tem um projeto Herculano de problematização/desestabilização da forma como fomos socialmente construídos. Como corpos válidos, socialmente aceitos à partir da heteronormatividade.
Um bom livro para iniciação nesta polêmica é exatamente a curtinha, mas esclarecedora obra que acabo de ler “O que é transexualidade?” de Berenice Bento. Integrante da coleção primeiro passos, ela afirma coisas como: “Por heteronormatividade entende-se a capacidade da heterossexualidade de apresentar-se como norma, a lei que determina a impossibilidade da vida fora destes marcos [...] para o corpo ter coerência e sentido deve[ria] haver um sexo estável mediante o gênero estável (masculino expressa homem, feminino expressa mulher)” (p. 40).
E apresenta brevemente o que são as políticas queer:
“Para desestabilizar as identidades e estabelecer as disputas, uma das estratégias é transformar e incorporar o insulto homofóbico como elemento identitário. Em entrevista à Nacion Gay (http. www/nacion gay.com – capturado em fevereiro de 2007), Beatriz Preciano afirma preferir ser chamada de Sapatão, pois no cotidiano é assim que a reconhecem e a nomeiam. Lésbica é uma categoria médica. Se alguém diz: ‘Você é sapatão’, uma das respostas queer será: Sou, e daí? O que você vai fazer comigo? Quer me eliminar? Sinto muito. Eu estou aqui. Vim para ficar. E você? O que você é? Hetero o quê? O insulto, um dos dispositivos mais eficazes para a produção de seres abjetos que devem ser postos às margens, se transforma em fundamento para construir uma nova identidade marcada na e pela disputa ” (p. 42).
Recomendo.