quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Para ler [e viver] De braços abertos

"De braços Abertos" - a obra prima de Maria adelaide Amaral. Dramaturgia magnífica que eu gostaria de ter escrito

Inrene Ravahe e Juca de Oliveria Interpretaram Luísa e Sérgio na célebre montagem nos anos 1980
Leio em livraria. Não, não leio só pra verificar se o livro é bom ou não. Se vou comprar ou largar. Leio mesmo. Tardes. Com gosto. Arrasto a cadeira., arrumo a melhor posição na mesa e vou me embora [na leitura, óbvio].

Isso não quer dizer que eu não vá comprar o livro: foi assim que adquiri "Um filme é um filme" do Ruy Castro. Mas também não significa necessariamente que eu vá levá-lo: foi assim que li quase toda a biografia do Truman Capote.

Pois bem, nesta última ida a Fortaleza li a peça "De Braços abertos" da Maria Adelaide Amaral no seu livro "Melhor Teatro" da editora globo.Cheguei, sentei às 20:15 e me levantei às 21:45 com um sentimento semelhante ao descrito por Caio F. em carta à autora após ter visto a montagem da peça: "Dá vontade de amar. De Acertar" e que Maria Adelaide consegue ser inteligente sem ser pedante, política sem ser panfletária, sentimental sem ser babaca, etc, etc.

Da leitura:
Aqui Luísa finalmente se revela [em 1 ªpessoa]. é uma personagem injustiçada.

Atenção: "De braços abertos" - a peça não é e nunca foi um apêndice do livro "Luísa: quase uam história de amor" - vencedor do prêmio Jabuti de 1986. É exatamente o contrário. O núcleo duro, vivo, está NA PEÇA. O romance é adendo, o apêndice, os relatos pós, as impressões.

Explico: na peça há os encontros furtivos deliciosamente conflituosos do casal de amantes: Luísa e Sérgio. Já no romance também temos Sérgio e Luísa mas esta simplismente não aparece. A personagem é [magistralmente]"perfilada" por diversos pontos de vista de amigos/capítulos que a descreve: Raul, Sérgio, Marga, Mário, etc. Mas de Luísa mesmo só temos vagas anotações de agendas e bilhetes presentes no final do livro.

No romance Maria Adelaide consegue incrivelmente esconder Luísa [a personagem]atrás dos relatos dos Amigos e de seu ex: Mário.
Sinto que o capítulo que chega mais perto da personagem título é o primeiro "Raul" [e talvez seja por isto que e tenha mais me agradado].
Já o capítulo "Sérgio" [relato do Amante]não consegue dar conta do que foi seu relacionamento com Luísa inclusive na peça ele [Sérgio] aparece melhor em todo o seu sarcasmo de artista frustrado.
No livro não consegui encontrar a redenção final que há na peça. Aliás, seus desfechos são antagônicos.

A frase final da peça é redentora "apesar de tudo isso consigo olhar para você com ternura"
Enquanto que na prosa o desfecho se apresenta sombrio: "absolutamente breu. Absolutamente fel".

O fato de no romance Mário fechar os perfis, dá um idéia de conclusão, de autoridade para a síntese. E ele nos apresenta uma mulher frívola, que anseia reconhecimento, "com profundos vincos ao redor da boca e talvez vestida exageradamente para sua idade".

Ao contrário disto tudo a peça dá ênfase naquilo que Luísa colocou como meta e Sérgio não foi capaz de alcançar, lembrando muito a relação de Clarissa Dalloway e Peter Walsh no romance Mrs. Dalloway de Virginia Woolf.

Aqui a carta do Caio faz todo sentido do mundo [a tal ânsia por acertar em meio a tantos erros]. Já no romance não há sentido nenhum, só desilusão.



Na peça os braços estão permanentemente abertos apesar de.
No romance eles estão absolutamente fechados. Em resignação. Amargos.

Mais sobre a montagem histórica de "De braços abertos" com Irene Ravache e Juca de Oiveira clique aqui