domingo, 3 de agosto de 2008

Os perigos do politicamente correto:


"Noite Carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio.
Atravanco na contramão. Suspiros no
contrafluxo."

Então você, politicamente correto, me diria: Errado por que os surdos dialogam. Eles se comunicam com as mãos.
Matou um dos mais belos poemas de Ana Cristina César.
Estou refletindo sobre os exageros da classificação indicativa dos programas de TV. Inicialmente fui (sou?) a favor. Mas se por um lado ela é para proteger “nossas crianças” dos abusos das programações por outros há excessos e preconceitos irrefletidos na própria TV Brasil (principal fomentadora da discussão). O que põe em xeque a legitimidade de quem define esta classificação.

O caso: há alguns sábados à noite – umas 22hs- assisti o programa “Curta Brasil” com a classificação indicativa de 18 anos. Quando vi a chamada na TV pensei: meu deus deve ter alguma cena de latrocínio com vísceras expostas, um filho estuprando a irmã, um grupo de skin heads espancando uma velhinha negra, alguma coisa assim que justificasse aquele “Não recomendado para menores de 18 ANOS”. Quando o primeiro filme começou (eram 2) fiquei indignado com o que vi. Se tratava do curta “O diário aberto de R.” cuja sinopse posso resumir assim: um adolescente com uma paixonite idílica e quase patética pelo seu colega de classe que se senta à sua frete na escola. Ponto.” Nem malhação – classificação livre -é deste jeito. Claro que o documentário era infinitamente superior à malhação. Outro motivo para não se justificavar aquela classificação.

Dei um giro pelos canais para ver a média dos programas do horário e me deparei com outro “18 anos” (parece coisa de uísque). Tratava-se de Oz(que retrata o cotidiano “barra-pesada” de uma prisão norte-americana). Se eu já achava um exagero Oz (SBT) só ser recomendado para maiores de idade, imagine aquele documentário. Branca de neve é pornografia na frente dele [do diário de R.]. Porque pelo menos nos contos de fadas ocorre o beijo no final. E no documentário em questão nem sei quer há 1 toque entre os personagens.
Imediatamente lembrei de Guilherme de Almeida Prado falando , quando da produção de “Onde andará Dulce Veiga?, falando que não existe diferenciação na classificação indicativa dos filmes para o cinema entre cenas homo ou heteroeróticas. O que vai definir a classificação, e é o que se espera de um Estado Democrático de Direito, é o teor da cena.

No caso do diário de R. o termo “relação homoerótica” nem se aplica. Deduz-se então que a emissora os “18 anos” pelo simples fato de se tratar possivelmente de um filme que tematiza a paixão por um ser do mesmo sexo. Se for assim, os classificador da TV Brasil (ressalto, para mim uma das melhores tvs brasileira) ao tentar salvar a idoneidade moral de nossas criancinhas, neste caso específico, e não sei em quantos mais, sub-repticiamente e não sei até que ponto consciente, exerceu uma flagrante descriminação travestida de “ato educativo”.