sábado, 21 de agosto de 2010

Michael Cunningham: minha lenda viva.

Michael Cunningham é [de longe, muito longe] meu escritor vivo favorito.
Dele li “Laços de Sangue” [a melhor obra]; depois “As horas”[o megasucesso que virou filme]; Depois “Uma casa no fim do mundo” [que li na tradução chatíssima do português de Portugal e agora “re”leio no original em Inglês.]

Cunningham está para Virginia Woolf assim como Caio está para Clarice. Aliás, eles formam, para mim, o quarteto sa[n]grado da literatura. Além do mais considero Michel Cunningham o Caio F. norte-americano. [Ele]Então aqui vai um pequeno drops do que estou falando. Um trecho de “Laços de Sangue”.

Às vezes Will acreditava que estava apaixonado.

Às vezes dizia a si mesmo, eu quero mais do que isso. Há tempos Will esperava um homem-menino de cabelo escuro [...] Will nunca imaginara um homem magro, de ar decente, que não gostasse de dançar nem das horas tardias da noite. Nunca imaginara um gosto duvidoso para roupas, quartos repletos de desordem, pernas magras e uma bunda chata [...]

À noite, deitado na cama ele [Will] disse “às vezes me preocupo pelo fato de não poder realmente me apaixonar. Não com o sentido que ‘se apaixonar’ tem para os outros."
“E qual o sentido que tem para os outros?” Perguntou Harry.
“Não sei. De uma perda do eu, me parece. O que eu quero dizer é que me preocupa o fato de que o amor pede uma espécie de generosidade fundamental que me falta. Me preocupa o fato de eu não ser generoso, talvez seja isso. Sou muito vaidoso”
“Eu sei que você é muito vaidoso”, disse Harry. “Não é o pior defeito”.
“Isso é parte do problema. Não chega nem a ser um grande pecado. É um pecado rasteiro, um dos menores pecados. O melhor é ser real e verdadeiramente mau”

“Acha que está na hora de me dizer que me ama? Acha que estou esperando que você faça isso?”
“Não. Não sei. Você está?”
“Acho que não. Talvez esteja. Mas não preciso que você me diga”
“Já faz seis meses”, disse Will
“Quase sete. Por favor, não transforme isso numa situação na qual não se possa errar”
“Mas pode-se errar. No amor. Pode-se recuar, Pode-se chegar até um certo ponto, e dizer não.”
“Me parece que sim. Você acha que é isso o que está fazendo?”
“Não sei ao certo. Talvez”
“Falam do amor num blábláblá dos piores. Quem não ficaria com medo depois de todos esses filmes?”

“Acha que me ama?”
“Você só quer que eu seja o primeiro a dizer”, disse Harry.
“Acha?”
“Acho.”
“Tudo bem.”
“Tudo bem mesmo?”
“Tudo bem.”
“Não vou morrer se você não tiver muita certeza. Não sou tão nervoso assim”
“Você realmente não é, é?”, Will perguntou.
“Não. Realmente não.”
Eles se beijaram, e fizeram amor de novo


Continua...