terça-feira, 4 de novembro de 2008

RENT, RENT, RENT...

Fui assistir hoje (DOMINGO) “Evening – ao entardecer”(cinema). E logo após emendei com a adaptação cearense de Rent (teatro). Faço um corte na narrativa moderna e salto para Rent.

Após Evening... como se diz no Psicodrama... mobilisadíssimo... parti ALONE - deixando amigos, conhecidos e recém-conhecidos - para o teatro do SESC em pleno domingo a noite. Um encontro marcado com Angel, Mimi, Morine, e cia.

Narrativa fragmentária. Flashback: volto aos anos 1990.

Não lembro o ano em que ouvi falar pela primeira vez em “Rent”. Mas lembro aonde: no extinto programa “Flash” do Amaury Jr. (para alguma coisa esse programa tinha que servir). Paixão. Na ocasião o citado apresentador fazia um tour pelos musicais em cartaz na Broadway.

Os anos passariam e eu ainda ouviria falar vagamente da adaptação brasileira, mas sem esperança de que subisse para cá. Afinal, quase nunca elas sobem. Pois bem, mais alguns anos se passariam quando de repente, já em 2006, em pleno cinema do Dragão, sou surpreendido com o cartaz DO FILME “A seguir: Rent – os boêmios”. Odiei de cara o subtítulo. Para chamar público, concluo. Rent acabou não entrando em cartaz nos cinemas de Fortaleza, apesar de, estranhamente eu ter lido uma crítica (ruim) sobre o filme no jornal “o povo”. E meio que como uma mágica- porque temos obrigações a cumprir, relatórios a produzir e dissertações a escrever – o filme acabou indo para aquele local meio “stand by” da memória. Esquecido.

Mas ele voltaria: Setembro, noite de Fortaleza, 2008, em meio ao “looking around”, cervas e a típica sensação gostosa de estar rodeado das companhias que você mais ama neste mundo, Ailson me fala que comprara o DVD do filme. Escuto, avalio, as hora passam, os dias passam. Pego emprestado.

À primeira vista “Rent” me desagrada. Como já falei no post anterior, acho o filme datado, muito anos 1990, numa época em que portar HIV era uma sentença, instantânea de morte naquela Nova York que se mobilizava para combater a epidemia que varreria a cidade (vale ler uma das primeiras obras de ficção que tocam no tema da emergência desta rede de solidariedade, estou falando de “Assim vivemos agora” de Susan Sontag). Enfim, passei por Rent (o filme) incólume, a adaptação não havia deixado nenhuma marca (apesar da afinadíssimas atuações) e segui minha vida.

Outubro: Mais tempo passa, chega um outro sábado. Este em casa: entediado e Zapeando na tv, vejo pastores, Serginho Groisman, Karine alexandrino, os detentos de Oz, Angel, Deputados... pera aí? Angel? Retorno o cana, sim era o Angel na TV diário! Cearensemente proferi um gravíssimo: quediabéisso! Assisti excitado o chatíssimo programa. E ao final, uma garota falaria da montagem(!) de Rent (!) no Ceará (!) Tenho que ir. Reviro meus dvds, acho, Rent, re-vejo. Sou fisgado na segunda assistida.

Dias passam, outro susto tomo quando, nos corredores da UECE, vejo os cartazes (superbemproduzido – repare a ausência de hífens) da peça. Corro, computador. Pego datas, me planejo para assistir no sábado, mas no sábado tinha o show do Marcelo Camelo no dragão. Reprogramo, então, para o Domingo.

Domingo: Sozinho, mas à vontade chego ao teatro (o mesmo onde conheci Caio F., me lembro agora). Uma multidão faz uma fila que ganha a rua. Vide foto:

(Entrada do teatro Sesc Emiliano Queiroz - Foto minha)
Na fila, estou extremamente apreensivo, mais pelo medo de estar no centro da cidade, sozinho, num domingo à noite, que exatamente pelo espetáculo. Minto, também era por conta do espetáculo. Mas confesso, não relaxei um único minuto, antes, durante ou depois da peça por conta das violências das ruas. Então preciso assistir de novo a peça. Sem stress.

Na platéia: Senta ao meu lado um adolescente espinhento super nervoso por estar no meio de “acadêmicos” (a peça é produzida pelo grupo de TEATRO da UNIFOR e ele imaginava, corretamente, que ali só havia pessoas da “universidade”). Muito engraçado. Fiz a sala, disse pra relaxar, enquanto ele repetia e repetia “não sei o que estou fazendo aqui!”. Como tenho sempre um pé no passado (ascendente em Câncer) me lembro imediatamente dos 15 anos que um dia eu tive: fazendo cursos de arte no BNB com aposentados desocupados, indo ver Zenon no MAUC, tentando me inserir no “mundo adulto”.
Visivelmente inquieto o jovem avança, fala de livros, faz uma divagação adolescentes sobre “A metamorfose”. Digo que larguei “O processo” na metade por pura falta de tempo e recomendo: “se você gosta de Kafka você tem que ler Clarice Lispector”. Ele rebate confessando que não sabe se vai prestar vestibular para física ou letras. Recomendo também Caio F., e digo que se ele gostar da peça deve procurar pelos livros daquele escritor, bem como assistir o filme “Rent”.:
__Esse autor eu não conheço. – disse ele. Não me surpreendo.
__ É um escritor gaúcho.
__Como é o nome dele? Carlos...
__Caio Fernando Abreu
__Há sim, Caio Fernandes Abreu
__Não, Caio FERNANDO Abreu.
__Ok vou procurar.

(minha cena favorita no filme)
Abandono meu papel de anfitrião e tento imergir no clima da peça (que, obviamente, ainda não começara). Dou uma olhada na direção de arte do espetáculo: perfeita (guardadas as limitações e proporções do teatro). Só fiquei triste porque não consegui o programa da peça. Os atores circulam pelas bordas do teatro. Sobre os figurinos, achei-os super NYC.

Da peça: É sempre muito estranho ver um texto “pop” americano interpretado por brasileiros. A mesma estranheza senti quando vi “Aperitivos” de Mark Harvey Levine (dramaturgo californiano) interpretados por um grupo de Curitiba. Dentre as muitas referências incomuns aqui pela terra brasilis, os nomes da personagens, sejam Morine, Judy, Leory ou Terry são sempre muito inverossímeis. Eles te dão um tapa cada vez que são pronunciados, te trazem de volta à realidade e te dizem: isso aqui é uma peça americana e não está acontecendo de verdade. Ou seja, meio que quebra aqueeeeeeeeela magia do teatro. Mas, que se há de fazer?

Contudo, é preciso dizer, enfatizar, grifar e subscrever: nada disso diminui o espetáculo, que no todo é muito bom e que visivelmente agradou ao público, inclusive a mim.

Mas agora vou dormir, continuo depois.

Ah sim, faltou uma coisa:
Na ida para casa: medo de furtos, roubos, homicídios e latrocínios. Cotidiano da metrópole. Mas, como é possível perceber, cheguei são e salvo. E cá estou eu, indo escovar meus dentes.

“How do you measure a year IN A A LIFE? In daylights? In sunsets? In moonlights? In cops of coffe? Measure it in love”