quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Educação Sentimental II.

(Post Retrô. Ao som de Teresa Cristina canta a música de Paulinho da Viola).

Continuando o post Educação Sentimental I: outra conexão se estabelece.
De certa forma pensamos que nossas referências já nasceram prontas. O que pode nos salvar desta desvairada conclusão são as autobiografias.

Se toda autobiografia é uma farsa pelo menos ela tem uma vantagem. Quando o biografado consegue, pretende e está à disposição de fazer isto, ela revela os andaimes de uma formação a partir de dentro.

Porque penso isto? Estou lendo também “verdade tropical” de Caetano Veloso [e ouvindo o escandalosamente belo álbum duplo Teresa Cristina canta a “música de Paulihho da Viola”. Finamente abri os ouvidos para esta musa contemporânea mas volto a falar isto no final deste post].

Nunca imaginei na vida um Caetano que não fosse completo. Para mim Caetano nascera já cantando “alegria, alegria”. E ao contrário desta constatação, em sua “verdade tropical”, ele se revela um jovem como tantos de nós, em formação, quando diz:


“Um dia fui elogiar Walter da Silveira [...] e Duda [Machado, poeta e crítico] retrucou dizendo que a ele Walter não ensinava nada porque era um crítico preguiçosamente complacente com os ‘filmes de arte’ [...] Interessava-me não só que Duda tivesse razão em todas essas ocasiões, mas, sobretudo que ele estivesse sempre pensando as coisas num nível acima daquele no qual meu pensamento poderia transitar [...] se sua opinião divergisse da minha, ou se apresentasse a menor nuance em relação à minha, eu parava para rever minha opinião”

Ou ainda quando falava de sua inicial aproximação com Boal:
“Lembro-me do começo de uma discussão com Boal [...] Era o inesquecível ‘Rosa de Ouro’ que revelou Paulinho da Viola (aos 24 anos) [entendeu agora porque me lembrei destas feitas? Os dois post estão ao som Paulinho da Viola cantado por Teresa Cristina] [...] Para Boal, esse espetáculo que me comovia[...], era folclórico. Naturalmente eu era tímido demais para argumentar contra Boal, a quem respeitava e admirava – e ele demasiadamente despreocupado das minhas opiniões para encorajar uma verdadeira discussão”.

Tudo é conexão: Bivar – França – A peste – Camus – Anos de formação
Mais isto: Anos de formação – Caetano – Verdade tropical – Paulinho da Viola

E agora Teresa Cristina que diz, neste momento, assim: “Faça como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar”
E olha que eu nem Falei do Cézanne...