sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Friedrich Kitty

"O bigode de Nietzsche se incorporou à cultura pop"- Paulo César de Souza

ENTRELIVROS- Porque Nietzsche é um filósofo de “apelo popular”?

PAULO CÉSAR DE SOUZA – Vários fatores contribuíram para a popularidade de Nietzsche [...] Acho que o tamanho do seu bigode contribuiu para esse apelo. O bigode de Nietzsche se incorporou à cultura pop, assim como a barba de Che Guevara e os óculos de John Lennon

Apelo popular

ENTRELIVROS – Você usa o vocábulo “desnatureza”, o mesmo ouvido numa canção de Caetano Veloso (“Queixa”). Conte-nos sobre esta escolha vocabular.

PAULO CÉSAR DE SOUZA- O termo “desnatureza, não é o único neologismo que o leitor encontra em minhas traduções de Nietzsche. Mas já aconteceu de usar “o querente” (para “der Wollende”), pensando ser algo novo, e depois achei a palavra no Aurélio e em Fernando Pessoa. Uso neologismo quando o texto pode, mas isso não é freqüente. É significativo que a gente encontre essa palavra tanto numa canção popular como nu texto erudito: a linha entre cultura de elite e cultura de massa é mais tênue no Brasil do que em outros lugares. Caetano é um dos que mais contribuíram para borrar essa linha. Talvez eu tenha aprendido essa palavra com ele. Não lembro.

(Paulo César de Souza lê e traduz Nietzsche desde os 17 anos. Historiados e ensaísta, ele publicou em 1985 sua primeira tradução do filósofo alemão mais rebelde do mundo, Ecco Hommo – extraído da Revista Entrelivros Nº 18 – outubro de 2006)

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Links possíveis: Sempre considerei Caetano um dos maiores intérpretes do Brasil. Não sem exagero declaro que Caetano é um filósofo de aforismo transformados em versos e musicados. Do micro ao Macro, da cajuína ao sentido da existência; Dos desencontros dos quereres à reflexão do sobre o amor, Da Bahia à heavy Sampa; Do monumento no planalto central à “London , London”. Caetano, com todas suas contradições É LINDO. Pra lembrar de “Queixa” citada pelo tradutor de Nietzsche:

“Um amor assim violento quando torna-se mágoa é o avesso de um sentimento. Oceano sem água. Ondas, desejos de vingança, nessa DESNATUREZA. Bate forte sem esperança contra a tua dureza”.

Outra sacada fantástica de Caetano é sua aproximação [inconsciente] com as obras “A condição humana” e “As origens do Totalitarismo” de Hannah Arendt quando em sua música “Então tá combinado” o poeta baiano incisivamente nos deixa perplexos:

“Podemos ver o mundo juntos. Sermos dois e sermos muitos. Nos sabermos sós sem estarmos sós. Abrir Nossa Cabeça para que afinal floresça o mais que humano em nós”

Fico bege com a intuição do moço. Mas comento essa interface Caetano/ Hannah Arendt em outro momento