sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Tópico (II) sem sentido ou “David Lynch chaga ao Brasil.”
David Lynch cruzou pela primeira vez a linha do equador. Aterrissou no Brasil e, avisado quase de madrugada de sua presença aqui, assisti sua entrevista no jornal da Globo. Está mais velho do que eu o imaginava, mas ainda conservado e estranhamente místico, Iogue.
Para mim e minha pobreza de interpretativa um filme de David Lynch é a criação humana que mais se aproxima de um sonho. Pelo menos dos meus sonhos. Sejam eles excitantes, paralisantes, amorosos, claustrofóbicos, mas sempre sonho. Inconsciente.
Neles [nos sonhos e nos filmes] é possível desde o voyeurismo improvável que nos permite ver Isabela Rosseline nua através das frestas de um armário em “veludo azul”, passando pelo desespero da troca súbita de identidade social em “cidade dos sonhos” e chegando naquele desespero in-clas-si-fi-cá-vel das quase três horas de “Império dos sonhos”.
Não é para todos os gostos. Assistir Linch no cinema é ver também um festival de encenações do público, algumas bizarras: uns desistem e vão embora, outros desistem mas permanecem é possível ver ainda a impaciência, pessoas se contorcendo nas poltronas, procurando uma posição confortável diante do irremediável também desconfortável que passa na tela, outros casais inspirados nas excentricidades do diretor americano arriscam em plena sessão semi-vazia uma “mão amiga”. E só é possível ver tudo isso porque é impossível permanecer 100% ligado no que o diretor filma.
Um excessivo esse David Lynch. Ainda bem.