Mas antes disso eu já havia ouvido falar do diretor polonês. Ainda em 1995 soube que o cineasta recém-falecido deixara a sua última obra em vida completa: “A fraternidade é vermelha” (filme que finaliza aquela trilogia e que finalmente assisti ontem, me motivando a escrever este post).

A fraternidade é vermelha faz parte da trilogia das cores que também contém: “A liberdade é Azul” (com a belíssima Juliette Binoche); “A igualdade é branca” (e com a não menos bela Julie Delpy – é sempre bom lembrar, a Celine, o par romântico de Jesse Wallace em “Antes do amanhecer”).
Mas voltemos aos primeiros Kieslowiski. Afinal, o primeiro a gente nunca esquece. Posso dizer que foi Kieslowiski quem me apresentou àquilo que chamam de “cinema europeu”. Definitivamente um termo incompleto e até equivocado. Pois é no mínimo estranho colocar sob o mesmo guarda-chuva cinemas tão díspares quanto os de Danny Boyle, Igmar Bergman, Bertolucchi, etc. Mas, abstraídas as galopantes diferenças, é impossível negar a distinção óbvia do clima “estético” destes cineastas em relação ao “cinemão norte-americano”.

Bem, não é de uma afirmação totalmente é falsa, pois quem se apega ao clima de suspense que perpassa o cotidiano da maioria dos personagens acaba se decepcionando: não é um filme de Supercine. Quem se apega à temática amorosa e espera finais felizes fáceis e cinderelescos também se frustrará. Krzysztof Kieslowiski não é nada óbvio. E isto não quer dizer que ele seja pedante, intelectualóide ou “filosófico” demais. Na verdade, o cineasta polonês tenta romper a camada do verniz automático e cotidiano lançando olhares hipnóticos a partir de uma direção de fotografia que, apesar do termo clichê, não consigo adjetivas de outra forma, É PURA POESIA.
Krzysztof Kieslowiski está para o cinema assim com Virgínia Woolf está para a literatura, no sentido dado pelo Crítico de arte José Arantes:

“a força da imaginação transfigurada em linguagem, em geral mais por poetas que por romancistas, mas que em Virgínia é fundamental para comunicar um halo luminoso, um invólucro semitransparente que nos cerca do princípio ao fim da consciência”.
Dez anos me separavam da última vez que tinha visto um Kieslowiski. E posso dizer, após ver “a fraternidade é vermelha” , que a frase acima é a melhor síntese da obra do cineasta. Ele capta, como poucos, este halo luminoso, este invólucro semi-transparente, estas pequenas epifanias que te cercam, que nos cercam.