Passado o fim de semana. Há de se juntar os cacos e seguir em frente. Cacos de cansaços mesmo. Nítidos. Não tenho mais aqueeeeeeeeeele pique que me permitia varar uma quinta à noite e chegar sexta pela manhã inteiro no estágio (veja que ainda era época de estágio).
Escolho um causo. Conto:
Último fim de semana. Sábado. Interna/madrugada. Local: Music Box (o semi-pub mais descolado de Fortal pós-fechamento-do-Noise3d). Discotencando, dentre outros: Guga de Castro. É festa anos 80 (!) Não os 80’s de Menudo, Sara Jane, Balão Mágico e Cavalo de Fogo (que eu até curto... mas já deu o que tinha que dar né?). Era a outra face da década de economia e pessoas perdidas. E não me olhe com esta cara. Eu estava apenas nas fraudas (ou saindo delas). Eram os 80’s de THE CURE, ERASURE, R.E.M, PET SHOP BOYS, etc., etc. Todo o ritual completo: Tequila pré, Beijar boca durante, pseudo-troca de telefones depois (pra quê eu não sei). Mas não quero falar dessas trivialidades. O que me chamou a atenção foi a discotecagem de duas músicas. Que a minha semi-consciência permitiu captar.
Contextualização: Na entrada recebemos (sim no plural, porque fui com quatro amigos . Alguns sem ver há tempos, eu sumido, stanger recluso) um apito para vetar as músicas gongáveis e gongantes. A noite iniciou-se com o Funk carioca bem anos 90’s, pra ser preciso (porque a memória é phoda para essas coisas) 1994: “eu só quero é ser feliz...” Apitei imediatamente com metade da casa. A outra metade permaneceu curtindo a música. Nada contra. Mas não era para ser uma festa 80’s? E com um moralismo disfarçado o DJ projetou o preconceito dele chamado os “APIANTES” de racista, blá blá,blá. Me poupe daquela Síndrome de pequena-burguesia. Desencargo/lavagem de consciência como retratou Sérgio Bianch em seu indispensável “Quanto vale eu é por quilo?”. Cazuza (que adoro) no pior momento: “sou rico mas eu sou artista e também cheiro mal. Estou do lado do povo”. Me poupe [sem exclamação, notem].
Lá, no meio do Funk, do dance floor me vem à mente duas imagens. Uma foto e uma citação. Primeiro o anúncio Clavin Klein com o modelo Djimon Hounsou:
Segundo, uma citação que completa a imagem:
Houve a total reversão da visibilidade do corpo masculino negro, em que algumas imagens [ou músicas] do homem negro se deslocam notavelmente do gueto das drogas para as capas das revistas de moda [ou pistas de dança burguesas], enquanto seus corpos verdadeiros permanecem basicamente onde sempre estiveram [um número excessivo deles na cadeia].(*)
Ponte aérea das favelas cariocas para a pista de dança. Mas não, não havia nenhum negro naquela noite, no Music Box. E sim, eu já andei pelo mundo vendo doer a fome dos meninos [sempre negros] que têm fome. Ao vivo, imoral, escandalosa.
A outra perplexidade: Marina (ícone 80’s, musa das pistas) gongada do início ao final da música. O DJ, neste caso, sábio ao tratar do que ele realmente entende, insistiu e levou a dançante cantora carioca até o final, ora mais que absurdo!
“Mas os momentos felizes não estão escondidos nem no passado nem no futuro!”
(*)Hazel Carby citado por Stuart Hall em “Da diáspora”.